Pagamento por aproximação oferece praticidade, mas acende alerta contra golpes
Modalidade ganha força entre paraenses que elaboram estratégias para se proteger
O pagamento por aproximação conquista consumidores e empresários pela rapidez e praticidade. No entanto, a nova tecnologia ainda preocupa usuários, devido à possibilidade de golpes, como o roubo de dados e a clonagem de cartões durante a transação. Igor Gammarano, professor paraense de cursos de tecnologia e pesquisador da área de marketing tecnológico, explica, que, embora o mecanismo tenha um sistema de segurança planejado, não descarta a necessidade de cuidados no uso. “É essencial compreender que a segurança não é exclusivamente um atributo da tecnologia, mas da relação que estabelecemos com ela”, afirma o professor.
Os pagamentos feitos com essa modalidade, no Brasil, somaram R$ 1,5 trilhão, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). No Pará, os consumidores se adotam concordam com a eficiência do sistema, mas adotam quase a mesma medida para se precaver: priorizar o celular ao invés do cartão físico. Isso porque a função pode ser utilizada em ambas as ferramentas.
Matheus Tavares, profissional de marketing paraense, relata que sua irmã já sofreu uma tentativa de golpe enquanto pagava por aproximação com o cartão físico. “Uma vez minha irmã quase cai num golpe. O cara aproximou uma maquininha por trás dela porque "viu" o cartão no bolso. Ele tentou passar R$ 1.500, mas não passou por conta do limite dela”, lembra. Agora, ele prioriza o uso do celular para as transações sem contato e sempre mantém a atenção redobrada em locais com um fluxo grande de pessoas.
Após o ocorrido, a irmã de Tavares verificou se o seu saldo foi consumido e contactou banco para aumentar a segurança do cartão. Essa vigilância se amplia com recursos como senhas digitais e identificação facial, habilitada no próprio aparelho celular, o que justifica a preferência do dispositivo em relação ao cartão físico.
O publicitário Igor Almeida também só usa as transações por aproximação através do celular como mecanismo de segurança. Ele adota e defende a ferramenta principalmente pela sua praticidade, mas, por segurança, migrou para o uso somente pelo celular.
“Uso desde quando lançou primeiro no cartão físico e após descobrir o NFC no celular achei mais prático ainda. Agora, costumo usar somente no celular, mas coloco senha e evito deixar meu aparelho na mão de terceiros”, explica Almeida sobre seu uso.
Como funciona?
De maneira resumida e mais técnica, a tecnologia contactless (‘Sem contato’ em português) emite ondas de rádio de curto alcance entre dois dispositivos compatíveis, nesse caso, o terminal de pagamento e o dispositivo aproximado. Gammarano explica que o mecanismo se baseia em uma série de camadas de segurança, pensadas para servir em uma única transação por vez. Ou seja, mesmo que os dados de uma fossem capturadas, não seriam úteis para outra coisa, segundo o pesquisador.
“O diferencial técnico está no uso de tokens dinâmicos: a cada transação, um código único é gerado, substituindo os dados reais do cartão e impedindo que essas informações sejam reutilizadas em golpes subsequentes”, detalha.
Ele reconhece a fragilidade maior do cartão física nessa modalidade, entretanto, já existem recursos como, por exemplo, “a limitação de valores para transações sem senha, monitoramento de fraudes pelas operadoras e bloqueio imediato ao menor sinal de comportamento anormal”. No caso dos celulares, o pesquisador destaca um nível de segurança maior, reflexo de camadas extras de proteção como: autenticação por biometria, senhas, reconhecimento facial e os sistemas operacionais das carteiras digitais, que utilizam chips de segurança internos e ambientes de execução isolados para proteger as credenciais de pagamento.
Uso consciente
Na avaliação do pesquisador, é o uso consciente, apesar das medidas de segurança técnicas, que vai definir de fato a experiência do usuário como boa ou não. Isso porque, como ressalta, “os riscos ainda existem e não devem ser subestimados”. Os casos mais comuns para ter cuidado incluem: furto ou perda de cartões sem bloqueio imediato, tentativas de clonagem em terminais comprometidos e golpes de engenharia social que visam enganar o usuário para obter acesso a dispositivos ou informações sensíveis.
“Uma dúvida recorrente é se alguém poderia capturar dados apenas por se aproximar fisicamente da carteira ou celular de outra pessoa. Em teoria, isso é possível em cenários muito específicos, como o uso de leitores clandestinos muito próximos ao cartão em ambientes lotados, mas, na prática, é extremamente raro, pois a criptografia dos dados e a limitação de alcance do NFC tornam essa abordagem ineficaz e facilmente rastreável”, exemplifica Gammarano.
O que fazer se cair em golpes?
Nas situações em que os usuários sejam lesados durante essas transações financeiras. O presidente da Comissão de Apoio à Advocacia Criminal e Júri da Ordem dos Advogados do Pará (OAB-PA), Paulo Nascimento, explica, que, nesses casos, existe a possibilidade do direito do ressarcimento, “mas em compensação existe uma dificuldade para que isso aconteça”. Segundo ele, os bancos são obrigados a assumir a responsabilidade pelos danos aos usuários em algumas situações, como estabelece a Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“A Súmula 479, ela diz que o banco responde objetivamente, sim, porém, para que você tenha esse resultado objetivo do banco, você tem que provar que a culpa foi do banco. Então, aí está a dificuldade. É o consumidor provar que ele não teve responsabilidade pela compra feita”.
Para alcançar o ressarcimento é necessário tomar alguns cuidados. São eles: limitar valores para transações sem senha, sempre monitorar o extrato bancário, em especial após eventos de multidão e, caso, constatada a violação, contacte imediatamente o banco e procure uma delegacia para fazer uma ocorrência policial.