Fugir do perfeccionismo pode aumentar felicidade e produtividade

Cobrança excessiva pode travar ações, adiar decisões e gerar insatisfação constante com o próprio desempenho

Thaline Silva

"Sou perfeccionista." Essa declaração, tão comum em entrevistas de emprego, costuma soar como um elogio a si mesmo. Ao invés vez de parecer um defeito, a frase comunica dedicação, atenção minuciosa e uma suposta busca pela excelência.

Contudo, o cenário muda quando o perfeccionismo deixa o ambiente das entrevistas e passa a fazer parte da rotina diária. Fora daquele contexto controlado, ele deixa de ser admirável e passa a se tornar um peso — muitas vezes invisível, mas difícil de carregar.

A cultura da exigência constante

Desde pequenos, somos condicionados a dar sempre o nosso melhor. Essa lógica se repete na escola, no trabalho, nas relações interpessoais e até nas atividades de lazer. A ideia de que algo só tem valor se for feito com perfeição se tornou tão forte que muitos acabam se cobrando com exagero.

Mas essa cobrança excessiva nem sempre produz bons resultados. Na prática, o perfeccionismo pode travar iniciativas, adiar decisões e gerar uma sensação constante de insatisfação com o próprio desempenho.

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Quando o perfeccionismo atrapalha mais do que ajuda

O autor Chris Guillebeau, em um artigo para a CNBC, descreve o perfeccionismo como um sistema de crenças limitante. Ele não é apenas um hábito negativo — é uma forma de pensar que dificulta até mesmo tarefas simples e sabota a sensação de progresso.

Como alternativa, Guillebeau propõe uma abordagem contraintuitiva: permitir-se fazer algo “mal feito”. Isso não significa defender o desleixo, mas sim romper com a obsessão de que tudo precisa estar impecável antes de ser compartilhado. Essa postura libera energia e permite que o foco esteja no que realmente importa, em vez de consumir tempo com detalhes que só nós percebemos.

O valor de entregar mesmo sem perfeição

O autor e empreendedor Seth Godin reforça essa ideia com o conceito "Just Ship" — algo como "simplesmente entregue". No livro Linchpin, ele argumenta que produtividade verdadeira está em concluir tarefas. Esperar pelo momento perfeito pode significar, na prática, nunca realizar nada.

Esse comportamento acaba engavetando boas ideias por medo, insegurança ou autocrítica exagerada. Para Godin, mais importante do que buscar a perfeição é manter o movimento: entregar, aprender, melhorar e continuar.

A coragem de ser imperfeito

A pesquisadora Brené Brown, referência em estudos sobre vulnerabilidade, compartilha a mesma visão em seu livro A Arte da Imperfeição. Para ela, o perfeccionismo é uma armadura usada para evitar julgamentos e rejeições. No entanto, esse tipo de proteção tem um custo alto: dificulta conexões genuínas e impede que sejamos verdadeiros com os outros.

Segundo Brown, aceitar nossas imperfeições é um ato de bravura. Ao reconhecermos que somos falhos, damos espaço ao aprendizado, à evolução e a relacionamentos mais autênticos. Mostrar-se imperfeito não nos enfraquece — na verdade, nos torna mais humanos, empáticos e fortes.

Excelência ou prisão?

É importante destacar que aceitar imperfeições não significa abandonar o cuidado ou o empenho. A diferença entre buscar excelência e viver preso a um ideal inatingível é enorme.

Enquanto a excelência nos impulsiona, o perfeccionismo pode nos paralisar. Aceitar o "suficientemente bom" não é sinal de mediocridade — é uma forma saudável de seguir em frente com mais equilíbrio, sanidade e eficácia.

Agir mesmo sem garantias

A crença de que algo só tem valor se for perfeito é um mito que precisamos desaprender. A vida, o trabalho, a criação e os relacionamentos envolvem erros, falhas e incertezas. Aguardar o cenário ideal ou a performance impecável pode nos impedir de viver plenamente.

Avançar mesmo com receio ou incerteza é o que permite o progresso. E, como diz uma versão moderna de um velho ditado: feito é melhor que perfeito.

Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Mirelly Pires, editora web de OLiberal.com

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