Pará contabiliza 466 diagnósticos de câncer infantojuvenil em 2025; leucemia lidera ocorrências
Neste domingo (23), o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil reforça o alerta de médicos sobre a importância da atenção e dos cuidados com a saúde de crianças e adolescentes
O Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, celebrado neste domingo (23), reforça a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. No Pará, o alerta ganha ainda mais peso: em 2025, o estado registrou 466 casos de câncer infantojuvenil, entre crianças e jovens de 0 a 19 anos, com a leucemia sendo o tipo mais frequente entre o público de 0 a 14 anos, segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
O número, contabilizado até 11 de novembro, é menor que o registrado nos anos anteriores: foram 637 casos em 2024 e 539 em 2023. Segundo a Sespa, a partir dos 15 anos os carcinomas de tireoide passam a ser os mais prevalentes. Entre a população infantojuvenil, porém, os tipos mais frequentes são a leucemia linfóide (197 casos em 2025, 278 em 2024 e 249 em 2023), a neoplasia maligna de outras glândulas endócrinas e estruturas relacionadas (39 casos em 2025 e 97 em 2024) e a neoplasia maligna de outras partes ou não especificadas da língua (25 casos em 2025, 28 em 2024 e 27 em 2023).
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Segundo a secretaria, as unidades de atenção básica, por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF), são a principal porta de entrada para identificação de sinais suspeitos da doença.
“Quando há indicação, os pacientes são encaminhados para a triagem oncológica estadual, realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA). Se a suspeita for elevada, o encaminhamento é feito para uma das unidades de referência: o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Belém) e o Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Penna (Santarém)”, declarou em nota.
Ainda de acordo com a secretaria, campanhas são desenvolvidas com frequência para a atenção ao diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil. “Desde agosto deste ano, a Sespa, em parceria com o Instituto Ronald McDonald e com chancela da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, desenvolvendo campanhas para o diagnóstico precoce. A iniciativa contempla, principalmente, unidades de Atenção Básica da Região Metropolitana de Belém e envolve dezenas de profissionais de saúde, com o objetivo de fortalecer a identificação precoce da doença e reforçar o funcionamento da rede de média e alta complexidade no estado”, completou.
Médica orienta atenção para o diagnóstico precoce
Quando uma criança apresenta algum sintoma, o câncer dificilmente é a primeira hipótese dos pais. Ainda assim, a oncologista pediatra Alayde Vieira reforça a importância de atenção redobrada e da observação cuidadosa dos sinais que podem indicar a doença, facilitando o diagnóstico precoce.
“Os primeiros sinais do câncer infantil podem se confundir com doenças comuns da infância. Entre os alertas estão: febre persistente por mais de 15 dias sem causa aparente, perda de vitalidade, manchas roxas e pintas vermelhas sem trauma, sangramentos e palidez progressiva. Também observamos aumento do volume abdominal, perda de peso sem explicação, dores que começam localizadas e vão se espalhando, além de irritabilidade, vômitos e dores de cabeça que acordam a criança à noite. A regressão de marcos do desenvolvimento é outro sinal importante. Nos tumores ósseos, a criança costuma apresentar dor localizada e progressiva que não melhora com analgésico ou massagem, junto com aumento do membro afetado”, explicou.
Ainda segundo a médica, a leucemia não é apenas o tipo de câncer mais frequente no Pará, mas também um dos mais perigosos, porque pode surgir de forma inesperada. Por isso, ela ressalta a necessidade de acompanhar de perto a saúde das crianças, com consultas regulares e exames frequentes.
“O câncer infantil mais comum são as leucemias agudas. Mesmo que toda mãe ou todo pediatra façam hemogramas frequentes, ela surge inesperadamente, podendo aparecer no intervalo de um hemograma para o outro. Então é um desafio para os pais ficarem atentos, realizando consultas periódicas, com pediatras atentos a qualquer alteração de hemograma que acometa mais de duas séries do hemograma, é preciso prestar atenção ao que pode ser um sinal bem precoce de leucemia”, afirmou.
A oncologista explica ainda que é comum confundir os sintomas de leucemia com dengue, por isso é necessária a atenção redobrada. “A leucemia, na nossa região, pode ser confundida com a principal arbovirose urbana, que é a dengue, porque ela dá febre, dor óssea, a criança fica mais astênica, que é o mufino, ela pode causar anemia, com plaquetas e leucócitos mais baixos. Mas ela é auto-limitada, em 15 dias se resolve, mesmo nos casos da dengue hemorrágica, que eu falo que pode dar essa alteração laboratorial com a plaqueta mais baixa. Enquanto a leucemia, ela é progressiva”, explicou.
Outros tipos de câncer comuns em crianças e adolescentes também precisam de atenção, segundo a doutora Alayde. “Não podemos esquecer dos linfomas, que se manifestam pelo aumento progressivo dos gânglios linfáticos. O normal é que tenham o tamanho de um grão de arroz, mas quando crescem sem dor, sem vermelhidão e não desaparecem, especialmente no pescoço e na região supra ou infraclavicular, precisam ser investigados, pois podem ser sinal indireto de câncer infantojuvenil. No caso dos tumores cerebrais, em pré-adolescentes e adolescentes, também podem surgir mudanças de comportamento e humor. Muitas vezes, o jovem fica mais isolado, e os pais associam a outros fatores, mas isso pode estar ligado à localização do tumor no cérebro”, disse.
Tratamento
O tratamento do câncer infantil varia conforme o caso, mas, segundo o oncologista clínico Rodnei Macambira, a quimioterapia segue sendo a abordagem mais utilizada.
“Os tratamentos mais utilizados para o tratamento do câncer infantil ainda perpassam muito pela quimioterapia, que são quimioterapias em altas doses. Mas, diferente de vários cânceres da idade adulta, temos ainda radioterapia e um papel grande ainda da quimioterapia cirúrgica localizada, que é feita por cirurgião especializado em pediátricos e cirurgião oncológico. Também temos adventos de algumas imunoterapias em alguns tratamentos de tumores infantis e terapias-alvo”, explicou.
Segundo o médico, o tratamento é ainda mais desafiador tanto pelo difícil acesso, especialmente para quem vive em cidades menores, onde há poucos especialistas, quanto pelos efeitos colaterais, que tornam o processo ainda mais delicado para as crianças.
“As maiores dificuldades no tratamento do câncer infantil no Brasil ainda envolvem o acesso. Temos poucos centros especializados e uma carência de profissionais dedicados à área, o que faz com que grandes centros concentrem pacientes de várias regiões, especialmente de cidades menores. Isso dificulta o manejo e o acompanhamento adequado. Quanto ao tratamento, o manejo dos efeitos colaterais é parecido com o do câncer em adultos, exigindo prevenção e antecipação de sintomas da quimioterapia, radioterapia e cirurgias. A diferença está nas particularidades das crianças, como ajustes de dose e especificidades das terapias”, afirmou.
Para o especialista, oferecer um cuidado integral é fundamental no enfrentamento do câncer infantil. “Cada vez mais os pacientes oncológicos devem ser vistos como pacientes com uma história de vida, uma história de superação e isso vem sendo muito bem trabalhado. E quando a gente consegue compreender o paciente além da doença, a gente consegue oferecer ao paciente um tratamento e um manejo oncológico muito melhor”, finalizou.
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