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Outubro Rosa: exames e diagnóstico precoce são essenciais para salvar vidas

A pedagoga Carlena Gama foi diagnosticada com câncer de mama em estágio inicial e conseguiu realizar um tratamento bem-sucedido; Em 2025, o Pará registrou 349 casos da doença

Andréia Santana | Especial para O Liberal

Ao se preparar para uma cirurgia plástica reparadora após a bariátrica, a pedagoga Carlena Gama, de 55 anos, foi surpreendida pela descoberta de linfonodos alterados na axila. Seguindo a recomendação médica, passou por diversos exames e, em janeiro de 2022, recebeu o diagnóstico de câncer de mama em estágio inicial. Três anos depois, em remissão e próxima da cura definitiva, ela atribui o sucesso do tratamento ao diagnóstico precoce e reforça a importância do “Outubro Rosa” na conscientização sobre a realização regular de exames preventivos.

“Na hora em que fiz um raio-X, foram detectados linfonodos na minha axila. Então, a médica disse haver algo diferente e falou para eu procurar um mastologista. E, de lá mesmo, na clínica, já marquei uma consulta e, graças a Deus, consegui para o dia seguinte. A princípio, a gente passa por todos os processos, mas, de início, eles tentam nos tranquilizar, dizendo que pode ser só uma infecção, uma inflamação ou outra explicação para os linfonodos, até chegarmos ao diagnóstico final. E é uma luta muito grande”, contou a pedagoga sobre a descoberta.

Segundo Carlena, a aceitação é a etapa mais difícil após o diagnóstico, e contar com uma rede de apoio é fundamental para seguir em frente com o tratamento, já que a doença pode ser, muitas vezes, uma jornada solitária.

“A principal e primeira parte [mais difícil] é a aceitação. Como sou uma pessoa de muita fé, nunca perguntei para Deus ‘por que eu’, mas ‘para que eu?’. E é um processo: até você digerir, você olha, vê seus filhos em fase de crescimento, em fase de faculdade. É uma doença muito solitária, por mais que você tenha uma rede de apoio, é muito solitária. Você acorda de madrugada pensando se o organismo vai resistir, se vai dar conta, até onde vou conseguir”, explicou.

“Mas fui me alimentando da minha rede de apoio, que são a minha família e meus amigos, fui buscando forças na minha fé e na equipe médica, a qual escolhi, e encontrei médicos muito empáticos. Hoje, tenho muito orgulho de dizer que faço parte da maior geração sobrevivente de câncer de mama”, completou.

Agora, após um tratamento bem-sucedido, Carlena está em remissão, no terceiro dos cinco anos necessários para um paciente ser considerado “curado” do câncer, um marco estatístico que representa uma queda significativa no risco de a doença reaparecer.

“Sempre digo que, pela minha fé, estou curada; pela ciência, estou com três anos, ainda faltam dois anos para receber alta definitiva. Estou naquele processo de exames de controle a cada três meses. Como tive uma suspeita de metástase em janeiro, fiz um PET scan, um exame que faz uma ‘varredura’ no corpo para saber se está tudo bem, mas não foi detectada metástase nas partes ósseas do meu corpo, está tudo normal. O correto é, durante esses cinco anos, a cada três meses, fazer consultas de rotina, de controle, com exames de imagem e exames laboratoriais, que são marcadores tumorais. Esse controle permite perceber se a doença está sob controle. Daqui a cinco anos, se estiver, receberei alta definitiva e irei às consultas a cada seis meses, depois a cada ano. Mas creio, pela minha fé, que já estou curada”, contou.

Para Carlena, embora a campanha do “Outubro Rosa” seja fundamental para a conscientização, as mulheres não devem esperar somente por esse mês para realizar seus exames preventivos.

“Eu descobri no estágio bem inicial. Digo que o Outubro Rosa tem que ser todo mês, porque não dá para esperar só outubro para se tocar ou para fazer uma campanha incentivando as mulheres a procurarem a mamografia. Às vezes, quando a gente procura somente no Outubro Rosa, [o câncer] já está bem avançado. Então, sempre digo, em todas as palestras em que sou convidada, que o Outubro Rosa é de todo mês. Todo mês é mês de se tocar, porque o diagnóstico precoce salva vidas”, afirmou.


 

Mamografia é essencial a partir dos 40 anos

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), entre janeiro e agosto deste ano foram registrados 349 casos de câncer de mama no estado, dos quais 76 ocorreram em Belém, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma). O número representa uma redução em relação ao mesmo período dos anos anteriores: em 2024 foram contabilizados 545 casos no Pará e 169 na capital; já em 2023, foram 702 no estado e 185 em Belém.

Dos casos registrados neste ano, 83 ocorreram em mulheres com idade entre 40 e 49 anos. Nos anos anteriores, essa faixa etária contabilizou 226 registros em 2024 e 268 em 2023. Em setembro, o Ministério da Saúde anunciou que mulheres nessa faixa etária, que concentra cerca de 23% dos casos em todo o Brasil, terão acesso à mamografia pelo SUS mesmo sem sinais ou sintomas da doença. No Pará, os exames podem ser realizados em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS) e, caso seja identificada alguma suspeita, a mulher é encaminhada para as policlínicas ou unidades de referência com atendimento em mastologia oncológica, como a URE - Casa da Mulher, em Belém. Segundo o mastologista Marcelo Campos, de Belém, a mamografia continua sendo o método mais eficaz para a detecção precoce do câncer de mama.

“A mamografia é o melhor exame para rastreamento do câncer de mama, e sua realização sequencial reduz a mortalidade em 25%. O rastreamento mamográfico anual a partir dos 40 anos é recomendado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, pelo Colégio Brasileiro de Radiologia, pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e, agora, pelo Ministério da Saúde. Após os 70 anos, não há dados suficientemente conclusivos que mostrem benefício desse rastreamento”, explicou.

Outra forma bastante conhecida de identificar alterações nas mamas é por meio do autoexame, quando a própria mulher faz a palpação cuidadosa da região e pode perceber a presença de nódulos ou mudanças que levantem suspeita da doença. No entanto, segundo Marcelo Campos, o autoexame não deve ser utilizado como método de diagnóstico.

“O autoexame das mamas não é indicado para diagnóstico do câncer de mama e não reduz a mortalidade, mas pode ser importante em localidades com limitação de recursos financeiros. O procedimento detecta nódulos palpáveis, sangramentos pelo mamilo, espessamentos ou mudanças de coloração da pele. Caso seja notada alguma alteração, deve-se procurar avaliação médica o mais breve possível”, afirmou o médico.

O mastologista explicou ainda a melhor forma de realizar o autoexame, quando necessário, e o que observar: “Em frente ao espelho, é importante observar as mamas primeiro com os braços ao lado do corpo e depois com os braços erguidos, procurando por sinais como nódulos duros e fixos que podem crescer rapidamente (inclusive no pescoço e nas axilas), inchaços, áreas assimétricas, alterações na pele, como aspecto de casca de laranja, feridas, retrações na pele, na auréola ou no mamilo, além de aumento no volume da mama. No banho, a palpação deve ser feita com as pontas dos dedos em movimentos circulares, examinando cuidadosamente as mamas e as axilas. Esse toque também pode ser feito deitada, posição que facilita a percepção de possíveis alterações.”

Ainda segundo o médico, além dos exames, a melhor forma de prevenir o câncer de mama é manter um estilo de vida saudável.

“É essencial manter o peso corporal, praticar atividade física, ter uma alimentação saudável, evitar o tabagismo e o consumo de álcool. A amamentação é um fator protetor e deve ser realizada pelo maior tempo possível”, finalizou.

Tratamento 

Para quem já recebeu o diagnóstico, o tratamento pode ser uma das etapas mais desafiadoras, sobretudo pelas diferentes formas envolvidas nesse processo. No Pará, ele está disponível pelo SUS em unidades de alta complexidade distribuídas pelo estado, como o Hospital Ophir Loyola (HOL) e o Hospital Universitário João Barros Barreto, em Belém. Segundo o oncologista clínico Rodnei Macambira, os tipos de tratamento são variados e a escolha depende diretamente do estágio em que a doença se encontra em cada paciente.

“No tratamento do câncer precoce, atualmente nós temos muitas técnicas menos invasivas, como a radioablação e cirurgias minimamente invasivas, nas quais conseguimos retirar tumores com uma boa margem e de forma precoce, permitindo aos pacientes alcançar altos índices de cura. No tratamento efetivo, também no câncer inicial, temos drogas novas chamadas inibidores de ciclinas, algumas já aprovadas no Brasil, que podem ser oferecidas aos pacientes dependendo do tipo de câncer de mama, aumentando a sobrevida e o índice de cura em casos iniciais”, explicou.

“Para o estágio avançado, aquele câncer que, por algum motivo, infelizmente, já está em outro órgão ou localmente avançado, temos o advento da imunoterapia, que possibilita oferecer aos pacientes altas taxas de resposta e, acima de tudo, maiores chances de controle da doença, com impacto significativo na sobrevida. Os pacientes podem receber imunoterapia com ou sem associação à quimioterapia, um tratamento modificado para essa condição. Além disso, existem outros tipos de tratamento, como anticorpos conjugados, terapias-alvo e terapias genéticas. Esses são alguns dos avanços tecnológicos disponíveis”, completou.

Ainda segundo o oncologista, além do estágio da doença, o tipo de câncer de mama também é um fator determinante na definição do tratamento.

“A gente sabe que existem alguns tipos mais comuns e outros menos comuns. O carcinoma invasivo é o tipo de câncer de mama mais frequente nas mulheres, mas existem outros, como os subtipos moleculares. Se o câncer é hormonal, se é um câncer que expressa uma proteína chamada HER2 positivo ou se não tem nenhuma dessas características, sendo considerado triplo negativo. Esses fatores são fundamentais para definir qual é o tipo molecular e também o tipo patológico desse câncer”, contou.

Um dos principais receios das mulheres diagnosticadas com câncer de mama é a possibilidade de retirada das mamas, procedimento que pode impactar profundamente a autoestima e o estado emocional da paciente. No entanto, o oncologista explica que a remoção completa nem sempre é necessária.

“Atualmente, cada vez menos pacientes com câncer de mama em estágio inicial precisam retirar todas as mamas. Existem estudos que respaldam o tratamento por meio de cirurgias conservadoras, em que retiramos apenas um quadrante ou uma parte da mama, podendo realizar a reconstrução ou não. Essa paciente depois será avaliada prognosticamente para saber se precisa fazer radioterapia, quimioterapia ou outra terapia e, em seguida, permanecerá em acompanhamento. E, claro, quanto mais cedo a doença for descoberta, maiores são as chances de realizarmos uma cirurgia conservadora e de a paciente não precisar perder toda a mama”, afirmou.

Homens também podem ter câncer de mama

Muitas pessoas acreditam que o câncer de mama afeta apenas mulheres, no entanto, embora os casos sejam bem menos frequentes, os homens também podem desenvolver a doença. No Pará, em 2025, foi registrado um caso em homem; em 2024, foram 14 casos, sendo quatro em Belém; e em 2023, 11 casos, sendo cinco na capital. Segundo o oncologista Rodnei Macambira, embora os casos em homens sejam mais raros, o tratamento é o mesmo aplicado às mulheres.

“O câncer de mama em homens é mais raro, mas existe. Estima-se que menos de 10% de todos os casos de câncer de mama ocorram em homens, sendo o número aproximado de até 5%. Essa porcentagem varia bastante na literatura. O diagnóstico é feito da mesma forma que nas mulheres: quando o homem percebe algum nódulo ou alteração na mama, ele procura avaliação médica. Geralmente, realiza-se uma ultrassonografia, que não é feita rotineiramente, e, caso haja suspeita, é coletada uma biópsia, que confirma se o tumor é maligno. Portanto, o processo é o mesmo para homens e mulheres”, explicou.

Serviço

Onde buscar exames?

  • Mamografias podem ser agendadas em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS)

E após o exame?

  • Em caso de alteração ou suspeita, os pacientes são direcionados às policlínicas ou unidades de referência com atendimento em mastologia oncológica. Em Belém é a Unidade de Referência Especializada: Casa da Mulher. 

Onde o tratamento de alta complexidade é realizado pelo SUS? 

  • Hospital Ophir Loyola (HOL) e Hospital Universitário João Barros Barreto, em Belém;
  • Hospital Regional de Castanhal;
  • Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém;
  • Hospital Regional de Tucuruí;
  • Hospital Regional do Sudeste do Pará “Dr. Geraldo Veloso”, em Marabá.