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Diabetes: Pará registra mais de 2 mil internações em quatro meses

A doença surge de forma silenciosa; quando os sintomas são aparentes, podem indicar um quadro avançado

Ayla Ferreira

Diabetes é uma doença crônica, metabólica, que surge com a elevação da glicemia no sangue para além dos índices normais. Com isso, o paciente tem má absorção ou falta de insulina no organismo — hormônio que torna possível a absorção de glicose como energia para o corpo. No Pará, foram registradas 2.360 internações por diabetes entre os meses de janeiro e abril deste ano, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa).

A endocrinologista Rafaela Miranda explica que a condição pode surgir quando há uma deficiência na produção de insulina. “Quando isso acontece, a gente vai chamar de diabetes tipo I, que é o diabetes mais comum na infância e na adolescência. O paciente já nasce com essa deficiência na produção de insulina”.

Já o diabetes tipo II é mais comum entre adultos e está relacionada com casos de obesidade. Nesses casos, o paciente pode produzir níveis normais de insulina, mas o hormônio não é absorvido pelo corpo, gerando uma resistência insulínica. Já a diabetes gestacional surge com a gravidez, na maior parte dos casos, provocada pelo aumento de peso da mãe. É possível também desenvolver a doença por conta de outras patologias, como as pancreatites alcoólicas e também pelo uso de alguns medicamentos.

Na grande maioria dos casos, a condição surge de forma silenciosa. “Quando esses sintomas aparecem, pode ser que a gente já esteja com um quadro de diabetes mais avançado, com glicemias mais elevadas”, diz Rafaela. Alguns dos principais sintomas são:

  • Visão turva
  • Sede em excesso (polidpsia)
  • Produção excessiva de urina (poliúria)
  • Aumento do apetite
  • Feridas que não cicatrizam
  • Perda de peso sem causa aparente

Morte em decorrência de complicações

Recentemente, comentários sobre a doença estão em alta nas redes sociais, com o falecimento de Gabriel, irmão da cantora Gaby Amarantos. Nas redes sociais, a cantora relembrou que Gabriel lutava contra a enfermidade há anos. "Meu irmão descansou. Gabriel, o irmão do meio, sempre foi o nosso orgulho. Desde criança enfrentou muitos desafios: conviveu com a obesidade e, ainda muito jovem, teve sua saúde comprometida pela diabetes — essa doença silenciosa que atinge parte da nossa família e que, por causa dele, me motivou a buscar uma vida mais saudável", escreveu Gaby.

“Não é o diabetes que faz o paciente ir a óbito, mas as complicações que advêm dele. O paciente já fazia hemodiálise, indicando um grau de insuficiência renal. O diabetes ocasionou a insuficiência e foi necessário uma terapia substitutiva, no caso, a hemodiálise. Essa é uma das complicações”, afirma a endocrinologista.

Segundo a especialista, deve-se ter atenção para outras complicações que afetam o bem-estar dos pacientes. A doença gera alterações na retina e pode levar à cegueira. Além disso, pode afetar as terminações nervosas dos membros, gerando feridas que não cicatrizam e até mesmo a necessidade de amputações. “O diabetes descompensado pode gerar complicações macrovasculares, como o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral, conhecido como derrame cerebral”, alerta.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico de diabetes é realizado de forma laboratorial. Um dos exames é feito com uma picada na ponta dos dedos, chamado glicemia capilar, que faz parte dos exames de rotina, mas não é um exame de diagnóstico. “No laboratório, a gente vai coletar principalmente três tipos de exame: a glicemia de jejum, a pós prandial ou teste oral de tolerância e a hemoglobina glicada. Esse último é fundamental para o diagnóstico, pois avalia a média de glicemia dos últimos três meses”, conta a especialista.

O tratamento da doença é feito de forma multifatorial, onde é preciso implementar mudanças saudáveis no estilo de vida. A endocrinologista recomenda uma alimentação balanceada, com a redução de gorduras, frituras e açúcar. Além disso, é importante consumir vegetais, frutas e verduras, bem como carnes magras.

A prática de atividades físicas de forma regular, de três a quatro vezes por semana, também é uma forma de prevenção. “A gente vai estimular que o paciente abandone o tabagismo, que é fator de risco para todas essas complicações”, afirma Rafaela.

No caso do diabetes tipo I, o tratamento se dá com injeções de insulina, para repor o hormônio que está em falta. No caso do tipo II, que na maioria dos casos se relaciona com a obesidade, o tratamento é feito com medicações orais e tratamentos injetáveis. “Agora existem as medicações injetáveis que tratam tanto o diabetes quanto o excesso de peso ou obesidade. Esse tipo de tratamento injetável, com os análogos de LP1, que é uma classe de medicamentos que está revolucionando o tratamento do diabetes, também pode ser usado no diabético tipo II”, destaca.

Controle da doença é possível

Rafaela Miranda enfatiza a necessidade de hábitos saudáveis sem terrorismo alimentar. “Quando a gente vai conversar com um paciente que tem diabetes sobre a alimentação, é importante a gente estabelecer uma dieta equilibrada. Ou seja, não precisa ter aquela postura restritiva de sair cortando tudo da alimentação, isso não é saudável. Um prato ideal deve ter uma parte de proteína, como frango, carne, ovos e peixes, uma parte de carboidratos, de preferência integrais para evitar o pico de glicemia”.

“É possível sim um paciente que tem diabetes viver com qualidade de vida, ter bem-estar, desde que ele faça o que ele precisa fazer. Sem terrorismo, com muito acolhimento, com muita ciência, é possível sim viver de forma plena”, finaliza a médica.