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Projetos de Belém buscam promover o protagonismo de jovens da periferia através do audiovisual

Para idealizadores, as iniciativas criam a possibidade de sonhos e um autoconhecimento por meio das histórias contadas

Camila Azevedo

Os abismos criados pela desigualdade social, além de afetarem a renda média da população do Pará - atualmente em R$ 507, de acordo com um levantamento recente da FGV Social - também prejudicam práticas simples do dia a dia. Idas ao cinema ou acesso a conteúdos e equipamentos de produções audiovisuais acabam sendo privilégios de poucos e, quem é morador dos bairros periféricos de Belém, sente mais dificuldade no processo. Por isso, com o objetivo de apresentar, fomentar e divulgar essa realidade, iniciativas, como o Cine Clube da Terra Firme, atuam e desenvolvem projetos de inclusão e protagonismo com crianças e jovens, pensando no futuro e valorizando a história pessoal de cada um.

Jovem realizou sonhos por meio do projeto

O estudante Maciel Loureiro, de 21 anos, já tem formação concluída na área de tecnologia da informação, porém, foi ao começar a participar do Cine Clube, em 2021, que o sonho de trabalhar e se especializar em audiovisual ganhou forma. “O projeto eu conheço desde o início. Mas, quando iniciou, eu acabei indo estudar em tempo integral. Mas, consegui conciliar e entrei aqui. Eu comecei há dois anos na área da dança. Quando fui vendo, acabei passando para o audiovisual, que é uma coisa que eu sempre buscava, mas achava que não era bom. Então, conforme o tempo, fui aperfeiçoando e descobrindo as partes da edição e da captação”, conta.

Maciel é um dos coordenadores do grupo de trabalho de audiovisual. Desde o início, desenvolvia de tudo: aprendeu a fotografar, filmar, editar e a utilizar as redes sociais para divulgar as ações do projeto. “Dependendo de quando precisa, faço todo o mapeamento de equipamento, falo com as pessoas que vão ser filmadas, vejo se a pessoa vai se sentir bem sendo filmada, se não, com quem conversar, a gente dá um jeito. O Cine Clube não é importante só para mim, mas para todos. A pessoa se redescobre e acaba se aprimorando nas habilidades que, de início, sabe que tem ou tem medo de não ser bom e não ser capaz”, finaliza o estudante.

Escola itinerante de cinema luta para promover espaços igualitários

Foi por perceber que o cinema era composto majoritariamente por pessoas brancas, que a atriz e cineasta Joyce Cursino, de 26 anos, criou a própria produtora com foco em desenvolver projetos que promovam a democratização do acesso ao audiovisual nas periferias e comunidades tradicionais da Amazônia. Uma dessas iniciativas, o Telas em Movimento, é uma escola itinerante que passa pelas comunidades fazendo oficinas. O resultado final do que é aprendido nas aulas é um filme e cada produto é adaptado de acordo com a realidade de cada espaço visitado. Ou seja, se no bairro só tiver celular, é com o aparelho que o material será criado.

“Se estão mobilizadas com equipamento, a gente usa também, porque esse projeto é feito em parceria com lideranças comunitárias quilombolas e indígenas. O contato com os alunos é muito importante pra gente, porque percebemos a importância da produtora, principalmente para negros e indígenas dentro das univerdedes, eles já enxergam a gente como uma referência. Para além do Telas, a gente faz alguns processos. Nos próprios filmes, a gente tá sempre tentando fazer com o elenco da comunidade, da região, que tem a vivência. Eles são os protagonistas das histórias. Cinema é um lugar machista, racista e xenofobico, é contra isso que a gente luta”, afirma Joyce.

A ideia é que, futuramente, a produtora passe a contratar os jovens que fazem parte dos projetos, dando uma oportunidade de trabalho para quem sente identificação com a área. “Agora, a gente deu segmento em um laboratório dentro da produtora. A nossa ideia é que a gente chegue em uma maturidade de contratar monitores, estagiários, para eles trabalharem com a gente, fazer parcerias com universidades… Eu penso que todas as produtoras devem se comprometer com esse trabalho de absorção de mão de obra do mercado. Tem pessoas que têm muitos talentos a serem absorvidos”, completa a atriz.

O cinema gera possibilidade de sonhos, diz cineasta

Joyce ressalta, ainda, que muitas realidades são transformadas dentro das comunidades por meio do cinema. “A gente faz uma troca, a comunidade tem uma história pra contar e a gente tem uma habilidade, conhecimento, e com isso a gente faz o filme. Na minha visão como realizadora e idealizadora do projeto, é que o cinema muda a forma como as pessoas se veem, ele promove autoestima, ele gera possibilidades e sonhos que estão além da nossa própria realidade, porque ela é muito cruel e dolorosa. O cinema, como a sétima arte, vem para resolver isso, essa dor de a gente nunca estar satisfeito, então, se ver na tela é uma grande oportunidade de se ver de uma forma diferente daquilo que é contado pela pessoa branca ao longo da história, é uma história contada para nós e por nós. É isso que importa”.

Responsabilidade Social