Projetos contribuem para formação de crianças e adolescentes

Os pequenos que participam de atividades de dança e música têm melhor desempenho em casa e na escola

Elisa Vaz e Camila Azevedo

A formação de crianças e adolescentes vai muito além dos ensinamentos acadêmicos. O dia a dia em casa, a convivência com outras pessoas, as atividades extracurriculares - tudo isso ajuda a moldar o caráter dos pequenos, que, ocupando o tempo extra com boas influências, acabam se tornando pessoas melhores em casa, com a família e amigos e até na escola. E, além disso, têm a chance de se desenvolver em algo que pode estar fora do ambiente escolar, como dança ou música.

Criado há seis anos, o projeto comunitário Roots, que funciona em um espaço público no Distrito Industrial de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, reúne às terças e quintas-feiras crianças e adolescentes que querem aprender e dançar ballet. O objetivo principal, além de incluí-las em alguma atividade fora da escola e de casa, é contribuir para a formação dessas pessoas e incentivá-las a alcançar seus sonhos por meio da dança.

image Jakson Conceição, conhecido como Jakson Roots, e a turma do balé (Filipe Bispo / O Liberal)

"Acreditamos muito que a educação, a arte e o esporte transformam vidas. Aqui no nosso bairro tem carência de tudo isso. Temos muitas escolas, mas as públicas têm muita dificuldade para desenvolver a educação, então a ideia era criar um projeto que pudesse ter arte, educação e esporte. Os pais dizem que os filhos melhoram em casa, o comportamento, a postura, o respeito", conta o coordenador do grupo e professor de dança, Jakson Conceição, conhecido como Jakson Roots, de 37 anos.

No começo, o projeto funcionava em outro espaço, com mais estrutura, e contava também com aulas de futebol, educação infantil e boxe, por exemplo. Com a dificuldade de manter as atividades, que não recebem patrocínio ou contam com ajuda dos governos ou da população, o local precisou mudar e as turmas foram se desfazendo, sobrando apenas o ballet. São os pais e mães que financiam as atividades, contribuindo com o transporte da professora, as roupas usadas nas apresentações e até montando o cenário, quando preciso.

"Não temos recurso de nenhuma empresa, são as próprias mães que nos ajudam a manter o projeto. Nosso objetivo não é lucrar, é ajudar cada criança e jovem, é desenvolver isso para eles. Hoje não temos espaço, sala, roubaram a fiação do local em que trabalhamos, não temos como fazer figurinos nem pagar inscrições de festivais porque esse dinheiro também faz falta no orçamento dessas famílias", conta.

Para se manter atuante, o projeto realiza ações para arrecadar recursos, como rifas e vendas em geral. Jakson diz que o único requisito para participar das aulas é gostar de dançar: "Quando vem uma criança querendo dançar ballet, eu só pergunto para a mãe: ela gosta de dançar? Porque tem que gostar, não queremos obrigar".

Aprendizado

Apesar de o grupo não ter muito recurso, já conta com reconhecimentos e prêmios no Pará e no Norte. A professora de dança do projeto, Keila Lima, de 35 anos, explica que há várias modalidades de danças em três turmas, cada uma montada de acordo com a idade e capacidade das crianças, do folclore ao ballet clássico e com noções de ginástica e outros exercícios. As coreografias são montadas por Keila, seja para eventos internos de Halloween, Carnaval e Dia das Mães ou para festivais com temáticas específicas.

O maior desafio, segundo a professora, é a falta de estrutura e um local adequado para realizar as aulas. O espaço onde o projeto funciona hoje, um centro comunitário, é aberto, então, nos dias de chuva, muitas crianças não participam ou ficam resfriadas. Além disso, a questão financeira atrapalha, já que o Roots não tem como investir nas apresentações, com cenários e figurinos de qualidade. "Elas participam com a roupa que têm em casa", lamenta.

image Samia Mesquita e a filha, Sandra Mesquita (Filipe Bispo / O Liberal)

Além da capacidade física das crianças, Keila afirma que o projeto tenta ampliar o máximo possível a interação, o respeito e a criatividade nelas. Sandra Mesquita, de 30 anos, que trabalha em uma hamburgueria, acompanha a filha nas aulas de ballet do projeto. Samia tem apenas nove anos, mas já sonha em ser uma grande bailarina um dia. "Ela sempre gostou de dançar e aprende muito rápido", diz a mãe.

Foi Samia que pediu para fazer ballet - e começou por volta dos três anos de idade. A reportagem perguntou do que ela mais gosta nas aulas, ao que a pequena respondeu "Eu gosto de fazer assim", em referência a um movimento estudado nas aulas. "Eu gosto das coisas, das estrelinhas, tudo, eu me encantei e quis fazer", lembra a pequena.

Música e conscientização ambiental

Outra iniciativa que chama atenção pelo caráter social e, ainda, o ambiental é a Orquestra Sustentável Percussão da Terra. Criada em 2011 pelo educador e músico Heraldo Santos, de 50 anos, o projeto tem o objetivo de, além de ensinar música e noções de instrumentos, fazer com que crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade entendam a importância de reaproveitar o lixo e preservar o meio em que vivem. “Eu poderia fazer com instrumento convencional, mas eles estão convivendo com o lixo, jogando lixo dentro do rio… Tinha casco de geladeira, sofá, televisão… Aí, a minha ideia era que eles entendessem se era obrigado produzir aquele lixo e, se for, como eles vão reaproveitar e tirar benefício à comunidade. Eu queria que eles tivessem essa consciência,e ela foi alcançada. Hoje, eles sabem a importância de ter seu copo, ter sua garrafa para não ter copo de plástico jogado fora, produzindo lixo desnecessário”, afirma.

A ideia de organizar a orquestra surgiu quando Heraldo não estava morando em Belém. O período foi fundamental para que pesquisas sobre diferentes ritmos musicais, culturas e instrumentos fossem feitas. Bahia, São Paulo e Pernambuco foram algumas das cidades referência durante o processo. “Aí, quando cheguei em Belém, eu fui trabalhar para o governo. Trabalhamos no campus 3 na UFPA, perto do rio tucumbududa com o riacho doce, e eu via muito lixo, a cidade toda estava impregnada, principalmente ali. Então, eu tive a ideia de como fazer a orquestra: pegar e reaproveitar. Fui tendo a ideia dos instrumentos, dos ritmos e fui atrás de uma pessoa que soubesse confeccionar, já que eu não tinha noção. Minha ideia era fazer esses jovens saberem onde estão, que dá pra reaproveitar o lixo. Era isso que eu queria, chamar atenção deles”, conta o educador.

image Atualmente, 20 jovens fazem parte do projeto. Além de aprender sobre ritmos, eles tem aulas de conscientização ambiental (Acervo Pessoal)

Garrafão de água mineral, balde de manteiga, garrafas pets, cabo de vassouras, fitas e canos pvcs são alguns dos materiais que os mais de 20 alunos do projeto utilizam na criação de instrumentos, que vão desde maracás, cajons e triângulos até dispositivos de efeitos sonoros, utilizando tampas. “A ideia não é desmatar, é reaproveitar o que tem jogado aí que vai ficar milhares de anos prejudicando”, ressalta Heraldo.

Pandemia afetou rotina da orquestra

Na época em que as medidas de segurança para evitar o contágio pela covid-19 foram estabelecidas, Heraldo precisou parar com os encontros. A maioria dos participantes - eram 40, no total - da orquestra eram menores de idade e, por isso, os cuidados redobraram. “A gente retornou fragmentado, hoje tenho 20 alunos espalhados, tem os da Terra Firme, Bengui e Cabanagem. Hoje, a gente não está conseguindo mais se encontrar por conta do tempo. Aí, quando tem algo, eu aciono e a gente vai e faz as ações”, diz.

image Instrumentos musicais feitos de resíduos sólidos retirados do lixo (Acervo Pessoal)

Junto com a consciência ambiental e o ensino da música, as crianças e adolescentes aprendem a confeccionar o instrumento. Atualmente, a ideia de Heraldo é conseguir um espaço físico para que a rotina de trabalho junto aos integrantes possa voltar. “Queremos abrir mais vagas para quem tiver interesse. O espaço é para ter semanalmente o encontro e renovar, colocar muitas pessoas. Além disso, arrecadamos roupas e cestas básicas. Tem muita gente passando fome e percebemos que alguns dos nossos alunos passam por dificuldade, alguns já trabalham, mas outros nem tanto”, finaliza.

Como ajudar

Projeto Roots

Doações via PIX ou presenciais

Contato: (91) 98031-2755 (Jakson)

Endereço: Sede da Asmovim, na travessa Oliveira, nº 352, Heliolandia, Ananindeua

Orquestra Sustentável Percussão da Terra

Doações via PIX pela chave (91) 98195-4705 (Heraldo)

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