Projeto voltado para terceira idade leva autoestima e autonomia para idosos em Belém

O Uniterci, ligado à UFPA, oferece um espaço de apoio e tem atividades educativas e cursos de vários segmentos

Elisa Vaz
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A terceira idade pode ser uma etapa da vida cheia de transformações e mudanças. Mas, apesar do preconceito que ainda existe na sociedade em relação às pessoas idosas, há formas de viver feliz, compartilhando experiências em grupo e ainda aprendendo novas habilidades. É o que acontece com o público que participa das ações do Programa Universidade da Pessoa Idosa (Uniterci), ligado à Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Por meio do projeto, os idosos retomam a alegria, fazem exercícios e se veem mais esperançosos nessa fase da vida, celebrada na última terça-feira (27), no Dia do Idoso.

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Com surgimento no ano de 1973, o grupo, que antes era chamado de Universidade da Terceira Idade, com a mesma sigla, foi fundado para atender pessoas com 60 anos ou mais, tendo como principal objetivo mudar a imagem estigmatizante dos idosos perante a sociedade. Depois, em 1991, foi criado o Programa de Extensão Uniterci, em parceria com a UFPA, e vinculado à Faculdade de Serviço Social. O intuito era o mesmo: ressignificar a velhice, proporcionar autonomia, desenvolver e descobrir as potencialidades da pessoa idosa.

Núcleos

Segundo a bolsista do projeto Corpo e Movimento, do Uniterci, Letícia Cruz, há três vertentes dentro da equipe, além de um campo de estágio. O núcleo de “Atualização Cultural” é a porta de entrada para alunos novos que têm interesse em ingressar no programa. Ele possui palestras diversas que possibilitam à pessoa idosa atividades socioeducativas e psicossociais. Os alunos permanecem nesse programa durante um ano e recebem o certificado de participação e uma formatura ao final.

Após isso, vem a vertente de “Educação Permanente”, voltada para alunos veteranos e que oferece várias atividades educativas, como curso de informática básica e avançada, crochê, literatura, oficina de línguas estrangeiras e outros. “Os idosos também podem se inscrever nas disciplinas das faculdades que se mostrarem disponíveis, proporcionando a intergeracionalidade com os próprios discentes da UFPA”, comenta Letícia.

Há ainda o núcleo “Corpo e Movimento”, também para alunos veteranos. É proporcionada uma melhor qualidade de vida para esse público, de acordo com a bolsista. “São discutidas e desenvolvidas propostas que favorecem o bem estar físico, psíquico e social, principalmente através de exercícios físicos, que dão aos idosos mobilidade e autonomia. O projeto vem desmistificar também a ideia da pessoa idosa como portadora de doenças e sedentarismo”, complementa.

Por último, o “Serviço de Orientação à Família (SOF)” é um campo de estágio para discentes de serviço social que tenham interesse na temática do envelhecimento. Eles atuam programando atividades conscientizantes e aconselhamento para situações de vulnerabilidade e coletam dados qualitativos e quantitativos. O SOF também proporciona palestras sobre diversos temas.

Transformação

Aos 65 anos, a autônoma Sandra Milhomem vive hoje um momento muito bom. Isso porque ela se renovou, passou a praticar novas atividades e se viu mais feliz e realizada consigo mesma. Ela atua no ramo de cestas de café da manhã, que incluem guloseimas, arranjos de flores, presentes, bolsas, pelúcias e outros itens de decoração. Há alguns anos, precisou parar seu trabalho para lidar com problemas em casa: a perda de um familiar levou ela e o marido, de 75 anos, a um estado de choque e à depressão.

Sandra conta que foi graças às atividades do Uniterci, grupo do qual ela participa desde 2017, que conseguiu se reerguer. “Sou muito grata a Deus por ter encontrado o programa, não tenho palavras para agradecer por esse trabalho maravilhoso de cuidar de nós, idosos. Entrei com 59 anos, achava que não ia conseguir, mas consegui. Eu estava em depressão e trabalhando, minha vida era só trabalhar, vivia um sofrimento muito grande. Lá, com a ajuda da psicóloga, você descobre onde precisa mudar, o que melhorar e o que fazer para sair daquela situação. Encontrei a chave e no final do curso eu estava feliz demais”, lembra.

Ainda hoje, a autônoma continua indo às reuniões do Uniterci e diz que “não deixo a universidade por nada”. Embora atue profissionalmente, Sandra também dedica parte de seu tempo para frequentar os encontros, que, para ela, são importantes. “Foi um divisor de águas. Me sentia um passarinho da gaiola e saí disso. Eu fiz teatro, nunca pensei que pudesse representar um personagem, fiz computação, lá tem básico e avançado, e a matéria ‘Corpo e Movimento’, que nunca saio dela”.

O maior benefício das ações, na opinião de Sandra, é que os idosos conseguem recuperar sua autoestima. Ela conta que percebe o preconceito que existe em relação à terceira idade, mas não sabe por que existe. “Vejo que muitos têm dificuldade de entrar no mercado de trabalho. Acho que é pela maneira, nós somos de uma época que tem todo um jeito de falar. Vemos as pessoas jovens e elas não dão bom dia, não querem conversar, e a pessoa se sente isolada, por isso precisamos estar juntos de pessoas da mesma idade”, ressalta. Sandra diz que os idosos precisam de um local onde sejam respeitados, para interagir e aumentar o conhecimento.

Funcionamento

A bolsista Letícia Cruz conta que, no período em que trabalha com os participantes, observou que alguns idosos com sintomas sintomas de depressão, principalmente após a perda de familiares, frequentavam o Uniterci para não ficar em casa. “Eles buscam interagir com outros idosos do programa, ou mesmo idosos com problemas de saúde na qual é necessário fazer exercícios, e têm uma melhora significativa, buscam por uma escuta ativa, já que na maioria das vezes moram sozinhos. No Uniterci eles formam ciclos de amizades e participam de muitas atividades socioeducativas e físicas”, destaca.

O período de inscrições para alunos novos ocorre somente uma vez ao ano, geralmente em meados de fevereiro - neste ano, já foram encerradas. Mas há também a candidatura para alunos veteranos, que ocorre na metade de março e em agosto. No dia das inscrições, são informadas as atividades do semestre e, então, os alunos podem escolher até três opções de acordo com seu interesse. O público alvo do Uniterci é de homens e mulheres com 60 anos ou mais, principalmente em vulnerabilidade social - eles também têm acesso ao Restaurante Universitário (RU) da instituição.

Com funcionamento de segunda a sexta-feira, pela manhã e pela tarde, os dias das atividades dependem dos ministrantes, mas é de uma a duas vezes por semana. As atividades, segundo Letícia, são sempre planejadas no período intervalar da UFPA, e os colaboradores são de diversas áreas, como psicólogos, educadores físicos, advogados, fisioterapeutas, professores e outros. Ao final de cada palestra ou oficina, os colaboradores ganham um certificado com a devida carga horária, assim como os alunos. Em média, são atendidas 200 pessoas.

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