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Projeto Violão Solidário capacita jovens por meio da música

Ação atende crianças e adolescentes de escolas públicas e de baixa renda

Elisa Vaz

Contribuir para a formação de crianças e adolescentes por meio da música é o maior objetivo do projeto Violão Solidário, que atende, há quase um ano, jovens de 10 a 15 anos, que sejam estudantes de escola pública e de famílias de baixa renda. Ao longo desse tempo, cerca de 90 crianças conheceram os primeiros acordes em oficinas gratuitas ministradas por grandes artistas paraenses.

A coordenadora geral do projeto, Narjara Oliveira, contou que a iniciativa surgiu como uma forma de valorizar a cultura paraense já que, segundo ela, o violão é um instrumento fundamental na música popular brasileira. “A ideia aposta na arte como meio de contribuir para a formação estética e cidadã de meninos e meninas. O propósito é fazer da música ferramenta pedagógica e estratégica na redução da violência e diminuição da evasão escolar”, comentou.

A maior relevância social do projeto é mostrar aos participantes que a arte pode romper barreiras e tem papel fundamental na formação das crianças. Por meio da musicalização, a equipe busca estreitar laços dos alunos com a escola, e fomentar espaços de pertencimento e acolhimento. “Nós enxergamos que, nos ambientes de vulnerabilidade social e econômica, não há muita perspectiva de futuro para muitas crianças. Quando se tem um instrumento, o futuro começa a ser desenhado”, acredita a coordenadora.

O Violão Solidário surgiu no início deste ano, no Fórum Landi, e atendeu, no primeiro módulo de oficinas, 30 estudantes, com aulas ministradas pelo regente do Choro do Pará, Diego Santos, com durante três meses. A iniciativa foi uma das selecionadas entre os Projetos Culturais com Relevância Social, edital oferecido pela Prefeitura Municipal de Belém, por meio da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel).

No segundo semestre do ano, essa missão ficou com o violonista e compositor Nego Nelson, que possui mais de 20 anos de experiência na área educacional, e 50 anos de carreira artística. Nesta segunda etapa, o projeto atuou na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Rui Barbosa, em que serão formados, até o final de novembro, 60 alunos. “A ideia inicial era capacitar jovens do bairro da Cidade Velha, e foi o que fizemos na primeira etapa, mas descobrimos que, na escola, seria mais estratégico, já que lá estudam crianças e adolescentes de vários bairros vulneráveis de Belém”, explicou Oliveira.

Música garante bom desempenho na escola

A maior importância, segundo a coordenadora, é que o projeto atrela a permanência nas oficinas aos resultados do desempenho escolar de cada aluno, que precisa, principalmente, estar matriculado em escola pública e tirar boas notas no ano letivo. Além disso, ela acredita que, como os jovens atendidos estudam em tempo integral, não há evasão dos cursos.

O ministrante da segunda etapa do curso, Nego Nelson, ressaltou que a música melhora, inclusive, o desempenho dos jovens em outras áreas de sua vida, como no ambiente acadêmico e familiar. “Essa não é a atividade central, é uma atividade paralela. Os jovens, especialmente em escolas públicas, são muito dispersos, acelerados. A música para esses sentimentos e tira a ansiedade. Por meio dela, as crianças e adolescentes melhoram seu desempenho em muitas outras coisas. Esse é o objetivo de compartilhar a música com eles”, disse.

Nelson já realizava trabalhos como esse desde o início da década de 1993, por meio do Curro Velho. Além da parte instrumental, também é ensinado a questão cultural da música, como os gêneros, as histórias, os artistas e os movimentos musicais ao longo dos anos. Durante as aulas, o professor afirmou já ter reconhecido alguns talentos, alunos com mais facilidade e percepção, o chamado “ouvido musical”, e aposta que alguns artistas vão se formar no curso.

Para a coordenadora pedagógica da escola, Josefa Silva, a chegada do projeto foi de importância imensurável. “Somos uma escola de tempo integral. Preencher com atividades toda esta carga horária sempre foi um desafio. Dessa forma, nossos alunos, muitos com históricos de carências das mais variadas, se sentem estimulados. Muitos deles relatam que já se veem como artistas e imaginam um futuro na arte. É emocionante”.

Resultados são positivos após as aulas

Uma das conquistas que o grupo alcançou com o projeto foi a descoberta de alguns problemas dos jovens atendidos. Ao longo das oficinas, alunos e alunas contaram sobre suas carências e episódios de violência, o que impulsionou a organização a buscar o apoio de assistentes sociais e consultoria do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), para amparar esses jovens. Quatro adolescentes já foram encaminhados para programas psicológicos gratuitos oferecidos por universidades da capital.

“Não é só musica. Às vezes notamos alguns problemas nesses jovens. Os líderes do colégio dizem que a diferença é visível entre os alunos que participam do projeto e os que estão de fora”, comentou a coordenadora do Violão Solidário.

Arrecadar verba é desafio para continuidade do projeto

Para alcançar mais vidas por meio da cidadania e da cultura, o projeto abriu, em outubro, uma campanha de crowdfunding – financiamento coletivo – para arrecadar R$ 3 mil, a fim de dar continuidade às aulas no próximo ano. A campanha segue até o dia 25 de novembro, e o valor será destinado à compra de novos instrumentos, sendo que alguns serão doados aos alunos que mais se destacaram nas oficinas ao longo do ano. As cotas de doação têm valor a partir de R$ 25.

O projeto busca abrir as turmas do próximo ano, incluindo outra sede da escola, que fica localizada na Ilha das Onças. “Contamos com a contribuição de todo mundo que acredita na cultura como via de transformação social”, afirmou Oliveira.

O crowdfunding está disponível neste site. Além disso, no dia 29 de novembro, haverá o concerto de conclusão da oficina com os jovens músicos formados por Nego Nelson no projeto. O show será ao ar livre, na Praça do Carmo, às 18h. O Violão Solidário conta com o apoio cultural da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do Fórum Landi; Dicasa; Ná Figueiredo; Pró Music; e Senda Produções.

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