Prática de consumo consciente transforma crianças em cidadãos engajados

Ao ensinar crianças sobre a importância de pensar antes de comprar, elas podem se tornar agentes de mudança em prol de um futuro sustentável. Economista dá dicas.

Elisa Vaz

A crescente preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade gerou a necessidade de ensinar as crianças sobre o consumo consciente. Como comprar de forma desenfreada e irresponsável tem resultado em consequências ambientais, compreender desde cedo a importância de escolhas responsáveis é um passo crucial para a formação de cidadãos engajados e conscientes de seu impacto no planeta - ao ensinar crianças sobre a importância de pensar antes de comprar, elas podem se tornar agentes de mudança em prol de um futuro sustentável.

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Essa prática já faz parte da rotina de Malu, seis anos, porque sua mãe, Ana Gibson, 36, ensina desde cedo sobre a importância de ser mais consciente em relação ao consumo. A advogada conta que as conversas, das quais o marido também faz parte, envolvem o valor de presentes em datas especiais e de que forma os itens podem ser implementados de forma prática na rotina da criança.

“Também conversamos sobre a importância da manutenção e do zelo pelo que ela possui, como material escolar, sobre o uso e cuidado com seus lápis, seus livros, informando que eles tiveram um custo e ela deve zelar por isso. Além do mais, ela administra seu próprio cofrinho e só utiliza a quantia quando atinge o valor que objetiva gastar”, afirma a mãe. “Conversamos muito sobre a vida útil de cada produto adquirido, a forma de descarte de maneira mais consciente, por doações ou brechós, além do respeito ao meio ambiente em que vivemos”, continua.

image A advogada e dona de brechó Ana Gibson, de 36 anos, ensina desde cedo sobre o valor do dinheiro para a filha Malu, de seis anos (Igor Mota / O Liberal)

Na opinião da advogada, que é também dona de um brechó e organizadora de eventos na área, o atual momento é de consequências causadas por ações do homem, e ensinar a filha a ser mais consciente, orientando sobre os impactos que suas ações têm sobre o planeta, pode diminuir essas consequências em gerações futuras.

“Costumamos levá-la a museus em Belém e quando viajamos, como, recentemente, o Museu do Amanhã e o Projeto Tamar. Desde cedo ela demonstra muito interesse e preocupação. Ela costuma participar do meu dia a dia nos garimpos de peças para o meu brechó, que já faz parte da nossa renda familiar, e, desde cedo, ela e seu irmão mais velho convivem com peças ‘second hands’ (de segunda mão), inclusive em seu próprio guarda-roupa”, relata Ana.

Integração

A filha do engenheiro ambiental Patrick Ramos, de 31 anos, também acompanha a rotina de trabalho do pai - além de estar presente, a pequena Isadora, de sete anos, participa ativamente do dia a dia da empresa onde ele é diretor geral. O pai começou incluindo a filha em seu ambiente de trabalho e criando um espaço dedicado à produção de artesanatos com materiais reciclados; daí surgiu o setor “A salvação da natureza criativa”, nome criado por Isadora e sua prima Sophia, que também escolheram os próprios cargos: artistas de sustentabilidade. As crianças hoje têm crachás e uniformes adequados.

“Essa abordagem ajudou a engajá-las no projeto, criando um ambiente de trabalho sério, mas também amigável. Conforme o setor se consolidava, começamos a pensar na monetização dos serviços prestados. Foi quando tivemos a ideia de criar uma moeda própria para a empresa, chamada Ramoney. Essa moeda não tinha o objetivo de atribuir um valor fixo aos serviços prestados por elas, evitando assim uma rotulação precoce. Ao invés disso, o Ramoney foi criado para que pudéssemos negociar o preço dos artesanatos que elas produziam. Esse ponto da evolução do projeto foi interessante, pois elas produziam os artesanatos e depois negociávamos o valor da venda”, lembra Patrick.

A filha chegou até a criar o próprio negócio, o “DOD Fruit”, carrinho de picolés saudáveis. A venda é feita apenas no escritório do pai e de um tio, usando o Ramoney como pagamento. Segundo o engenheiro, essa iniciativa fez Isadora aprender desde cedo sobre o valor do dinheiro, empreendedorismo e sustentabilidade. Ela também já tem uma conta bancária digital, acompanhada de um cartão, onde o pai deposita dinheiro para que ela possa realizar seus próprios pagamentos quando saem juntos.

Patrick não teve esse ensinamento quando criança, mas resolveu ser um exemplo para a filha, de sete anos. Na opinião do engenheiro, conhecer melhor o dinheiro é um dos principais pilares da educação infantil. “Não envolve apenas o ato de consumir, mas também de saber o que se quer e do que realmente se precisa. Ao compartilhar essa jornada com minha filha, mostro a ela que não precisa de um brinquedo específico para ser feliz, mas sim ter clareza sobre o que deseja brincar e do que é necessário para isso. Ensino que ela não precisa vincular seus sentimentos ao desejo de ter sempre mais”, afirma.

Finanças

Ao crescer em um ambiente consumista, é provável que a criança se torne um adulto com problemas financeiros, na avaliação do economista Valfredo de Farias. “Conheço várias pessoas que ganham muito bem, algumas que ganham R$ 50 mil por mês e são todas enroladas e vivem nesse ambiente consumista, o tempo todo estão consumindo coisas de alto padrão, de luxo, muito em cartão de crédito, e fazendo compras pela internet. Isso chega a ser uma espécie de doença, essa compulsão por compra. É um padrão consumista que eles adotaram ao longo da vida”, comenta.

Para tornar as crianças menos consumistas e, consequentemente, adultos menos endividados, é preciso que os pais levem a sério o valor do dinheiro e repensem seu padrão de consumo. Afinal, como lembra Valfredo, as crianças são espelhos dos pais, então, se os mais velhos têm uma rotina de muito gasto, provavelmente o filho também terá, com algumas exceções.

Um dos erros dos pais, na opinião do economista, é quando querem dar aos pequenos o que não tiveram em sua infância e adolescência, criando um mal costume. “O que acontece, principalmente na nossa geração de pais, é que a gente quer dar para o nosso filho o que a gente não teve. Então, geralmente, você vê o seguinte: se o pai ou a mãe teve muita dificuldade na sua infância, adolescência, na sua juventude, começa a dar tudo de bom e do melhor para o filho. Isso é um erro porque você torna essas crianças, além de consumistas, pessoas que não sabem receber não”, argumenta. Confira no infográfico algumas dicas de como ensinar um consumo mais consciente às crianças.

Dicas para os pais:

  1. Ter o hábito de dizer não: não compre tudo que a criança quer, nem produtos de marcas mais caras. A dica de Valfredo é comprar um item mais barato ou, dependendo do caso, não comprar, para mostrar que o dinheiro nem sempre compra qualquer coisa.
  2. Dar uma mesada ao filho: o objetivo é fazer os pequenos começarem a dar valor ao dinheiro e entenderem a importância de gastar ou de guardar aquela quantia. Uma boa opção é ajudá-lo a criar uma meta financeira, assim, ele vai ter um objetivo que o motive a ser organizado.
  3. Ensinar a economizar: conforme a criança for crescendo, é indicado aumentar o valor da mesada para adequar a quantia às necessidades do jovem, mas sempre ensinando a importância de não gastar tudo. O economista ensina que os pais devem orientar quanto ao percentual que pode ser gasto e quanto pode ser guardado.
  4. Continuar dizendo não: se os pais optarem pela mesada, precisam saber controlar o orçamento. Por exemplo, se a criança gastar tudo antes do fim do mês, os pais não devem dar mais dinheiro porque, dessa forma, a criança não vai aprender sobre controle financeiro. Da mesma forma, os pais não podem encher o cofrinho do pequeno, ele mesmo deve fazer isso.
  5. Aliar finanças à matemática: outra indicação de Valfredo é que os pais ensinem a criança a anotar seus gastos, para ter um controle melhor de quanto sobrou e quanto foi destinado a cada área. Essa também é uma forma de exercitar a matemática.
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