ONG empodera comunidades do Pará por meio da arte e da economia sustentável

Uso dos saberes locais e dos ativos regionais são a base para fazer dos moradores da região amazônica verdadeiros empreendedores

Camila Azevedo
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É pensando no protagonismo e no desenvolvimento socioambiental dos povos da Amazônia que a Organização Não Governamental (ONG) OCAS (Organização Comunitária Adesão Social) atua em diversas partes do Pará, usando a arte e a economia sustentável como agentes de mudança dentro das comunidades. O projeto, que já tem seis linhas de atuação em todo o estado, busca articular as práticas com a realidade de cada lugar, ao mesmo tempo que ensina e aprende com o dia a dia dos moradores para promover melhoria e qualidade de vida.

A OCAS está em atividade desde dezembro de 2020. A ideia de uma plataforma de projetos socioambientais - greentech, como chamam - surgiu a partir da necessidade de trazer para o âmbito da metrópole os saberes tradicionais, o empreendedorismo sustentável e as narrativas principais de quem é detentor da floresta amazônica, ou seja, as pessoas que vivem no interior e em comunidades da baixada da metrópole. Com a experiência diária que o convívio proporcionou, os voluntários da ONG descobriram como empoderar os moradores: através da arte.

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O primeiro projeto realizado foi o Farofa Black, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU). A OCAS usou a arte e a cultura local do bairro do Jurunas, em Belém, como uma forma de tirar os jovens do mundo das drogas. Renato Rosas, biomédico, artista, ativista e CEO da ONG, explica que, a partir de então, a organização passou a integrar diversas iniciativas. “Terminamos o projeto e fomos convidados a participar de um bloco de líderes nacionais, começamos a ter patrocínio, já fomos para a Colômbia, Nova York, São Paulo e decidimos que íamos realizar mais ações voltadas para a bioeconomia”.

“Somos uma organização que busca integrar negócios com recursos renováveis. Tudo que nós fazemos dentro da organização é para mitigar o lixo, para fazer com que comunidades tenham manejo sustentável, que não usem fogo, que entendam melhor como fazer uma plantação, que possam ter uma compreensão de que fazer plantações para tentar escalar algum produto, na forma de monocultura, devasta a terra, tira as árvores, acaba com a biodiversidade. Essas são uma das coisas que a OCAS têm buscado compreender junto com a comunidade”, relata Renato.

Lucro e sustentabilidade

Os trabalhos da OCAS têm sido pautados através do sistema ESG, ou seja, unindo práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, visando não somente o lucro, mas a sustentabilidade. “Para isso, nós nos aproximamos sempre das comunidades com o trabalho artístico. Todas elas têm um evento artístico: roda de santo, samba, evento familiar… Depois desse primeiro momento, em que nos aproximamos com o trabalho de transformar a vida através da arte, nós entendemos que toda comunidade tem algum saber tradicional com a biodiversidade que está ali”, frisa.

Além do Jurunas, Santa Cruz do Arari, aldeia indígena dos Tembés, Ilha do Combu, Salinas e Viseu contam com projetos da ONG, que vão de sabonete vegano, escola de turismo sustentável e cultura de pesca artesanal, a produção de mel silvestre - tudo pensado do ponto de vista do empreendedorismo e como cada comunidade pode crescer. “O Combu, por exemplo, tem muito potencial para o turismo, cultura do cacau e açaí. As mulheres da ilha desenvolveram um aplicativo para proporcionar transporte aquático e promover o turismo de experiência na Amazônia”, conta o CEO da OCAS.

Além da ajuda em conseguir o empoderamento, Renato diz que a ONG já distribuiu mais de cinquenta toneladas de alimentos na ilha e quentinhas de graça no Jurunas. “A OCAS, como um todo, é uma plataforma de operações sustentáveis, turismo de experiência, conexão com os detentores das comunidades e empoderamento das pessoas de lá para fazer bionegócio a partir de biodegradáveis. Estamos atrás de investidores, principalmente com a COP 30, queremos ter máquinas para melhorar essa operação e ajudar mais comunidades. Temos parceiros, mas precisamos de investimentos altos”.

Transformação

A transição buscada através do trabalho da OCAS visa muito mais a mudança de pensamento sobre como enxergam a população amazônida. Assim, o trabalho digno e o fomento à economia é uma forma de alcançar a independência financeira sonhada. “Não queremos que as comunidades da Amazônia sejam tratadas como coitadas. Percebemos essa transição e a OCAS é uma das responsáveis por ela, essa transição que tem o estigma da violência e do trabalho escravo como um narrativa por parte das pessoas de fora do Brasil e nós fazemos o contrário”, conta Renato.

Nova fase

O CEO da ONG afirma que as coisas dentro do projeto estão sendo desenvolvidas, mas não na escala que querem e planejam. Isso porque o investimento na OCAS precisa de mais força. “Devido a isso, vamos começar a fazer uma provocação, que é o ‘Balada Coaching - Um passeio pela floresta’. Vamos ter uma parceria com um coach de Belém e sair do MVT para uma fase 2, onde nossos negócios vão começar a escalar e vamos usar a ferramenta do coaching para que isso aconteça. Queremos escalar os produtos de bionegócio e pedimos apoio do governo, prefeituras e multinacionais”, completa Renato.

Jurunas

Moradora do bairro do Jurunas, a voluntária Cláudia Conceição, de 52 anos, atua na OCAS desde a pandemia da covid-19 e relembra da necessidade do trabalho no acolhimento das 685 famílias cadastradas. “Realizamos ajuda emergencial com cestas básicas e kits de higiene e limpeza. Começamos a ter mais intimidade e trabalhar com as crianças, jovens e idosos. Ao longo do tempo, fomos para a parte cultural, de lazer e saúde, sempre buscando atender outras problemáticas que íamos buscando administrar para dar conta. Esse trabalho me trouxe de volta, me tirou da depressão”.

Para Cláudia, além da importância pessoal, o trabalho da ONG é fundamental para os residentes do bairro, principalmente as mulheres. Outra iniciativa da OCAS foi fazer um mapeamento de crianças que estavam ou não vacinadas e, a partir de então, incentivar a imunização. “Algumas famílias não queriam dizer que os filhos estavam sem vacina, mas ficaram com medo de serem cortadas de algum programa de governo. Mas 85% delas estavam vacinadas, o restante era porque os pais tinham medo das reações que poderiam dar ou por convicções políticas, mas incentivamos mesmo assim”, finaliza.

Linhas de atuação da OCAS no Pará

Santa Cruz do Arari → cultura da pesca artesanal. Os beneficiários são pescadores, eles têm incentivo com lei de patrocínio;

Aldeia dos Tembés → produção de mel silvestre e crédito de carbono da aldeia;

Combu → açaí e cacau, mas foco no turismo de experiência pela Amazônia por meio de um aplicativo de mobilidade;

Salinas → escola de turismo sustentável;

Jurunas → YACI - projeto de artesanato com mulheres;

Viseu → produção de sabonete vegano, ensinaram as mulheres a fazer o beneficiamento do coco, tiram o óleo e fazem o sabonete. Vendem mais de 2.000 sabonetes por mês para ajudar as mulheres e ter sustento na ONG.

Contato

E-mail: contato@ocasong.com
Telefone: 98130-0276
Rede social: @ocas.ong no instagram

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