Gesto altruísta, doação de leite humano é capaz de salvar vidas e evitar doenças

Fundação Santa Casa é referência e possui um Banco de Leite Humano, onde o alimento é tratado e disponibilizado a bebês internados no hospital

Elisa Vaz

O leite materno é essencial para o desenvolvimento de recém-nascidos e pode evitar doenças como obesidade, diabetes e até câncer. Como muitas mães não têm uma produção adequada de leite, no entanto, precisam da solidariedade de outras mulheres para suprir a demanda de seus bebês. Na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, uma das referências é o Banco de Leite Humano, iniciativa que organiza e recebe doações do alimento materno, faz o controle de qualidade e fornece para os pacientes que precisam.

De janeiro para fevereiro, segundo a coordenação, o estoque do Banco de Leite cresceu 21%, com 272 litros coletados no mês passado. O ideal, porém, é que a média fique em 400 litros, o que seria suficiente para suprir somente metade da demanda do hospital - por isso a entidade pede e incentiva que mais mães façam parte da campanha de forma contínua.

A coordenadora do Banco de Leite Humano da Fundação Santa Casa, Sinara Souza, explica que o intuito do projeto é apoiar a amamentação em caráter prioritário e que trata-se de um gesto altruísta, em que a doadora não ganha algo em troca do alimento. “Ela doa pelo ato de entender que há recém-nascidos e lactentes internados em centros que tenham unidade neonatal e que precisam de receber este leite até que sua mãe esteja responsiva e tenha condições de promover a dieta materna de seus filhos”, afirma.

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Segundo ela, esta é uma estratégia que salva vidas e protege a criança de doenças não transmissíveis, criando uma defesa, já que possui componentes essenciais, principalmente no caso dos recém-nascidos prematuros e dos lactentes. “O que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde determinam é que o leite materno seja administrado de forma exclusiva até o sexto mês de vida, sem outros alimentos e sem água. Há nutrientes importantes que são ofertados no leite humano e que preenchem os requisitos nutricionais dessa criança”, pontua a coordenadora.

Doação de leite

Aos 18 anos, a dona de casa Érica Viviane é mãe de gêmeos, e os três estão internados na Fundação Santa Casa há um mês. Um dos bebês está em terapia intensiva, enquanto o outro fica no quarto com a jovem. Eles nasceram de sete meses, prematuros, e ainda são muito pequenos, e para se desenvolver precisam de leite humano. Metade do que os dois consomem vem da mãe, mas a outra metade, a partir das doações.

Érica conta que o momento do parto foi difícil, mas que agora já está mais calma. “Durante a minha gestação, jurava que ia ser normal, a minha barriga foi crescendo e um certo dia eu falei: ‘mãe, eu não vou aguentar’. Um dia de manhã, senti uma dor no pé da barriga e fui para o hospital à noite, e quando cheguei já estava com cinco centímetros de dilatação. Aí a gente veio com urgência para cá”, lembra.

image Érica Viviane, de 18 anos, é mãe de gêmeos e os dois bebês dependem da doação do leite de outras mulheres (Thiago Gomes / O Liberal)

Moradora do município de Salinópolis, Érica teve que procurar a Fundação Santa Casa após orientação dos médicos, para ter acesso a mais estrutura. Hoje, recebendo a doação de leite humano para seus filhos, a mãe avalia a iniciativa como muito importante. “É muito bom porque tem criança que a mãe não está produzindo leite. Eu vou tirar de vez em quando e vejo que tem mãe que não consegue tirar e fica triste, às vezes está chorando, então é bom ter muitas mães que doam para outras crianças”.

Já a vendedora Janis Bechir, de 36 anos, está na outra ponta. Ela começou a doar leite no início deste ano, com a chegada de seu primeiro filho. A mãe relata que teve uma alta produção de leite e logo pensou em ajudar outros bebês. “A primeira coisa que veio à cabeça foi doar para a Santa Casa. Já tinha ouvido falar do projeto e gostei da experiência. Claro que no início foi mais fácil que agora, porque meu bebê está com uma maior demanda, mas pretendo continuar enquanto estiver amamentando”, adianta.

Para ela, a doação de leite é um ato de amor. “Eu amo amamentar o meu bebê, e mesmo de longe, através de um vidrinho, estou amamentando um bebê que precisa tanto”, enfatiza. A mensagem que Janis deixa para as outras mães é que busquem a doação; mesmo que seja de apenas um vidro por semana, já faz diferença para outras famílias.

Como funciona a doação

As doadoras externas, geralmente, chegam a partir de campanhas, como Janis. Entendendo que há um excedente de leite que o bebê não mama, a mulher se torna apta a compartilhar o alimento com a Fundação, sempre após a mamada de seu filho e desde que ela esteja amamentando o bebê e não esteja fazendo medicações de uso contínuo. E há ainda as doadoras internas, que são mães de bebês internados na Santa Casa e que fazem a extração do leite para seus filhos e, caso haja um excedente, para outros bebês que possam precisar.

Doação de leite humano

No caso das doadoras externas, as mulheres devem entrar em contato com a entidade ou com o Corpo de Bombeiros Militar do Pará, que é parceiro do projeto, por telefone - confira mais detalhes no infográfico. Após o contato e a identificação, as mães recebem orientações iniciais e, depois, a equipe do Corpo de Bombeiros vai até elas levando um kit que contém os frascos e todo o material necessário para a doação.

O ato deve ser feito em segurança, com uso de touca e máscara e fazendo a limpeza da mama. Após a retirada, as mães precisam identificar o material com seu nome completo, a data do nascimento do bebê e a hora e o dia da primeira retirada, e guardar o frasco em segurança no congelador, onde ficará por, aproximadamente, 10 dias.

Depois, o leite é recolhido pela equipe, levado à Fundação Santa Casa, onde é feita uma análise sensorial de verificação do alimento e do vidro, um controle de qualidade e, após a análise final, o hospital atesta se aquele leite está em conformidade para ser consumido.

Não podem doar leite as mães que possuem doenças infectocontagiosas, como as portadoras do código Z21, que é o do HIV/Aids, e as portadoras do HTLV 1 e 2. “Essas mães são totalmente contraindicadas pelas leis brasileiras a realizar a doação do seu leite”, destaca Sinara.

Doação de leite humano

Quem pode doar?

Mães que estejam amamentando seu bebê e tenham excedente de leite

Contato para fazer doação:

Banco de Leite Humano, pelo telefone 3251-7311

Projeto Bombeiros da Vida, pelo telefone 3251-7475

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