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Cursinhos populares no Pará contribuem para ampliar o acesso ao ensino superior

Projetos de educação popular focam no atendimento da demanda de pessoas em situação de vulnerabilidade

Fabrício Queiroz

O início do ano costuma ser um período festivo para muitos jovens que ingressam no ensino superior. A aprovação nos vestibulares das principais universidades do estado deve fazer a alegria de mais de 12 mil estudantes, porém outros continuarão em busca do sonho da graduação, sendo que grande parte são pessoas com menos recursos financeiros para investir em cursos particulares. Pensando na realidade desse público, diversas iniciativas de cursinhos populares tem se organizado na cidade para contribuir com a educação e incentivar a continuidade dos estudos.

Essa proposta diferenciada se torna inclusive um dos fatores que geram o engajamento de novos voluntários, que em alguns casos são ex-alunos que dão continuidade ao trabalho e ajudam na expansão do projeto. A estudante Larissa Ranielle, 21 anos, por exemplo, frequentou as aulas da Rede Emancipa nos anos de 2019 e 2020, conseguindo aprovação para a Universidade Federal do Maranhão, da UFRA e UFPA, onde atualmente ela cursa o bacharelado em geofísica.

“O Emancipa é um cursinho totalmente diferente dos mais demais, até mesmo dos gratuitos porque ele não te prepara para a prova do Enem, ele prepara para enfrentar a tua realidade e a universidade. Ele te faz perceber que você tem voz politicamente e socialmente, a gente tem a oportunidade de aprender de fato o que é a democracia”, analisa Larissa, que mesmo tendo alcançado seu objetivo de aprovação não se afastou do projeto.

“Eu queria retornar por uma questão de gratidão, porque é um local que eu me sinto à vontade e, principalmente, porque eu acredito na educação. Eu quero lutar e ver pessoas como eu, da minha mesma classe social e raça, dentro da universidade”, destaca.

Para este ano, a Rede Emancipa já dialoga com organizações de bairro, movimentos sociais e grupos afroreligiosos visando ampliar a oferta de cursinhos populares, bem como levar outras ações de direitos humanos para diferentes pontos da cidade. A previsão é que as inscrições para novos alunos ocorra em fevereiro, após a divulgação dos resultados dos processos seletivos e do Sistema de Seleção Unificada (SISU).

Movimento social promover ações educativas há mais de 30 anos

Ainda na capital paraense, no bairro do Jurunas, outra iniciativa também auxilia no acesso de estudantes em situação de vulnerabilidade nas universidades.  O Movimento de Educação Popular do Jurunas (Mepiju) foi fundado em 1988 por iniciativa do sociólogo Leopoldo Júnior e do professor de história Domingos Conceição, ofertando inicialmente aulas de português e matemática. Após a interrupção de suas atividades por alguns anos, o Mepiju se restabeleceu com um cursinho popular atendendo os moradores da região.

Desde 2021, as aulas ocorrem na Escola Estadual Arthur Porto, na avenida Fernando Guilhon, beneficiando cerca de 60 pessoas e com apoio crescente da comunidade. “A gente sempre foi muito abraçado pela comunidade tanto que, por isso, a gente a conseguiu parceria com os vários colégios que a gente fez parte”, conta a coordenadora do projeto, a pedagoga Stefanie Ribeiro, 23 anos, que cursou a graduação após passar pelo cursinho.

“Um dos meus professores na escola era do Mepiju. Vários amigos meus se inscreveram e desde essa época a gente falava que se a gente passasse, a gente voltaria porque a gente sempre gostou daqui. A gente viu que eles acreditavam na gente, que eles se importavam e nos valorizavam, independente do fato de estar ganhando ou não para dar aula”, comenta a professora, que ressalta alguns diferenciais da proposta pedagógica do projeto.

“Desde sua fundação, o Mepiju seguiu a filosofia freireana. Nós sempre prezamos o respeito e uma forma de ensino que fuja daquele método tradicional. Os professores sempre foram bem receptivos, por exemplo, em relação a opiniões, eles querem que os alunos participem, para que não seja aquela coisa engessada e é por isso que a comunidade nos aceitou bastante”, diz Stefanie.

Por conta dessa proposta e do desejo de realizar um trabalho voluntário, as gêmeas Camille e Izabella Dutra, 20 anos, que cursam licenciatura em Letras – Língua Portuguesa na UFRA, resolveram contribuir com o projeto há cinco meses com planos de seguir colaborando com o sonho de muitos jovens da periferia de Belém. “Na faculdade, a gente aprende muito a parte teórica de como dar aula, de como trazer aquele conteúdo para determinado aluno, mas aqui a gente pode colocar em prática essa teoria”, afirma Camille.

“A gente sempre procura interagir nas nossas aulas com a realidade do aluno, que também é um dos objetivos do projeto, sempre buscar usar exemplos do cotidiano deles porque queremos facilitar esse processo de aprendizado. A ideia é que o professor não seja o centro da sala de aula, mas mostrar que o aluno é também um instrumento de aprendizado porque todos nós dentro de sala aprendemos uns com os outros”, complementa Izabella.

Assim como elas, outros cerca de 90 voluntários atuam no Mepiju, incluindo docentes das diversas áreas do conhecimento, psicólogos e terapeutas ocupacionais que visam atender todas as demandas de preparação dos jovens que buscam ingressar no ensino superior. As inscrições para o cursinho estão abertas até o final de fevereiro e as turmas estão previstas para iniciar em março.

“Nós queremos trabalhar nessa área da saúde mental dos alunos em 2023. No ano passado, nós tivemos muitos casos de alunos com ansiedade, que precisaram se afastar porque eles não estavam bem psicologicamente, então queremos ajudar para tentar minimizar a ansiedade em relação ao Enem”, esclarece Stefanie Figueiredo.

Para conhecer as ações dos cursinhos populares do Mepiju e da Rede Emancipa, entre em contato por:

Movimento de Educação Popular do Jurunas (Mepiju)

Endereço: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Arthur Porto - rua Engenheiro Fernando Guilhon. Bairro: Jurunas

Telefone: (91) 99370-9649

Redes sociais: facebook.com/mepjurunass

Rede Emancipa

Redes sociais: instagram.com/emancipabelemananindeua

facebook.com/redeemancipabelem

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