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Abrigo oferece acolhimento para idosas

20 mulheres com idades entre 68 e 100 anos recebem assistência e apoio de entidade filantrópica em Belém

Fabrício Queiroz

Carinho, amor e acolhimento são os princípios que regem o trabalho do Abrigo São Vicente de Paulo, localizado na travessa Mauriti, no bairro da Pedreira, em Belém. Fundado há quase 86 anos pelo padre Frederico, da congregação lazarista, o local funciona como uma instituição de longa permanência para idosas. Apesar do importante trabalho filantrópico realizado em prol de mulheres com parentes distantes ou sem familiares vivos, a entidade depende de doações e da ajuda de voluntários para manter seu funcionamento.

Atualmente, 20 idosas com idades entre 68 e 100 anos vivem no abrigo com pagamento de mensalidades. Os valores cobrem custos de manutenção do prédio, que tem 12 quartos individuais e sete coletivos, bem como a remuneração da equipe multiprofissional responsável pela assistência, alimentação e suporte socioemocional para as mulheres.

“A gente trabalha de forma sistematizada. Cada uma tem uma metodologia aplicada diferente em que a gente tenta atender as necessidades individuais e coletivas, estando cientes de que precisam estar sãs biopsicossocialmente. É um desafio”, explica Lívia Oliveira, enfermeira e responsável técnica pelos atendimentos das pacientes institucionalizadas no abrigo.

Para isso, as contribuições de damas de caridade, instituições públicas e privadas, além das ações como bazares de pechincha, bingos e rifas também são essenciais para angariar recursos e cobrir os custos das inúmeras necessidades diárias da entidade. Alimentos perecíveis e não-perecíveis, fraldas geriátricas e material de limpeza estão entre as principais demandas.

“Houve retração nas doações no período da pandemia e todas as instituições de longa permanência fomos pegas, podemos dizer assim, de calças curtas porque estávamos diante de um desafio desconhecido e não tínhamos estrutura nem recursos. Agora o público tem voltado a doar, mas ainda precisamos muito de doações de leite, por exemplo, porque aqui se consome de 1,5 Kg a 2 Kgs por dia, já que para muitas a base alimentar é o leite, o mingau e a vitamina. Além disso, é necessária a proteína, que ficou muito cara, café, óleo, frutas, legumes, verduras, fraldas descartáveis, que é outro produto que ficou muito caro, além de roupa de cama porque em alguns casos é preciso trocar até três vezes por dia os lençóis”, comenta Sylvia Cruz, presidente da Associação Senhoras da Caridade do Abrigo São Vicente de Paulo.

Mesmo diante das dificuldades da gestão do espaço, Sylvia fala com emoção do trabalho voluntário em que se engajou há 17 anos. Ela conta que conheceu a instituição após passar por um tratamento de saúde que a levou a receber um fígado transplantado. A expressão da fé católica sempre fez parte da vida da presidente, que trata da experiência como um chamado divino, que atraiu não só ela como outros integrantes.

“O carisma vicentino é a caridade, a humildade e a oração, tanto que aqui você não vai ver socialites ou qualquer forma de autopromoção. Aqui nós buscamos servir através do amor, da caridade e do acolhimento”, ressalta Sylvia Cruz.

Caridade mobiliza atitude voluntária

Como forma de promover a integração e socialização das idosas, o Abrigo São Vicente de Paulo oferece diversas atividades recreativas, educacionais e religiosas, que fortalecem os vínculos entre as institucionalizadas e a equipe, como a festa de Natal realizada na última semana com participação da Mamãe Noel, música ao vivo e distribuição de presentes. “O principal é o acolhimento e esse carinho que elas têm que é o que diferencial essa casa oferece. Aqui a gente sempre fala que é um abrigo, mas é sobretudo um lar que acolhe todas elas”, enfatiza Sylvia Cruz.

Por isso, a avaliação de quem vive no espaço é de um ambiente familiar. É o caso da professora aposentada Bárbara Cea da Silva, 78, que há cinco anos mora no abrigo. Ela relata que decidiu deixar a residência própria no bairro do Telegrafo pela instituição depois de receber o diagnóstico de glaucoma em estágio avançado e que lhe custou a perda total da visão. Quando ingressou no abrigo, Bárbara ainda enxergava e apesar de manter certa autonomia, ela hoje necessita do apoio contínuo de cuidadoras e enfermeiras especializadas.

“Eu estou bem e não penso em sair daqui. Eu morava sozinha desde que minha mãe e minha irmã morreram. Minha sobrinha queria que eu fosse morar com ela e minha família não queria que eu viesse pra cá, mas eu vim por vontade própria e não me arrependo. O abrigo é como se nós fossemos uma família”, afirma a aposentada.

Por conta dessa perspectiva, quem atua no Abrigo São Vicente de Paulo encara a filantropia como um gesto que vai além do atendimento das necessidades materiais mais básicas das idosas. Entre os funcionários e voluntários há um misto de sentimentos que envolve gratidão, vocação e alegria por poder se dedicar ao outro.

Na avaliação da enfermeira Lívia Oliveira, a satisfação do trabalho com pessoas da terceira idade é fruto da dedicação e do aprendizado no cotidiano com elas. “É uma questão vocação e de gostar do que você está fazendo porque para lidar com esse público é preciso muito tato, muita emoção e muita constância. São pacientes que passam por declínios, uma hora ele está bem e em outra está com uma instabilidade fisiológica ou psicológica, mas que trazem muitas experiências que eles trazem de uma vida toda. Muitas vezes eles só precisam dessa troca”, afirma.

Já para a contadora aposentada Maria de Jesus Beltrão, o voluntariado que realiza há oito anos no Abrigo São Vicente de Paulo é uma forma de vivenciar a saúde reconquistada após a cura de um câncer. Em sinal de gratidão ao tratamento bem-sucedido, Maria de Jesus se aproximou do projeto, que funciona próximo à sua casa, e o transformou em uma parte do seu dia-a-dia.

“Depois da quimioterapia, eu procurei um lugar, encontrei aqui e me apaixonei. Desde 2016 eu passei a ser aquela voluntária de participativa, que vai ao hospital acompanhar alguém e também ajudo na parte administrativa. Logo no início eu chegava em casa e chorava muito porque eu vi aqui pessoas que a família não vinha visitar ou dar carinho, sendo que às vezes elas só querem falar e que tu ouças. O que me satisfaz é fazer algo pelo outro”, destaca.

Com a aproximação do final de ano, Sylvia Cruz avalia que tradicionalmente costuma aumentar a mobilização das pessoas e o volume de doações. Apesar da importância desses gestos nesse período, a presidente da associação frisa que considera que o voluntariado é uma missão que merece dedicação constante.

“As pessoas permanecem aqui 365 dias por ano, 24 horas por dia e os recursos são escassos, tanto humanos quanto materiais. É importante lembrar que nós também envelheceremos e que as senhoras que residem aqui ou em outros asilos precisam de carinho, de amor e de atenção durante o ano inteiro. Nós esperamos que essa época de Natal se prolongue por muito tempo e que as pessoas se sintam cada vez mais motivadas a amar e a ter empatia”, pontua.

Serviço:

As ações do Abrigo São Vicente de Paulo são divulgadas na internet nos perfis:

instagram.com/abrigosvp

www.facebook.com/people/Abrigo-São-Vicente-de-Paulo

Para informações e realizar doações, entre em contato pelo telefone (91) 98369-5602

Endereço: Tv. Mauriti, nº 1061, entre Marquês de Herval e Visconde de Inhaúma. Bairro: Pedreira

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