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Sessão da Câmara Municipal em Outeiro é marcada por vaias e cobranças da população

Em vários momentos, o presidente da Casa, vereador Zeca Pirão (MDB), precisou interromper as falas na tribuna para pedir silêncio e respeito a quem discursava. Transporte público é a principal queixa

Eduardo Laviano

A segunda edição do projeto Câmara Itinerante da Câmara Municipal de Belém levou os vereadores para Outeiro nesta terça-feira (28), em sessão ordinária que ocorreu na quadra poliesportiva da Fundação Escola Bosque. O evento foi marcado por diversas reclamações relacionadas ao transporte público na ilha, com pedidos por asfalto e apoio aos produtores e comerciantes locais, mas também por manifestações contra e a favor de diversos vereadores, entre palavras de ordem e vaias proferidas por grupos que foram em caravana para a sessão. Em vários momentos, o presidente da Casa, vereador Zeca Pirão (MDB), precisou interromper as falas na tribuna para pedir silêncio e respeito a quem discursava.


"Isso era para ser um momento legal para a ilha, para falar sobre as demandas do povo de Outeiro, e não um palco para torcidas organizadas de um vereador ou outro como se estivéssemos numa partida de futebol", criticou o vereador Emerson Sampaio (PP) quando esteve na tribuna. O vereador Fernando Carneiro (Psol) é o autor do projeto de lei que estabeleceu a Câmara Itinerante e foi o parlamentar mais vaiado entre os que se pronunciaram na sessão. Ele falou que o projeto precisa mirar em efeitos práticos, mas lamentou as claques levadas por alguns vereadores ao local. 

"O aspecto positivo é ter o contato direto com a comunidade, ouvir as demandas. A gente percebe que tem muita carência, mas também percebe que têm prioridades. O principal problema aqui é o do transporte, que atinge toda a ilha. Mas ninguém está aqui em campanha. Infelizmente alguns vereadores não conseguem perceber que não é momento de autopromoção. Ainda estamos no processo de educação dos próprios vereadores", afirmou ele. Na próxima sessão do Colégio de Líderes, Carneiro pretende sugerir critérios para evitar que a cena se repita nas próximas paradas da Câmara Itinerante. 

Os problemas relacionados ao transporte público e a dificuldade de locomoção na ilha dominaram a sessão, com queixas sobre o serviço, com pouca oferta de transporte coletivo na localidade. A vereadora Lívia Duarte (Psol) endereçou o tema com um requerimento de audiência pública da Câmara focada no tema, além de ter solicitado que as próximas sessões itinerantes contem com a presença de representante do poder executivo de Belém.

"Precisa de audiência com a Semob (Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana) porque é a maior reclamação do povo de Outeiro. Em todas as nossas andanças e reuniões com comunidade essa foi a grande pauta, a dificuldade que as pessoas têm de se locomover para garantir outros direitos, no sentido de não ser contratado para um emprego porque não consegue chegar a tempo, não pode ser empregada ou babá porque não tem como ir, ou então não vai ao hospital porque não tem como. As pessoas não têm como esperar três horas um ônibus que chega quebrado", argumentou. O requerimento de Duarte foi aprovado em bloco, por unanimidade. 

Líder da oposição na Câmara, o vereador Matheus Cavalcante (Cidadania) lembrou que transporte público é um problema em toda a cidade, mas que é agravado nos pontos mais distantes, em especial os que ficam nos distritos como Outeiro, Mosqueiro e Icoaraci. Para ele, as reclamações dos moradores reforçam o caráter "indevido" do aumento da tarifa de ônibus pleiteado pelos empresários de transporte público da capital. 

"Eles que moram distante são quem mais sofrem com a péssima qualidade do transporte público de Belém. A primeira solução é ter a licitação do transporte público efetivada, que deve ser uma iniciativa do executivo municipal. Temos um transporte sucateado e com uma frota pequena, com a população sendo desrespeitada diariamente. Nos pontos distantes, defendo a criação de hidrovias. Temos rios extremamente navegáveis, que poderiam ser utilizados ao longo da costa, de maneira segura, sem ser de uma ponta a outra como é em Barcarena", sugeriu.

Graciete Nascimento é engenheira agrônoma e mora há 11 anos em Outeiro. Ela aprovou a iniciativa, dizendo que pelo menos agora a comunidade está sendo ouvida - a última vez em que uma sessão da Câmara foi realizada no distrito ocorreu em abril de 1995. Nascimento afirma que os problemas só se acumulam na ilha desde que ela chegou lá - e que o transporte público é só um entre muitos.

"Sei que muito foi dito mas essa questão do transporte precisa ser levantada aqui sim. Precisamos urgentemente de uma resposta. Que vocês se unam e deem uma resposta para Outeiro, que está perdendo empregos, perdendo estudantes universitários por não ter a linha Outeiro-UFPA. O retorno de aprendizagem é zero para quem vai porque já chegam cansados na aula. E precisamos de uma unidade mista e o retorno da nossa maternidade aqui, urgente. É uma gente muito carente. Já paguei Uber para uma mulher dar luz na UPA. Sem contar a questão da orla. Precisamos olhar para a orla. Se todas as esferas se juntarem, sei que vamos ter a nossa orla aqui", convocou. 

Costureira que morou a vida toda na ilha, Guilhermina Martins foi pedir saneamento básico aos vereadores de Belém, em especial a rua dela, a Violetas. 

"As ruas estão todas cheias de buraco, sem condições de ir e vir principalmente quando chove. Ninguém pode sair de casa. Muita lama. Os ônibus são todos quebrados. Não pedido só meu, é da população carente em geral, principalmente lá no bairro da Brasília, que é abandonado. Na minha rua tinha asfalto mas acabou faz tempo. Hoje é só o lamaçal. Eu até brinco quando chove dizendo que o asfalto amoleceu", conta.

Lucicléia dos Santos Souza está desempregada no momento e esteve na sessão para ouvir o que os vereadores têm a dizer. Ela mora há 30 anos em Outeiro e classifica o abandono da ilha como revoltante - e criticou os vereadores que disseram que a ilha estava "ótima".

"Pra quem? Está cada vez mais precária. De transporte, saúde, segurança. Na verdade temos sucata aqui, não é transporte. Pega fogo, cai a porta. Entrou outra frota mas não vemos melhoria. Quando implantaram o transporte aqui tinha uns cinco mil habitantes. Hoje em dia somos um distrito grande, para ser um município. A unidade básica de saúde é a mesma de 1900 e antigamente. No governo do Edmilson deu uma melhorada na época, mas só isso. As escolas de ensino médio fecharam as portas. O que tem de bom nessa ilha? A única rua asfaltada no bairro que eu moro é referência. Avisam para parar na rua asfaltada. Que que é isso? O que temos de bom mesmo são nossos moradores, que lutam no dia-a-dia"

Convidada 

A deputada federal Elcione Barbalho (MDB) apareceu na sessão a convite do correligionário Zeca Pirão (MDB). 

"Eu virei a mãe do governador. Perdi até a identidade, gente. Aí pega, viu? Porque acham que eu posso tudo, que eu faço tudo. Na verdade eu sou mãe é do Helder, não pretendo perder meu filho nunca. Ele está governador. Também já fui vereadora e aprendi muito", afirmou, ao lembrar os participantes da sessão que o processo público de liberação de recursos para obras não é tão fácil, mas que as melhorias "estão chegando". Aplaudida e elogiada por parlamentares, a deputada aproveitou ainda para prometer que pediria um milhão de reais para que o prefeito Edmilson Rodrigues (Psol) possa investir em Outeiro e que iria "ligar para a Hannah [Ghassan, secretária estadual de planejamento de administração] e daria uma resposta" para Zeca Pirão ainda na noite desta terça-feira (28). 

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