O que Bolsonaro já tinha falado sobre prisão, antes da decisão de Moraes?
Antes de ter a prisão domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já havia mencionado a possibilidade de ser preso. Em algumas ocasiões, Bolsonaro minimizou os efeitos de uma detenção, dizendo que estava preparado para a prisão e que "daria trabalho" em reclusão. Em outras, o ex-presidente mudou o tom e demonstrou receio, afirmando "não estar tranquilo" com a possibilidade de prisão, que seria "o fim" de sua vida.
Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada por Moraes nesta segunda-feira, 4, pelo descumprimento reiterado de medidas cautelares. Como mostrou o Estadão, aliados do ex-presidente avaliam que, ao publicar um vídeo com Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) lançou uma "isca" para o decreto de prisão, tentando precipitar uma reação do governo dos Estados Unidos ao curso do processo contra seu pai.
Em 30 de janeiro, em entrevista à Bloomberg, serviço de notícias em tempo real dos Estados Unidos, Bolsonaro afirmou estar "preparado" para ser preso a qualquer momento."Durmo bem, mas já estou preparado para ouvir a campainha tocar às 6h da manhã: 'É a Polícia Federal!'", afirmou o ex-presidente.
Na ocasião, Bolsonaro acumulava três indiciamentos: além do inquérito por tentativa de golpe de Estado (hoje ação penal), Bolsonaro foi implicado pelas investigações sobre a fraude em seu cartão de vacina e no caso das joias sauditas, relevado pelo Estadão em março de 2023. Em janeiro, o ex-presidente aguardava os pareceres da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre as três investigações. Cabia à cúpula do Ministério Público Federal denunciá-lo ou não em cada um dos casos.
A PGR denunciou Bolsonaro e mais 33 por tentativa de golpe de Estado em 18 de fevereiro. Quanto ao ex-presidente, a Procuradoria viu indícios de crimes que, somados, poderiam render 43 anos de prisão, consideradas as penas máximas e os possíveis agravantes de cada delito. Dois dias depois da denúncia, em uma agenda do PL, o ex-presidente minimizou a possibilidade de prisão. "O tempo todo: 'Vamos prender o Bolsonaro'. Caguei para a prisão", disse Bolsonaro em evento do PL em Brasília.
Em 26 de março, em entrevista após o julgamento da Primeira Turma do STF que o tornou réu, o ex-presidente voltou a falar sobre a possibilidade de prisão. "Se eu estivesse devendo qualquer coisa, eu não estaria aqui. Fui para os Estados Unidos graças a Deus, porque se eu estivesse aqui no dia 8 de janeiro, estaria preso até hoje, ou morto, que eu sei que é sonho de alguns aí. Eu preso vou dar trabalho", disse Bolsonaro.
Em 2 de abril, em entrevista ao canal AuriVerde Brasil, Bolsonaro voltou a admitir a possibilidade de ser preso. O ex-presidente afirmou que não estava "tranquilo" diante de "uma questão como essa". "Estou aqui no Brasil, mas é lógico que você não fica tranquilo com uma questão como essa, ninguém quer perder a liberdade", afirmou Bolsonaro.
No mês seguinte, em mais uma entrevista ao canal AuriVerde Brasil, Bolsonaro voltou a dizer que, se fosse preso, faleceria durante o período de detenção. "Não vou sair do Brasil. Me prenda. Está previsto 40 anos de cadeia. Me prendam. Estou com 70 já, quase morri na última cirurgia. Vou morrer, não vai demorar", afirmou Bolsonaro em 16 de maio. "Eu com 40 anos de cadeia no lombo, não tenho recurso para lugar nenhum, eu vou morrer na cadeia. Qual crime? Crime impossível, golpe da Disney."
Em 18 de julho, Bolsonaro foi alvo de medidas cautelares por tentativa de coação do processo, entre as quais o uso de tornozeleira eletrônica. Após instalar o equipamento na Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF), Bolsonaro concedeu entrevista a jornalistas. Ao ser questionado sobre a possibilidade de prisão, o ex-presidente declarou que "o sentimento é de que vai acontecer". "Isso daí (prisão), a princípio, o sentimento é de que vai acontecer. No máximo no mês que vem, quando é o julgamento", afirmou.
Além do uso de tornozeleira, o ex-presidente ficou proibido de usar redes sociais, inclusive por intermédio de terceiros.
Em 21 de julho, Bolsonaro foi à Câmara e deu declarações públicas ao lado de aliados, que transmitiram o conteúdo do encontro em suas redes sociais. Em um despacho no mesmo dia, Moraes afirmou que a proibição de acessar redes inclui, "obviamente", retransmissões da imagem de Bolsonaro. A defesa de Bolsonaro alegou desconhecer a proibição de conceder entrevistas. O relator decidiu que o ex-presidente cometeu uma "irregularidade isolada".
Nesta segunda-feira, 4, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apagou de suas redes sociais o vídeo que mostrava Bolsonaro participando, por telefone, do ato na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo, 3. Após a reincidência no descumprimento da medida cautelar, Moraes decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro.
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