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Nise Yamaguchi defende cloroquina, nega gabinete paralelo e senadores pedem acareação sobre tentativa de mudar bula

Médica disse que se encontrou com Bolsonaro para discutir tratamento precoce contra a Covid

Thiago Vilarins, da Sucursal de Brasília

A oncologista Nise Yamaguchi defendeu nesta terça-feira (1º), em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado Federal, o uso da cloroquina como integrante do tratamento inicial contra a covid-19, a autonomia dos profissionais de saúde para prescrever e a independência dos pacientes, mas negou que tenha tentado alterar a bula do remédio ou tenha participado de reunião com esse objetivo.

Nise também negou participar de um "conselho paralelo" que formule políticas públicas, mas reconheceu ter trabalhado como "voluntária" com um "grupo de médicos" junto ao governo Bolsonaro, ao qual intitulou como "colaboradora eventual". O gabinete está sendo discutido na CPI, que acredita que ele seria um assessoramento paralelo que alimentaria o presidente da República com informações negacionistas no combate à pandemia de coronavírus.

No entanto, ela entrou em contradição ao comentar que recebeu do presidente Jair Bolsonaro informações sobre o chamado "tratamento precoce", que não existe no caso da covid-19. A comunidade científica afirma que não há esse tipo de tratamento em pacientes com a doença, e que a melhor forma de se proteger é por meio da vacinação, uso de máscara e distanciamento social.

"Recebi dele informação de que tinha um tratamento precoce sendo discutido na França, nos Estados Unidos", disse Nise. A médica por vezes fala de "tratamento precoce", afirmando que trata-se de tratamento dos sintomas leves, o que seria um tratamento inicial, que é incentivado por autoridades sanitárias e é diferente de tratamento precoce.

Para a médica, nesse tratamento devem ser usados medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina, que não possuem eficácia comprovada contra covid-19. "Expliquei (ao presidente Bolsonaro) que precisávamos de dados científicos e que, por isso, eu ia conversar com o Conselho Federal de Medicina (CFM) para validar a possibilidade do paciente de receber o medicamento e do médico de prescrever. Isso foi bastante importante para mim, porque eu pude participar de discussões técnicas", afirmou Nise.

A oncologista disse que se reuniu cerca de quatro vezes com Bolsonaro e "inúmeras" vezes no Ministério da Saúde. Com o ex-ministro Eduardo Pazuello, diz ter se reunido em duas ocasiões — uma presencial e outra virtualmente, na qual o general queria entender o motivo pelo qual ela discutia o tratamento precoce, segundo Nise.

Acareação

Insatisfeito com o depoimento da médica, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), já avisou que será necessário fazer uma acareação com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta ou com o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. Mandetta havia relatado aos parlamentares que participou de uma reunião no Palácio do Planalto, em abril do ano passado, quando viu um papel não timbrado que seria a minuta de um decreto presidencial para alterar a bula de modo a indicar o medicamento contra a covid-19. Dias depois, o chefe da Anvisa, Antonio Barra Torres, confirmou a reunião e disse que Nise Yamaguchi parecia estar "mobilizada com essa possibilidade".

Pressionada várias vezes pelo relator, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), e por outros senadores, ela negou e disse que a reunião foi para tratar da Resolução 348, da Anvisa, sobre "novas indicações terapêuticas e insumos estratégicos". Alertada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) de que, ao negar o fato, ela poderia estar incriminando as duas testemunhas que lhe antecederam, ela disse que Barra Torres e Mandetta podem ter se equivocado. 

"Acho que se equivocaram. Acharam que queríamos mudar a bula. Mas não foi isso que ocorreu. Fui convidada para uma reunião oficial e nessa situação não houve minuta de bula. Nem discuti isso. Não existiu nem ideia de mudança de bula por minuta ou decreto.  Sou especialista em regulação, isso não existe", afirmou a médica, que entregou a comissão o documento, que, segundo ela, não trata de alteração de bula, mas de disponibilização de medicamentos. 

Yamaguchi apresentou aos parlamentares uma troca de mensagens via WhatsApp entre ela e o médico Luciano Azevedo, também defensor do "tratamento precoce", discutindo a oferta de medicamentos, como a cloroquina, na rede pública de saúde. As conversas foram registradas por ela em cartório. Agora o G7, ou seja os sete integrantes da CPI que não são da base do governo, planejam convocar o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, citado pela médica, para  comprovar a existência do "gabinete paralelo".

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Política
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