Macron vem a Belém assinar acordo para reforçar bioeconomia

Capital do Pará será a primeira cidade visitada pelo presidente da França no Brasil. Agenda conta com visita ao Combu e encontro com lideranças indígenas

Camila Azevedo
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Belém vai receber o presidente da França, Emmanuel Macron, na próxima terça-feira (26). A visita faz parte dos preparativos para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30, que vai ser realizada na capital do Pará em 2025. Entre os assuntos que serão tratados, o francês deverá discutir a assinatura de uma cooperação em bioeconomia para a Amazônia, conforme adiantado pelo governador do estado, Helder Barbalho, em postagem nas redes sociais.

O momento contará com a participação do ministro das Cidades, Jader Filho, e do ministro da Transição Ecológica e Coesão Territorial da França, Christophe Béchu. O tratado visa aprimorar a capacidade de estruturação de projetos. A agenda do presidente francês foi definida, ainda, para visitar um espaço considerado referência em bioeconomia amazônica: uma fábrica de chocolates localizada na Ilha do Combu. Macron também terá um encontro com diversas lideranças indígenas da região.

Essa é a primeira vez que o chefe de Estado visita o Brasil. Ele será recebido em Belém, ponto de partida das três cidades previstas na agenda de viagem, pelo presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva. Os detalhes sobre o encontro vêm sendo acertados há um tempo. No final de fevereiro, o embaixador da França, Emmanuel Lenain, esteve na capital para alinhar os compromissos junto com o governador do Pará, que fará parte das conversas durante a permanência de Macron na capital.

As frentes de atuação previstas para envolver Brasil e França não estão sendo pensadas apenas no campo do meio ambiente. O embaixador também participou de uma reunião com o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. Na ocasião, iniciativas relacionadas a parcerias educacionais, como intercâmbios de pós-graduação e aperfeiçoamento dos paraenses na língua francesa, foram debatidas. “Pensamos em um investimento na área, para preparar jovens para recepcionar [os visitantes] durante a COP 30”, disse Rodrigues nas redes sociais.

Agenda

A passagem de Emmanuel Macron ao Brasil será também por Itaguaí, no Rio de Janeiro. Ele visitará a base do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) - parceria firmada entre os dois países, em 2008, para a transferência de tecnologia voltada à fabricação de embarcações militares. Por fim, o presidente francês irá para Brasília, no Distrito Federal. Em ambos os locais, Lula estará o acompanhando. O Senado brasileiro divulgou uma nota afirmando que Macron será recebido pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, no dia 28.

Acordos

Ainda conforme o Senado, um dos temas esperados na pauta de conversa entre Brasil e França é o acordo de livre comércio envolvendo a União Europeia e o Mercosul. As negociações são realizadas desde 1999 e uma primeira proposta foi feita em 2019. No entanto, o presidente francês já se posicionou contrário ao tratado em mais de uma ocasião. Ele justifica ser “impossível” concluir as questões nas condições em que se encontravam - o que reforça a atitude protecionista francesa em relação ao mercado interno.

Outro acordo que deverá ser definido entre os países, segundo noticiou a CNN, é o de cooperação internacional entre as polícias francesas e brasileiras no combate ao garimpo ilegal na Guiana Francesa - território ultramarino pertencente à França que faz fronteira com o Amapá. A região se tornou uma forte área de crimes relacionados ao meio ambiente em ambos os lados. Ainda de acordo com o portal de notícias, deverão ser definidas operações conjuntas, treinamentos e compartilhamento de resultados sobre o ouro extraído.

França busca protagonismo mundial

A França é o único país da Europa que tem um território na Amazônia. Trata-se da Guiana Francesa, região ultramarina que faz fronteira com o Brasil por meio dos 730 quilômetros de divisa com o estado do Amapá. A posição estratégica, de acordo com especialistas, tem sido vista como uma forma de garantir que o país alcance protagonismo dentro da nova ordem global - baseada em um sistema multipolar e multilateral - conquistando, então, parceiros comerciais e espaços internacionais.

Carlos Siqueira, doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), explica que essa movimentação também é uma forma de colocar a França em evidência no pioneirismo da preservação ambiental junto com os demais países que fazem parte da Amazônia, uma vez que pertencer ao bioma, por meio da Guiana Francesa, garante legitimidade dentro do processo. “A França não é um Estado aventureiro. É parceiro estratégico na construção de projetos para o desenvolvimento nacional”, diz.

“A COP 30 na Amazônia, na cidade de Belém do Pará, é a oportunidade de demonstrar compromissos concretos em fortalecer a agenda ambiental com foco na crise climática, visto que as decisões das COPS ao longo de quase três décadas deixa à desejar, já que os repasses de tecnologia e recursos financeiros para os países periféricos ainda não foi realizado. Assim, a visita de Macron pode fortalecer a posição brasileira nessa questão, até porque o Brasil está projetando a sua política externa a partir da defesa do meio ambiente”, adiciona Carlos.

Demandas ribeirinhas serão repassadas durante visita de Macron

Uma das expectativas para a visita de Emmanuel Macron a Belém é o repasse de demandas ribeirinhas das comunidades da Ilha do Combu. Dona Nena, proprietária da Casa de Chocolate da Filha do Combu, empreendimento considerado exemplo de bioeconomia em Belém desde 2006, afirma que uma escuta ativa dos moradores da região deverá ser feita para colher quais são as necessidades atuais. “A gente vai tentar conversar com algumas pessoas aqui da ilha para ver quais os anseios que podemos estar abordando”, pontua.

image Os preparativos para a visita de Macron estão sendo feitos há dois meses na Casa de Chocolate da Filha do Combu, empreendimento considerado exemplo em bioeconomia da Amazônia (Foto: Igor Mota / O Liberal)

As tratativas para a visita ao local estão sendo feitas há cerca de dois meses, quando dona Nena recebeu o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, na Casa de Chocolate, por meio da embaixada. “A partir daí, a gente veio conversando e estreitando esses laços. Para mim, foi uma surpresa, eu sabia que ia receber uma autoridade muito importante, mas não esperava que fosse o presidente. É uma honra muito grande ter ele aqui no nosso estabelecimento”, comenta a empreendedora.

Macron deverá visitar, ainda, a plantação de cacau que mantém a fábrica da dona Nena. Ela garante que os preparativos para o encontro estão a todo vapor e destaca que há uma intensificação na produção de chocolates, tanto para o encontro com o presidente francês, quanto para a páscoa. “A gente espera ter a oportunidade de oferecer nosso chocolate quente, para que ele [Macron] experimente as especiarias daqui do nosso Pará”, finaliza.

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