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EXCLUSIVA: Braço direito de Pazuello fala sobre saída de ministro, pandemia e nova gestão

Confira a entrevista ao jornal O LIBERAL do agora ex-assessor especial de relações institucionais do Ministério da Saúde, Airton Soligo

Elisa Vaz e Rita Soares

Pela quarta vez desde que o governo de Jair Bolsonaro iniciou, o Ministério da Saúde estará sob novo comando - Eduardo Pazuello deixa a pasta para o médico Marcelo Queiroga. Em entrevista exclusiva ao jornal O Liberal, o braço direito de Pazuello, que ocupava o cargo de assessor especial de relações institucionais do Ministério da Saúde, Airton Soligo, falou sobre a troca de gestão em meio à crise sanitária vivenciada hoje no Brasil, causada pela pandemia da covid-19.

Ao deixar a pasta, Soligo, que era o responsável pela ação de vacinação no país durante a gestão de Pazuello, faz um balanço e justifica ritmo lento de imunização no Pará, que segue entre os índices mais baixos. Ele ainda garante que o Estado receberá pelo menos mais 400 mil doses até o fim deste mês. O ex-assessor especial também elogiou a atuação do Pará no que diz respeito ao controle da pandemia, por meio das medidas restritivas, e garantiu que, até maio, 65% dos grupos prioritários estarão imunizados no país. Confira principais trechos da entrevista:

Com a saída de Eduardo Pazuello e a troca de gestão no Ministério da Saúde, o senhor permanece na pasta?

AIRTON: É uma decisão minha acompanhar o ministro Pazuello na saída. Foi um convite pessoal, de ajudá-lo nesse período de onze meses, os mais dramáticos da história do país, e tive oportunidade de servir ao Brasil no Ministério da Saúde. Acho que nossa missão termina nesse momento, porque eu fazia parte de uma equipe, e essa equipe deixa o Ministério.

O senhor deixa o Ministério em um momento crítico, em que o número de mortes diárias já ultrapassa os três mil no país, e há uma demanda muito grande por vacina. Que avaliação o senhor faz do trabalho do Ministério nesse período em relação à vacina?

AIRTON: Primeiro, é preciso entender que falta vacina para todo o mundo. O Brasil não tem essa situação tão dramática do ponto de vista da disponibilidade de vacinas no mercado. O Ministério, através do ministro Pazuello, fez o que era possível na compra de vacinas. Hoje tem apenas seis países no mundo que produzem vacinas; um desses, no grupo seleto, é o Brasil. Nós contratamos, ainda no ano passado, 100 milhões de vacinas, em uma parceria Oxford e a nossa Fiocruz. Essas vacinas começam a ser entregues e vai ser de uma forma crescente. São milhões de vacinas produzidas por um laboratório nosso. Quando nós falamos da Pfizer e da Janssen, elas não tinham vacina para o primeiro semestre. A própria Pfizer tinha 500 mil em janeiro, 500 mil em fevereiro e 1 milhão em março. Todas as frentes possíveis no mundo o Ministério contratou. O presidente Jair Bolsonaro, numa medida ainda preventiva, no ano passado abriu uma Medida Provisória de R$ 20 bilhões, ou seja, recursos suficientes para comprar vacinas para os 210 milhões de brasileiros; 422 milhões de vacinas já estão contratadas.

O Pará tem ocupado uma das últimas posições no índice de vacinação da população. A crítica que se faz é que o envio pelo Ministério da Saúde tem tido um ritmo muito lento e em pouca quantidade. O que está ocorrendo para este resultado e por que esse ritmo não tem sido mais ágil?

AIRTON: O primeiro critério na divisão do país, e o governador do Pará desde o primeiro momento reclamou em relação a isso, não foi o populacional. Foram os critérios dos profissionais de saúde, das populações indígenas, pessoas idosas em abrigos e potencial de idosos. Então, nesses quesitos, o Pará não tem uma população de idosos maior que outros Estados brasileiros; o número de profissionais de saúde do Pará é inferior a outros Estados. O Pará recebeu quase 950 mil doses de vacina - 294 mil da AstraZeneca e 650 mil da Covax. Hoje, as vacinas que estão no Pará já possibilitam vacinar 7% da população do Estado.

O senhor acredita que nós teremos a maior parte da população vacinada quando?

AIRTON: Neste momento, o Brasil já enviou aos Estados e municípios 32 milhões de doses da vacina. Até o final de março, serão mais 15 milhões, e até o final de abril, nós chegaremos a 80 milhões de doses distribuídas. Como existe a AstraZeneca, que tem a segunda dose três meses depois, ao final do mês de abril teremos 50 milhões de brasileiros que já receberam a primeira dose, ou seja, 65% dos grupos prioritários do Brasil vão estar vacinados com a primeira dose em abril. Isso, no mundo, na situação atual, é uma resposta vencedora.

Desse total de vacinas distribuídas até o fim de março, qual será o número enviado ao Pará?

AIRTON: É preciso dizer que o Pará, na última distribuição, teve, por uma determinação do ministro Pazuello, uma correção e recebeu mais de 100 mil doses adiantadas para tirar o Estado daquele atraso do ponto de vista populacional. Não que não estivesse dentro dos critérios, todas essas vacinas terão que obedecer a um plano nacional de imunização. Mas o Pará, que já recebeu 950 mil doses, responde a 4% da população brasileira. Então, se vamos ter mais 10 ou 15 milhões de vacinas para serem entregues até o fim do mês, o Pará estará recebendo pelo menos mais 400 mil doses.

Algumas vezes, o Ministério falou em tratamento preventivo, o que gerou uma polêmica. A que a pasta estava se referindo? O que é esse tratamento preventivo? E o Ministério continua recomendando isso?

AIRTON: O Pará é um exemplo disso, é preciso dizer. Ele tem um dos melhores índices de controle da pandemia do Brasil. Se você comparar o Pará com o Amazonas, que tem a metade da população, você vai ver que o Pará tem o número de casos muito inferior ao de lá. Quando o ex-ministro dizia “Fiquem em casa”, as pessoas ficavam em casa e procuravam atendimento e iam direto para a UTI; isso causou muitas mortes no país. Quando se fala em atendimento precoce, não é medicamento, é o ato de as pessoas procurarem médico e começarem a ser tratadas de acordo com a orientação médica, em fase inicial. Belém foi um exemplo disso, lembro da Policlínica. Quando se trata uma gripe logo, não evolui para uma pneumonia. Quando se trata a covid, não há tratamento medicacional para a covid, mas tem atendimentos que as pessoas devem ser submetidas tão longo têm os primeiros sintomas, para que não evolua.

Qual a sua avaliação sobre as políticas de distanciamento social, como o lockdown? Neste momento em que a população ainda não está vacinada, elas podem ser efetivas, podem ajudar a controlar o vírus?

AIRTON: Isso é determinante. São coisas básicas que a população não entendeu ainda. Higienizar as mãos, uso da máscara, distanciamento social. É básico, temos que fazer. O mundo está fazendo e o Brasil tem que fazer, elas mostram serem efetivas.

Sabe-se que a economia dos Estados depende da imunização para se recuperar. O senhor acredita que, com o ritmo em que o Brasil tem avançado na vacinação, é possível que a economia apresente recuperação ainda este ano?

AIRTON: Durante a pandemia, o governo federal repassou recursos na casa dos R$ 518 milhões para o Pará, sendo R$ 118 milhões a Belém. Repassou, na maior crise que teve o Pará, 650 respiradores até hoje, para ajudar. Quando falamos de economia, e eu ouço quando se fala de lockdown total no país, qual é a principal base econômica que seguram as exportações brasileiras hoje? O agronegócio. Como você para o agronegócio, a produção de leite no país, o plantio de soja e de todos os produtos agrícolas que têm calendário de plantio, colheita e exportação? Como você para a produção de suínos, aves e ovos nesse país? Há toda uma economia que não pode parar. Quando se fala em lockdown total para o país todo parar, temos que olhar que há muitas questões essenciais. As cidades e os Estados têm liberdade para decidir onde a economia deve parar. Naquele momento, em uma situação caótica, de casos epidemiológicos, é preciso haver medidas restritivas, mas ninguém sabe mais que os prefeitos e governadores o que deve ser feito para conter. É preciso que o Brasil busque uma unidade. Temos 300 mil mortes, essas pessoas têm endereço, nome, CPF, fazem parte de famílias. Acho que o Brasil tem que se unir para salvar vidas.

Para o futuro, o que o paraense e o brasileiro podem esperar da nova gestão do Ministério da Saúde, na sua avaliação?

AIRTON: Sou um brasileiro como muitos que torcem para passarmos por este momento. Desejo ao novo ministro, que é um médico, um cardiologista, que possa melhorar o que o Pazuello fez. Cada um tem uma característica. O Ministério da Saúde não era só ele, é toda uma equipe de cientistas, médicos e outros profissionais. Houve comunhão de esforços.

Há alguma pasta que o senhor vá assumir junto com o Eduardo Pazuello agora?

AIRTON: Não busco cargos, saio feliz com a missão, coração aberto com o que fiz nesses últimos meses. Quero aproveitar a experiência que tive para conscientizar as pessoas, dizer que é preciso salvar vidas, ajudar o Brasil nesse momento foi uma oportunidade ímpar de servir ao país como nunca esperei.

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