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Ex-ministra do FHC Wanda Engel discute pobreza e desigualdade em Belém

Autora com experiência em educação e assistência social lançou livro esta semana

Elisa Vaz

A autora e educadora Wanda Engel, que foi ministra de assistência social do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e uma das idealizadoras do bolsa-escola, lançou, em Belém, o livro “Pobreza e desigualdade: dá para superar”. Na quinta-feira (9), das 17h às 20h, houve um bate-papo na Livraria Fox e, nesta sexta-feira (10), das 14h30 às 16h30, a escritora participou de uma mesa-redonda sobre o livro, no Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa), campus Alcindo Cacela.

Ao seu lado estavam a professora Loiane Prado Verbicaro, da Faculdade de Filosofia (Fafil) da Universidade Federal do Pará (UFPA); Izabela Jatene, diretora da Faculdade de Ciências Sociais (Facs) da mesma instituição; e a professora Natália Mascarenhas, coordenadora da Clínica de Direitos Humanos do Cesupa.

Com experiência em políticas públicas para a educação e assistência social, Engel falou sobre o livro e respondeu a perguntas dos estudantes e ouvintes presentes. “Política tem que ter princípios, estratégias definidas e metas a serem alcançadas, não é uma soma de programas, é muito mais. Hoje somos considerados um país sem rumo. Até porque, em relação à pobreza, a gente não muda o que não conhece. Tem que conhecer para criar estratégias. Começa com uma má distribuição de renda, mas afeta áreas como saúde, emprego e economia. E o mais prejudicado sempre é o mais pobre”, enfatiza.

A autora cita dois problemas principais quando se trata da pobreza no Brasil. O primeiro é a baixa taxa de alfabetização das crianças, citando um dado de que mais da metade dos indivíduos com mais de oito anos não foi alfabetizada. Para ela, concluir esta meta até os oito anos de idade deveria ser um compromisso na nação. Em segundo lugar, ela comentou que o panorama da pobreza não é um fenômeno natural, mas sim produzido e reproduzido intergeracionalmente. “É uma família pobre, em que a criança já nasce sem condições básicas de desenvolvimento, chega à juventude e vai formar uma nova família ainda mais pobre”, diz. Por isso, o foco de políticas públicas para esta área deve ser a família, e não o indivíduo.

Estruturas

Professora, Loiane declarou, durante a conversa, que a pobreza está fincada na história do Brasil e que as estruturas políticas e sociais colaboram para que a desigualdade permaneça de pé. “Desde 1990 o Brasil tem adotado políticas neoliberais, apesar das variações nos últimos anos porque isso não é linear. O neoliberalismo permite muito pouco em termos de enfrentamento da pobreza e da desigualdade, porque o capitalismo tem interesses financeiros e econômicos e, muitas vezes, esse combate se dá como uma maquiagem, que não enfrenta o problema real, que é a pobreza, a miséria e a desigualdade”, comenta.

A pobreza, para ela, parece algo quase estrutural do neoliberalismo. Citando alguns autores da temática, Loiane diz que não há como falar de igualdade dentro do capitalismo, porque o impacto dessa ideologia político-econômica é a própria existência da desigualdade. A professora ressalta que esses são desafios “potentes” em que é preciso pensar, especialmente em uma perspectiva estrutural, que passa também pelo cenário econômico.

Já Izabela Jatene, também participante da mesa, mencionou que o Brasil é um país com “guerra fiscal absurda”, sendo a região Norte uma das mais prejudicadas pelo desenho fiscal nacional. Na opinião de Wanda, as estruturas sociais do país podem estar tão contaminadas que não há mais espaço para atuação. “Fui de um governo em que eu era chamada de neoliberal. Mas sempre busquei encontrar aberturas que me fizessem atuar da forma mais competente que eu pudesse para levar políticas públicas mais efetivas. A oportunidade sozinha pode ser vazia se você não faz a construção de condições para a pessoa aproveitar essa oportunidade”, declara.

Engel foi secretária de desenvolvimento social no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. Também foi ministra de assistência social; coordenou o Projeto Alvorada e a implantação do Cadastro Único das Famílias Pobres; foi chefe da Divisão de Políticas Sociais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington; atuou como superintendente executiva do Instituto Unibanco, sendo responsável pelo Projeto Jovem de Futuro; foi diretora do Instituto Synergos no Brasil, organização que atuou na área de Parcerias Multissetoriais e Agenda Social 2030, e que teve a função de Organização Estruturante do Pacto pela Educação do Pará; entre outros feitos.

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