Eleição descentralizou parlamento paraense e aumentou representação do interior
Ainda assim, região metropolitana de Belém responde por 52% no Congresso Nacional e 43% na Alepa
A maioria dos parlamentares paraenses que assumem cargos em 2023, tanto no Congresso Nacional quanto na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), segue sendo originários de Belém e da mesorregião metropolitana da capital paraense.
No caso dos deputados federais, 13 foram eleitos em 2018 (76,5%) e agora serão nove (52,5%). O grupo inclui os quatro candidatos mais votados, liderados por Alessandra Haber (MDB).
Com quatro deputados a menos da região metropolitana, o interior do Pará ganhou mais representatividade na Câmara dos Deputados.
O nordeste paraense saiu de dois para três deputados federais, enquanto a região do Baixo Amazonas, no oeste paraense, saltou de um para dois.
O crescimento mais expressivo foi do sudeste e sudoeste do Estado, que não elegeu nenhum deputado em 2018 e agora elegeu três.
Na Alepa o cenário é semelhante: os representantes da mesorregião metropolitana caíram de 21 para 19 e agora equivalem a 43,6% da Casa.
Regiões aumentam representatividade
A região do Baixo Amazonas e do Marajó aumentou a representatividade: a primeira saiu de dois para três deputados estaduais, enquanto a segunda aumentou de um para dois.
Já o sudeste e sudoeste paraense caíram de sete deputados em 2018 para apenas três a partir do ano que vem. O nordeste paraense perdeu um deputado: tinha nove e agora têm oito.
Deputada federal mais votada do Pará entre os não-nascidos na região metropolitana de Belém, Renilce Nicodemos (MDB) conta que mesmo o nordeste paraense sendo próximo da capital, a região enfrenta diversas dificuldades.
Ela considera que sair de Marapanim e chegar a Brasília é motivo de orgulho. Na opinião da parlamentar, é importante distribuir a atuação para as mais diversas áreas, desde saúde e educação até segurança e emprego.
"Somos conhecedores das necessidades estruturais e reais das regiões. Educação é a base de tudo para formar o cidadão e assim ele possa ter melhor oportunidade de emprego. Do mesmo modo, a saúde é fundamental, porque sem saúde ninguém vai a lugar nenhum. Mas não posso deixar de citar o foco nas mulheres de minha geração e na ampliação de seus direitos, oportunidades e conquistas sociais. Temos um trabalho muito forte de cunho social, que tem encurtado a distância do atendimento para agricultores, ribeirinhos e outras pessoas que moram distante dos centros das cidades. Reforçamos esse trabalho ainda mais com o projeto Casa Rosa, que leva atenção básica, consultas e exames para mulheres, inclusive com atenção na prevenção do câncer de colo de útero e de mama", afirma.
O deputado estadual Wenderson Chamon (MDB), conhecido como Chamonzinho, foi o reeleito com maior número de votos entre os 41 parlamentares da Alepa. Natural de Marabá, ele lembra que tem excelente relação com todos os outros parlamentares do sul do Estado e que, fechadas as urnas e a disputa por votos, todos devem trabalhar juntos para o bem da região.
"Essa representatividade tem crescido e eu considero isso muito importante em um estado como o Pará, com dimensões continentais, gigantescas. Parlamentares de regiões diferentes enriquecem o debate na Alepa e isso se torna um instrumento de trabalho e serviços para regiões mais distantes que ainda precisam de mais atenção do poder público. Nossa região ficou por anos esquecida mas nos últimos anos o governo tem dado bastante atenção a ela. Ou seja, a atuação dos deputados é fundamental para garantir melhorias de vida para cidades distantes ou menores", avalia.
O que explica a concentração em Belém
Segundo Rodolfo Marques, cientista político e colunista do Grupo Liberal, dois motivos principais explicam a hiperconcentração de representantes na região metropolitana da capital: o tamanho do colégio eleitoral, que só em Belém e Ananindeua abriga 23% de todos os paraenses aptos ao voto, e a concentração de renda na região metropolitana, que por viver uma situação econômica melhor, tem mais poderio na hora de organizar campanhas. Ele conta que a representatividade de diferentes regiões garante que temas caros a cada local estejam presentes e sejam ouvidos no debate público.
"No Baixo Amazonas tem muito a questão do turismo e da infraestrutura, que vira e mexe retoma o debate o separatista, apesar do atual governador (Helder Barbalho, do MDB), ter conseguido melhorar a visão que as pessoas de lá tem sobre a região. O mesmo vale para o sul do Pará, que muito já discutiu a criação do estado de Carajás. Lá tem uma forte conexão com o agronegócio e é muito mais ligada à região Centro-Oeste do Brasil, com necessidades mais relacionadas a agropecuária extensiva e a mineração", diz.