Desembargador Milton Nobre lança o livro 'Tratando direito de Direitos'
Na obra, ele aborda os desafios do direito no século XXI e reflete ainda sobre direito à saúde e pandemia, bem como a Justiça Eleitoral Brasileira
O desembargador e professor Milton Nobre, do Tribunal de Justiça do Pará, lança no próximo dia 26 o livro "Tratando direito de Direitos", pela editora Lumen Juris. É a a oitava obra de Nobre, que reúne alguns ensaios já publicados e muitos outros inéditos.
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Ele descreve o livro como um tributo para a maneira que os juristas da geração dele pensavam o direito - e o que mudou de lá para cá. Na opinião do desembargador, a ciência precisa ir além da produção intelectual e ser dotada de aplicabilidade, especialmente no direito.
"Trato de vários departamentos da ciência jurídica. A minha geração não pensava o direito só academicamente. E trabalhávamos na academia e na profissão. Sou contra essa dedicação exclusiva do professor. Pensávamos no direito em ação, como consequência, os efeitos dele nos campos da vida social. Esse que é o objetivo da obra. Isso é porque hoje a academia produz muita tese mas muitas delas não dizem nada para a sociedade enquanto resultado de ordem prática", reflete.
O livro foi inspirado e incentivado pelo amigo Zeno Veloso, jurista que morreu este ano e por quem Nobre nutriu mais de 50 anos de admiração e amizade. A homenagem escolhida é singela: o livro não tem prefácio, porque Veloso estava escrevendo o prefácio da obra quando morreu.
"Ele chegou comigo e falou publica, publica, publica. Olha o que escrevi: este livro não tem prefácio. É uma homenagem póstuma ao meu amigo, colega de magistério, de quem guardo para sempre, no baú das minhas saudades, as melhores lembranças", declama.
Um dos temas abordados no livro são os desafios do direito no século XXI. Ele vê as redes e a tecnologia como um desafio que ultrapassa o direito e que vai testar a contemporaneidade em todos os âmbitos da sociedade.
"O Mario Vargas Llosa diz em um livro, A Civilização do Espetáculo, que as pessoas estão vivendo um paradigma entre o visual e o real comportamental. As pessoas vivem mais representando. A máscara que a pessoa utilizava no teatro grego hoje é a própria cara da pessoa, ou o perfil na rede social", diz.
Nobre não é adepto das redes sociais, mas assiste com curiosidade o fenômeno das críticas imediatas acessíveis a todos, especialmente contra juristas renomados em cargos públicos.
"Quem se expõe socialmente está sujeito às percepções gerais. Antigamente era num auditório, mas hoje o auditório é globalizado. O cara olha um ministro do STJ ou do Supremo julgando e não gosta dele, do jeito dele, cria uma ideia de que o cara é mal e a partir deste preconceito, vai para as redes. Invés de guardar para si, ele revela. Isso é um problema", entende ele.
Na obra, Nobre reflete ainda sobre direito à saúde e pandemia, bem como a Justiça Eleitoral Brasileira.
Este é o segundo lançamento do jurista durante a pandemia de covid-19, período que ele considerou produtivo apesar do isolamento social. Aos 74 anos, ele acredita que cabeça vazia só serve para pensar bobagem e já começou a escrever o próximo livro.
"O homem não é só sensibilidade. O homem também é razão. E a razão nos inquieta. A gente tem que fazer alguma coisa. Tendo que trabalhar remoto, ficando em casa mais tempo, você tem que exercer a tua inquietação com criatividade. Foi o que fiz", conta.
O lançamento do livro ocorre no próximo dia 26 de agosto (quinta-feira), às 11h, no salão nobre do edifício-sede do Tribunal de Justiça do Pará, na avenida Almirante Barroso.