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Ciro Gomes ataca Lula e o presidente Jair Bolsonaro e se coloca como terceira via

Ex-governador critica duramente a política econômica dos adversários nas eleições do ano que vem

O Liberal

Pré-candidato à Presidência da República pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), Ciro Gomes concedeu entrevista exclusiva ao Grupo Liberal ontem. Durante cerca de uma hora, o pedetista comentou a situação política e econômica no país, afirmou que não acredita em uma ruptura institucional e fez duras críticas à gestão do atual presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Para Ciro Gomes, o país pode ter uma alternativa à polarização e garante que estará no segundo turno das eleições, afastando inclusive a especulação sobre uma chapa com Lula. Ciro Gomes já foi deputado estadual e federal, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e ministro da Integração Nacional no governo Lula.

A Rádio Liberal também irá veicular a entrevista no programa Liberal Notícias, hoje, a partir das 12 horas.

O senhor publicou no Twitter que uma das fake news que vem enfrentando é a que lhe responsabiliza pela vitória de Bolsonaro, em 2018, dizendo que o senhor não teria se empenhado tanto na campanha do Haddad, então candidato pelo PT. O senhor pode comentar sobre isso?

CIRO GOMES: Eu votei no Haddad e declarei apoio ao Haddad, portanto, é uma fake news, uma mentira grosseira do PT, que o Lula industrializa para arranjar um bode expiatório, um responsável para aquilo que é de exclusiva responsabilidade dele. Com todos os meus votos, somados com todos os do Haddad, o Bolsonaro ainda teve mais de 10 milhões de votos acima. Por que uma figura como o Bolsonaro, que não tinha nenhuma obra, proposta, histórico de nenhuma ação pelo Brasil tira 70% dos votos da Amazônia, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais? A explicação está no nariz de qualquer pessoa que tenha boa vontade. Foi um ato de protesto da esmagadora maioria do povo brasileiro, pela crise econômica mais grave da nossa história, que se arrasta até hoje e que não foi produzida pelo Bolsonaro. O Bolsonaro está agravando muito a crise econômica do Brasil, mas quem a produziu, explodindo o desemprego de 4 para 11%; quem papocou o valor do real, voltando à inflação; quem explodiu a taxa de juros; quem fez a economia brasileira cair 7%; foi o Lula. Em cima de uma crise social e econômica gravíssima que está na memória de todo mundo, agora ele quer passar uma borracha, quer que todo mundo esqueça, aí tem que inventar um culpado; 70% do povo do Brasil votou zangado com a crise econômica e com a corrupção generalizada que o Lula implantou como modelo de poder no Brasil. Daqui a 14 meses, vou mostrar documentos, os números. E o povo brasileiro não é bobo como o Lula pensa.

Dentro do que o senhor chama de fake news, tem-se visto muito nas redes a frase “Abandonou o país e foi para Paris”. Já vimos reproduções de falas suas dizendo que iria novamente a Paris. Isso procede?

Isso é a mentira que o Lula prega e repete para tirar a responsabilidade dele. É ou não é verdade que o Lula mentiu dizendo que era candidato sem poder ser? O Lula disse a esse imenso país sofrido que era candidato de dentro da cadeia, quando a Lei da Ficha Limpa dizia que não. Mas, explorando a boa vontade do nosso povo sofrido e machucado, anunciou-se candidato. Na sequência, montou uma fake news dentro da fake news, que foi lançar o Haddad. Por que o Haddad? Porque ele tinha acabado de perder as eleições em São Paulo um ano antes do processo eleitoral, e perder eleições é normal, mas o Haddad tirou 16% no cargo de reeleição a prefeito de São Paulo. O Lula não escolheu o Jaques Wagner, que ganhou eleição, não escolheu um homem decente como Tarso Genro. Escolheu exatamente alguém para continuar mandando, como fez com a Dilma. Eu fui para o debate da Globo com uma sonda pendurada na perna, fiz duas cirurgias. Se tem um brasileiro que não se omitiu diante do país, esse brasileiro se chama Ciro Gomes, sou eu. Eu me dediquei a lutar pelo Brasil e volto a dizer: com todos os meus eleitores, somados com os do Haddad, ainda faltavam 10 milhões de votos. O que o PT queria? Que eu fosse tomar 10 milhões de votos, de eleitores que votaram no primeiro turno no Bolsonaro para votar no Haddad sem ter votado em mim? Isso é o Lula sempre fazendo as merdas dele e procurando culpados.

image Ciro afirma que não tem mágoa de Lula (Divulgação)

A sua relação com o Lula é complexa. O senhor se sente magoado por não ter sido ungido em 2018?

Claro que não. Mágoa não cabe na política, muito menos para um homem de êxito como eu. Desculpa, a minha história é de muita autonomia. Não sou do PT e nunca fui do PT. Disputei contra o Lula em 1998, em 2002 e quando ele era candidato fake e mentiu para o povo brasileiro em 2018. Represento um conjunto de valores e propostas completamente diferentes daquilo que o Lula representa. Isso é uma história de vida. Para mim, o Lula não é o que é para muitos jovens brasileiros, esse mito que a propaganda construiu. Eu conheço o Lula desde sempre. Quando eu era jovem, deputado estadual, lutamos para redemocratizar o Brasil, e a forma que encontramos foi eleger o Tancredo Neves por dentro do colégio eleitoral da ditadura. O Lula ficou contra. Pelo gosto dele, quem tinha ganhado no colégio eleitoral era o Maluf. Depois, fizemos uma constituinte que refundou a democracia no Brasil, estabelecendo o estado democrático de direito e encerrando a ditadura. O Lula ficou contra. Eu apoiei a constituinte e ele se recusou a assinar. Depois fizemos o impeachment do Collor e a posse do vice, Itamar Franco. Era óbvia a consequência do impeachment, o país estava caindo aos pedaços, e o Lula ficou contra. O Lula, que não pediu impeachment do Bolsonaro, pediu do Itamar Franco. Depois eu ajudei a fazer o Plano Real, que encerrou quase 30 anos de superinflação e carestia na costa do povo brasileiro. O Lula foi contra. Bolsonaro ficou contra; os dois foram contrários ao Plano Real. Na eleição de 1989, só uma pessoa perdia para o Collor. O Covas ganhava, o Brizola ganhava. O Lula foi lá, só pensando em si mesmo. Claro que alguma coisa boa ele fez, eu nunca neguei isso. Podem achar que é contradição, mas não é. É porque eu sou uma pessoa que cultiva a verdade, ao contrário do Lula, que tem muito desapreço à verdade. Se tudo isso que estou dizendo é verdade, fica claro que o interesse do Lula não é o povo brasileiro, é ele próprio.

Entre ele e Bolsonaro, como o senhor se posiciona?

O maior adversário é o Bolsonaro, porque ele repete o mesmo modelo econômico do Lula, mas o faz de forma fascista, antidemocrática, xenofóbica, genocida. E isso estabelece uma diferença absoluta da água para o vinho entre o Bolsonaro e o Lula. Qualquer pessoa serena e equilibrada há de estabelecer essa diferença. Não estou falando de pessoa, estou falando de modelo econômico. Qual é o modelo econômico do Lula? É o mesmo do Fernando Henrique, que liquidou o crescimento brasileiro. Câmbio flutuante, superávit primário, meta de inflação. Qual é o modelo econômico do Bolsonaro? Câmbio flutuante, superávit primário, meta de inflação. E o modelo de governança política? Corrupção levada ao centro do modelo de poder. O Lula compreende que a diferença entre ele ser um democrata e o Bolsonaro não ser, mas o resto, o modelo de governança política e o modelo econômico, é rigorosamente o mesmo. Eu me enquadro não contra o Lula ou contra o Bolsonaro. Eu quero mudar. Mudar o modelo econômico, que faz o Brasil ser o país que menos cresce no mundo, e mudar o modelo de governança político, enfrentando essa corrupção orgânica que se entranhou no Brasil.

Se fala muito em polarização, e o seu discurso vem na linha contrária a isso. O senhor vê um espaço para crescimento como um terceiro nome?

O que está acontecendo de verdade no Brasil, fora as versões interesseiras, é que temos um presidente da República que conseguiu enganar quase 58 milhões de pessoas, prometendo uma política nova, o enfrentamento do colapso econômico, moralizar o Brasil, e teve essa chance de ouro, essa honra especial que eu já pedi ao povo brasileiro três vezes para ter e não tive, e eu cumprimentei e desejei boa sorte. Ele enganou as pessoas, trouxe a corrupção para dentro do governo, roubando em vacina. O povo está vendo tudo isso. O desemprego aberto é o maior da história – são 15 milhões de brasileiros. A carestia voltou pesada. Eu ajudei a fazer o Plano Real. A inflação do atacado, do aluguel, das tarifas públicas, está em 35%. Vocês, de Belém, da privatização da companhia de vocês de energia, a Celpa, para cá, subiu 720% a energia, contra uma inflação de 300% nesses anos todos. A inflação está pesada. O óleo de soja, no país que mais produz soja no mundo, subiu 80%. O quilo de carne moída de segunda está custando mais que uma diária do salário mínimo, que tem o menor poder de compra dos últimos 16 anos. Em cima disso e da decepção profunda, o Bolsonaro está diminuindo a popularidade de forma acelerada e irreversível. Na paralela, dois anos antes da eleição – e não existe isso em nenhum lugar do mundo –, o Supremo Tribunal Federal (STF), com atraso de cinco anos, devolve os direitos políticos do Lula, usurpados ilegalmente pelo Sérgio Moro, de forma arbitrária. Eu nunca deixei de denunciar isso, porque sigo a verdade. Pode ser meu adversário ou meu amigo, qualquer pessoa, marginal ou não marginal, tem direito ao devido processo legal, e o Moro, evidentemente, vendeu sua sentença para tirar o Lula do jogo. Pois bem, o Supremo devolve ao Lula os direitos políticos, não dizendo que ele é inocente, apenas diz que o juiz que deveria julgar não era o de Curitiba, que era o Sérgio Moro, e sim o de Brasília. O Lula imediatamente veio dizer que era candidato, que é inocente, que foi inocentado, enfim. Resultado: desmilinguem o Bolsonaro e anuncie o ex-presidente, conhecido de todo mundo, como possível vítima de perseguição, o povo brasileiro generosamente sai de um canto para o outro. Hoje, em todas as pesquisas, 75% do povo brasileiro está contra o Bolsonaro. O Lula, na melhor pesquisa, só aproveita 40%, porque ele tem uma rejeição imensa. Parte das pessoas que estão anunciando precocemente que votam no Lula diz isso porque quer se livrar do Bolsonaro, e acha que o Lula é o único capaz de nos livrar dele. Hoje, as pesquisas já mostram que qualquer um de nós vai derrotar o Bolsonaro; eu já estou colocando 20 pontos acima do Bolsonaro no segundo turno. A grande questão é: será que existiria o Bolsonaro se não fosse a contradição, corrupção e o desastre político que o Lula produziu? Não. Será que a solução para o desastre do Bolsonaro é voltar ao passado? Não. Precisamos dar passos adiante para o futuro.

Em alguns momentos existe a impressão de que os riscos são reais de não haver eleição no ano que vem e de uma ruptura institucional. Há muita tensão entre Executivo e Judiciário. O senhor acha que realmente há esse risco?

Não. Afirmo categoricamente, com toda a minha experiência de 40 anos de vida pública. Tenho grande experiência em cargos importantes do Brasil, conheço as crises brasileiras e a história do Brasil, e afirmo com muita segurança que não há ambiente, nem interno nem nas relações internacionais do Brasil, para um golpe de Estado ao modo 1964, como Bolsonaro, no delírio dele, está sonhando. Isso quer dizer que podemos dormir sossegados? Não. Os índices de desemprego, desalento, precarização são recordes. O preço da gasolina está chegando a R$ 7 em oito Estados por uma política de preços absolutamente corrupta que o Bolsonaro administra na Petrobras. A pandemia veio para o mundo inteiro, mas, no Brasil, o enfrentamento incompetente, corrupto e genocida que o Bolsonaro teve – prescrevendo remédio sem fundamento, promovendo aglomerações, trocando quatro ministros da saúde, sendo contra a máscara – resultou na média de mortes do Brasil sendo quatro vezes superior à média de mortes no mundo. O nome disso é Jair Messias Bolsonaro. E a CPI descobriu que o Bolsonaro não respondeu às ofertas de vacinas que foram feitas em agosto do ano passado, porque a turma dele estava preparando o bote para roubar nas vacinas. Roubar na pandemia, causando a morte de milhares de pessoas. E o que faz o Bolsonaro? Puxa briga, para dar aos fanáticos do lado dele desculpa para irem à rua, defendendo voto impresso, brigando com Supremo. Eu tenho vontade de dizer: vai trabalhar, vagabundo. Bolsonaro não dá um dia de serviço à nação, é só puxando briga e criando caso para desviar a atenção das pessoas. Ele está com esses grupinhos de PMs (policiais militares), e tem grupos de fanáticos dentro das Forças Armadas, que ele imagina, no delírio dele, que vão fazer um golpe. Não vão, mas antes disso vamos ver alguma violência no Brasil.

Ainda sobre a situação institucional do nosso país, o senhor pode comentar a prisão do deputado federal Roberto Jefferson e o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes?

Nós temos que vigiar. No dia 7 de setembro vai ter violência, infelizmente Bolsonaro está estimulando. O Bolsonaro virou um arruaceiro, eu lamento muito dizer isso do presidente do meu país, mas ele virou um arruaceiro e está procurando cadáver. A Polícia Civil de São Paulo já deu notícias do Serviço de Inteligência de que há grupos de WhatsApp bolsonaristas estimulando seus militantes a comparecer na Avenida Paulista armados. É isso que o Bolsonaro quer, porque desvia os assuntos do desemprego, da carestia, da roubalheira na vacina, do dólar, do preço do combustível, dessa tragédia social e econômica. Então, a democracia precisa se defender. Neste caso da prisão do Roberto Jefferson, eu lamento, porque fazia muito tempo que o Brasil não precisava utilizar um conjunto de ferramentas para punir crime de opinião. Claro que aqui não estamos falando de uma opinião legal, é uma opinião ilícita, criminosa, de incitação à violência, de estímulo à agressão contra as instituições. Isso era letra morta da lei e nós precisamos usar. Eu não gosto disso, a fronteira é muito pequena, muito tênue. Mas, só para tranquilizar como professor de direito: neste caso, a Polícia Federal pediu a prisão. É um órgão do Executivo que pediu a prisão porque havia ali uma espécie de crime continuado, um esforço de incitação à violência contra as autoridades e contra os Poderes da República, promovido pelo Roberto Jefferson. A Polícia Federal pediu e o ministro Moraes determinou audiência ao Procurador-Geral da República. Ele mandou para o Ministério Público opinar antes de decretar prisão, seguindo o melhor caminho da lei. De novo, lamentavelmente, o Procurador-Geral da República, que tem um comportamento absolutamente desidioso com relação aos crimes de Bolsonaro e da sua família, sua quadrilha, fez de conta que não viu a notificação e deixou passar o prazo sem dizer nada. Ato contínuo com o silêncio da Procuradoria, houve o decreto de prisão preventiva. Aí, o Procurador reclama, sem nenhuma razão, mas tumultuando ele também a percepção do povo. Um democrata como eu preferiria que a política se resolvesse por si mesma. Judicializar a política nunca foi uma coisa boa. Mas não posso convocar a minha militância e simpatizantes para ir lá dar um tiro no Bolsonaro. Isso não é liberdade de expressão, é crime, incitação à violência, portanto, a democracia precisa e tem o direito de se defender.

Tem havido alguns debates, inclusive a possibilidade de uma minireforma política. Dentro disso, veio a discussão sobre o voto impresso e a questão das coligações, que podem interferir no resultado e na composição das casas legislativas. Como o senhor avalia isso? E, para o senhor, quais seriam as melhores regras do jogo político e eleitoral?

Nós orientamos o voto contra essa iniciativa do Bolsonaro de estabelecer o voto impresso ao modo do século XIX. O que nós do PDT temos é programático, muito antigo, vem do governador Leonel Brizola, que sofreu uma fraude na eleição de 1986, em que só não tomaram a eleição porque tinha a possibilidade de recontagem dos votos. Nós nunca defendemos o voto impresso, isso é uma canalhice do PT, do Lula, que inventou isso. Defendemos uma urna eletrônica de última geração em que você vote igualzinho à atual, que é séria. Depois que o Bolsonaro excitou essa propaganda, tem quase um terço do povo brasileiro que está com dúvida se a urna eletrônica é sadia ou não. Claro que eu sei que ela é sadia, porque eu tenho informação, já fui candidato muitas vezes, já vi o processo de auditagem, ela é absolutamente segura, não tem fraude possível na urna eletrônica brasileira. Ela não tem conexão, nenhum hacker pode entrar, quando você quebra o código-fonte não altera o resultado. Enfim, não é por conta de insegurança como o Bolsonaro mentiu, mas você poderia perfeitamente fazer um registro duplo, você não pega no papel. É como um rolinho de cartão de crédito, só que fechado dentro de uma urna e que, ao apertar no número do seu candidato, você vê a foto dele e o nome impresso, só confirma se der. Se você negar, cai do outro lado. Se confirmar, cai dentro da urna para ninguém nunca mais ver nem pegar naquilo. Só quem vai pegar é um juiz, se houver uma dúvida. Um dia nós vamos discutir sério de novo a evolução do processo de apuração de votos no Brasil. Nesse momento, tranquilizo o povo: a urna é segura, é sólida e o Bolsonaro está inventando essa mentira porque vai perder feio a eleição, se é que vai participar, que ainda duvido.

Em segundo, a reforma que o Congresso está fazendo é muito ruim, um retrocesso muito grave em alguns aspectos. O fundo eleitoral, por exemplo: é um escárnio com o povo que está passando fome e dificuldade você fazer uma coisa dessa sem debate transparente. A partir do momento em que houve o escândalo da Lava Jato, nós acabamos com o financiamento privado das campanhas, como se a gente matasse o boi para curar o carrapato. Tudo é errado. O poder econômico existe, o poder político existe, e sempre haverá um processo de se relacionar. O único caminho do mundo é dar transparência radical nessa relação entre o poder econômico e o poder político, para que o eleitor, ao votar, saiba que tipo de apoio financeiro aquele partido ou candidato está tendo. Acabaram com isso e fizeram um país que não tem dinheiro para nada financiar campanhas com o dinheiro público. Qual é o valor justo? Temos que abrir uma discussão. Não pode ser como o Lula e o PT estão fazendo, esculhambando o fundo eleitoral, votando contra no Congresso, mas eles vão pegar o maior pedaço. Assim é moleza. Se houvesse seriedade, ele diria: não vou colocar a mão nessa imoralidade.

Sobre as coligações, até 2017, o eleitor brasileiro era obrigado a engolir uma coligação que juntava o partido do pato, do gato, da galinha e do boi, mistura tudo, que é a coligação, e o eleitor vota no gato e elege o pato, e não tem nenhum controle sobre isso. Acabamos com isso em 2017, com reforma política, e nas últimas eleições valeu a regra nova. Cada partido se apresenta com sua proposta e o eleitor decide quem sobrevive porque é a essência da democracia. Essa semana, Lula e Bolsonaro, que vivem fazendo o povo brigar na rua, se entenderam e derrubaram a proibição de coligação proporcional. Não falaram um com o outro, foi por trás dos panos. Se acertaram e impuseram ao povo brasileiro esse retrocesso. Lula quer atender exatamente a mesma turma com quem ele governou. Toda essa turma estava com o Lula e toda está hoje com o Bolsonaro. Então vamos lutar muito contra porque ainda depende do Senado.

O Lula esteve no Ceará no final de semana e, questionado sobre a relação com o senhor, ele tem dito que 'quando um não quer dois não brigam' e que espera ter uma conversa com o senhor para tratar uma possível aliança. Como o senhor enxerga essas declarações?

O Lula virou um espertalhão, eu não quero briga com o Lula. Ele é candidato, representa um punhado de coisas, e eu sou, eventualmente, se meu partido me confirmar candidato, e quero apresentar um punhado de coisas. E o debate é essencial para a gente entender as causas do problema. Por que tantos brasileiros estão desempregados? Foi o Bolsonaro que produziu isso? O Lula entregou para o Bolsonaro com 11 milhões de desempregados, Bolsonaro colocou mais 4 milhões em cima, mas eram 11 milhões herdados do tempo do Lula. Os juros do Lula eram mais altos que os do Bolsonaro, o comerciante do Pará sabe do que eu tô falando. O Lula não quer discutir nada, tudo que eu falo ele acha que é agressão, não responde o que eu falo. O Lula não quer responder porque ou é verdade ou é mentira que o Palocci meteu a mão em R$ 100 milhões. E o Palocci é o braço direito do Lula, fundador do PT, ministro da Fazenda, comandou a vida e a morte da nação brasileira. E das duas uma: ou o Lula sabia disso e é conivente, ou não sabia e é um incompetente. Eu denunciei isso, eu sei que o Lula sabia. Denunciei o Eduardo Cunha, o Michel Temer, Sérgio Machado. O Lula veio almoçar aqui com o Eunício Oliveira. O Lula deu R$ 1 bilhão de contratos sem licitação na Petrobras para o Eunício Oliveira, o nome da empresa é Manchester. Ele é o presidente do Senado, está respondendo vários processos da Lava Jato, votou o impeachment da Dilma. E o Lula almoçou com ele aqui. Isso é agressão? Não foi no Senado que aconteceu a derrubada da Dilma? O Michel Temer, que o Lula colocou na linha de sucessão, e o Renan Calheiros e o Eunício Oliveira estão agarrados com o Lula. Isso é agressão? 'Sou amigo do Ciro. Quando um não quer dois não brigam. A mamãe disse que não é pra brigar'. Deixa de papo. Vamos debater o Brasil, vamos falar sério. Estou convidando de novo: Lula, vamos debater o Brasil. Eu me comprometo a ser extremamente respeitoso e cordial como sempre fui ao longo desses últimos 35 anos. Vamos debater o Brasil, deixa de ser importante. Você está aí no 'já ganhou', mas pelo menos faça uma homenagem aos seus eleitores. Grupo Liberal, promova o debate que eu tô no ponto, pode ser no dia e na hora que ele quiser.

O senhor aceitaria ser candidato a vice-presidente em uma chapa com o Lula?

Em nenhuma hipótese. O Lula me convidou para ser naquela farsa de 2018. Mandou me convidar para ser o vice dele, e ele ser candidato a presidente. Eu disse: Lula, eu não participo de uma enganação dessa, uma fraude dessa, uma mentira grosseira que vai fazer muito mal ao nosso povo. Para não dizer o palavrão que mandei para ele no particular. Porque eu sou decente. Não sou contra o Lula, sou contra o modelo econômico e o modelo de governança política que estão liquidando a nossa grande nação.

Em um eventual segundo turno, se fosse Lula e Bolsonaro, o senhor se engajaria na campanha de um dos dois?

Anote o que eu estou dizendo. Eu vou proteger o povo brasileiro dessa falsa alternativa, estarei no segundo turno com um novo projeto nacional de desenvolvimento.

Em relação à Amazônia, fala-se muito nesse dilema de preservar e produzir. Em síntese, se é que é possível, o que o senhor imagina de proposta para a região?

É a maior depredação da Amazônia dos últimos 10 anos. O Brasil precisa ser mobilizado para entender o que está acontecendo. Não existe alternativa para a Amazônia fora de um projeto nacional de desenvolvimento. Na Amazônia Legal vivem 40 milhões de conterrâneos nossos. Foram para a Amazônia saindo do Nordeste, Rio Grande do Sul, São Paulo, atrás do chamado do governo. Você tinha que provar que desmatou para o Incra dar o papel da titulação da terra. Uma geração depois, transformou essas mesmas pessoas em criminosas, sem ter dado a elas nenhuma alternativa de atividade econômica que lhes permitisse trabalhar a tal sustentabilidade, porque é muito fácil você falar em sustentabilidade. Eu já trabalhei isso com o Jatene, o ex-governador do Pará, quando eu fui ministro da Integração Nacional. O que precisamos fazer é pegar o Inpa, o Emílio Goeldi, as universidades e ordenar o território: zoneamento econômico ecológico. Hoje, a Estrutura de Comando e Controle é absolutamente nula. O Bolsonaro ainda tem aprovação de 50% apesar dos desastres porque ele faz a resposta tosca. Mas ela vai matar a galinha dos ovos de ouros, porque sustentabilidade na origem do produto de agropastoril será a nova forma de protecionismo no mundo. O zoneamento econômico ecológico e uma Estrutura de Comando e Controle vão definir o que pode e o que não pode. O que se impõe nessa estrutura de zoneamento econômico ecológico são algumas atividades alternativas. Mas não podemos ter essa alternativa de reflorestamento porque existe muito equívoco técnico e o Brasil não tem uma estrutura de financiamento compatível com os prazos de maturação da atividade de reflorestamento. O grande caminho é diversificar a produção para uma indústria que desestresse a atividade econômica sobre a floresta. A abordagem da floresta tem que ser com atividades sustentáveis. A fonte está aí mesmo, no Emílio Goeldi, tudo isso está pronto nos papéis nas universidades. Precisamos entrar no território e estabelecer uma reconversão das populações em treinamento, capacitação, estímulo para jovens empreendedores diversificarem suas atividades, do desmatamento para colocar o boi depois a soja, para, por exemplo, uma linha de cosméticos, biomassa para energia, uma farmácia revolucionária com os princípios ativos que o nosso saber tradicional que estão sendo apropriados pelos estrangeiros. Falta ao Brasil qualquer estratégia, e a gente pode fazer isso em parceria com o povo trabalhador para que não haja como única resposta para necessidade de sobrevivência a repressão ou omissão, porque os dois casos estão destruindo o conceito do nosso país no mundo.

Aqui na região, quais são as alianças que o senhor está pensando no Pará? E o senhor já tem um perfil de vice desenhado na pré-candidatura?

No Pará temos o companheiro Giovanni Queiroz, secretário de Estado da Agricultura do governador Helder Barbalho. Por coerência, é natural dar preferência à estratégia de aliança que nós empregamos. O governador Helder está fazendo um bom trabalho. Temos um quadro que está crescendo muito na opinião pública. Jovem, talentoso, sério, o Miro Sanova, líder na Assembleia Legislativa. Vamos achar um caminho para ajudar o Pará e ajudar a construir um projeto nacional de desenvolvimento. Vice vai depender das alianças que eu consiga. A hora agora é de debater as causas dos problemas sociais e econômicos, e não depender de um salvador da pátria, mito, pai dos pobres. Isso é tudo enganação. Eleição é presente e futuro. E quem ilumina é o passado.

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