MENU

BUSCA

Calha Norte ainda luta contra isolamento

Obras do Governo Federal devem incentivar o desenvolvimento econômico em municípios da região

Elisa Vaz / Redação Integrada

Com atuação em 27 municípios paraenses, o Projeto Calha Norte (PCN), do Governo Federal, busca contribuir com a promoção do desenvolvimento amazônico e com o aumento da presença do poder público na área, auxiliando na defesa nacional.

No total, o programa abrange 379 municípios, distribuídos nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Rondônia e Roraima. Ocupa uma área de 3.123.986 km², que corresponde a 44,8% do território nacional, onde habitam cerca de vinte milhões de pessoas, contando, inclusive, com 50% da população indígena do Brasil.

A partir do esvaziamento demográfico em áreas mais remotas e a intensificação das práticas ilícitas na Amazônia, o programa se expandiu e ganhou importância. Mesmo assim, as cidades ribeirinhas, até hoje, continuam isoladas e sem acesso às suas riquezas e potencialidades econômicas. Além do rio, não há meio de transporte que as integre ao centro produtivo do Brasil ou do Pará, impactando negativamente nos indicadores sociais da população que ali reside.

No território paraense, as cidades são Santarém, Óbidos, Oriximiná, Afuá, Curuá, Ponta de Pedras, Alenquer, Faro, Portel, Almeirim, Gurupá, Prainha, Anajás, Juriti, Salvaterra, Bagre, Melgaço, Breves, Monte Alegre, Santa Cruz do Arari, Cachoeira do Arari, Muaná, São Sebastião da Boa Vista, Chaves, Soure Curralinho e Terra Santa.

O projeto de integração da Calha Norte do Pará foi criado para mudar o cenário da população local. Estão previstas obras de infraestrutura, como a expansão da rodovia BR-163, de Santarém até a fronteira com o Suriname, e a criação de uma ponte elevada sobre o rio Amazonas, com 1,5 quilômetro de extensão, na região de Óbidos.

Conforme explicado pelo engenheiro César Calderaro, que realiza análise pessoal sobre o projeto, o intuito das duas obras é permitir que cidadãos da redondeza acessem a malha rodoviária nacional, eliminando isolamentos e integrando-as ao centro produtivo do Brasil, além de possibilitar o acesso às riquezas da terra.

No caso da rodovia BR-163, a ideia é estendê-la até Paramaribo, integrando os moradores locais ao sistema rodoviário do litoral marítimo próximo ao Caribe, que liga as capitais Georgetown, Paramaribo e Caiena.

Também pretende-se permitir a transposição, sobre o Rio Amazonas, das linhas de transmissão de energia elétrica da malha nacional e das redes de infovias em cabos de fibras óticas para telefonia, televisão e internet do país.

Outra obra prevista no projeto é a implantação do Porto de Óbidos, para o intermodal rodo-hidroviário, por meio de uma alça viária, logo após a ponte do município sobre o rio Amazonas.

"A ponte está em um trecho do rio que tem profundidade de até 100 m, largura de 1.500 m e não necessita de dragagem. Hoje, é um pequeno porto com calado até 11,5 m, na seca do rio, compatível com o calado da hidrovia até a saída, pela Barra Norte da foz do rio Amazonas, para o Atlântico, mas queremos criar uma alternativa competitiva pare o escoamento das safras de soja, milho, carne e outras riquezas produzidas no Planalto Central do Brasil", explicou Calderaro.

Segundo o especialista, a obra também vai integrar a rodovia BR-163, do Sul ao Norte, com a hidrovia amazônica, do Oeste ao Leste do Brasil, e, ainda, aumentar a relevância das cidades de Santarém, Óbidos e Oriximiná, por suas posições geopolíticas, como polos de desenvolvimento na Amazônia.

Um estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que analisou entraves logísticos no escoamento de soja e milho, a performance do setor é resultado de contínuos investimentos em pesquisa e inovação, que proporcionaram ganhos de produtividade na produção agropecuária.

Entre 2000 e 2014, segundo a pesquisa, a produção de grãos, no Brasil, cresceu 101,6%, enquanto a área plantada teve expansão de 52,6%. Esse desempenho proporcionou um destaque no mercado internacional de grãos. No caso da soja, o Brasil tem, hoje, a maior produtividade entre os países produtores, reunindo cerca de um terço da produção mundial.

De acordo com o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), José Maria Mendonça, o Pará é a porta de entrada econômica do Brasil, por isso é importante seguir com o projeto de integração.

"A maior queixa das pessoas que moram naquela região é o abandono do Estado. Precisamos mostrar que somos todos brasileiros, não podemos permitir que outras nações façam planos no nosso país. O modelo de travessia ou da ponte é o que menos importa. Temos todos que apoiar os cidadãos dessa área", opinou. 

Por último, o projeto ainda prevê a criação de uma hidrelétrica no rio Trombetas, em Oriximiná, para fornecer energia a toda a região amazônica. "Queremos aproveitar o potencial hidrelétrico do rio Trombetas, para acabar com os apagões que acontecem em Manaus, Boa Vista e Macapá, além de fornecer energia elétrica para todas as cidades da Calha Norte e garantir o desenvolvimento sustentável da região", argumentou. Para Mendonça, o projeto seria muito viável para a economia do Estado, pois, com a criação da hidrelétrica, a energia custaria menos para os paraenses.

"Chegou o momento dos moradores desta região se apossarem de suas próprias riquezas. É tempo dos engenheiros, das empresas de construção e de milhares de operários, com tecnologias adequadas, serem protagonistas na realização deste projeto, para que sejam gerados benefícios às comunidades da região, com harmonia com o meio ambiente. Temos que rever os paradigmas, para que estas riquezas possam ser aplicadas em áreas como educação, saúde e segurança", pontuou o engenheiro César Calderaro.

De acordo com o economista Nélio Bordalo, o projeto possui importância vital para o desenvolvimento econômico sustentável da região, principalmente ao evitar o êxodo dos moradores para outras regiões em busca de melhores oportunidades.

"No contexto econômico, a região possui grande potencial para atividades de geração de emprego e renda, e o fortalecimento da cadeia produtiva, por meio da diversidade de recursos vegetais, minerais e animais. Também há a potencialidade hidrelétrica, podendo-se desenvolver atividades para fornecimento de matéria prima para o setor da bioindústria, já que a produção de fármacos, fitofármacos, biofármacos e imunobiológicos a partir da fauna e flora amazônica, além das essências regionais podem transformar a estrutura produtiva da Amazônia e a indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos", argumentou o economista.

Na opinião de Bordalo, um dos maiores gargalos ao desenvolvimento sustentável de regiões distantes e isoladas é a logística de transporte de cargas e passageiros, problema que, segundo ele, será amenizado com a infraestrutura prevista no projeto de integração da Calha Norte do Pará.

"Um aspecto relevante no programa é a assistência às populações dos 27 municípios por meio da implementação de infraestrutura básica, cuja ação tem por finalidade, em conjunto com as outras ações, melhorar as condições de saúde, educação, saneamento básico, transporte, energia e comunicações das comunidades mais carentes da região, proporcionando melhoria na qualidade de vida".

Política