MENU

BUSCA

PT convoca influenciadores para fortalecer 'campanha taxação BBB'

Durante o encontro, os participantes foram orientados a evitar postagens que possam resultar em processos por calúnia ou difamação

Estadão Conteúdo

O Partido dos Trabalhadores convocou, nesta quarta-feira (2), cerca de 270 influenciadores digitais para uma reunião virtual com o objetivo de impulsionar a campanha “Taxação BBB” — que defende a cobrança de impostos sobre bilionários, bancos e casas de apostas ("bets"). A mobilização tem apoio do Palácio do Planalto e foi organizada como parte da nova estratégia de comunicação do governo Lula.

Participaram do encontro o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), o presidente do partido, senador Humberto Costa (PE), e o marqueteiro Otávio Antunes, responsável pela campanha. Segundo Antunes, a estratégia será dividida em fases: a atual busca associar o tema à ideia de justiça social; a próxima deve usar comparações objetivas, como o custo do Bolsa Família em relação a isenções fiscais de grandes produtores rurais.

VEJA MAIS 

Em crise com o Congresso, Lula dobra a aposta no mote da 'justiça tributária'

Lula exibe cartaz que pede 'taxação dos super ricos' em manifestação
O petista compartilhou foto do ato em suas redes sociais, na imagem, ele aparece ao lado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, e do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT)

A reunião contou majoritariamente com criadores de conteúdo ligados ao PT, muitos com alcance limitado. Durante o encontro, o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, orientou os participantes a evitar postagens que possam gerar processos por calúnia ou difamação. Ele também sugeriu a criação de uma assessoria jurídica para os comunicadores.

“Precisamos agradecer ao Hugo Motta, porque ele deu um choque em todos nós”, afirmou Carvalho, referindo-se ao presidente da Câmara que pautou a derrubada do aumento do IOF. Segundo ele, isso teria reacendido o engajamento da base do governo nas redes sociais.

O deputado Jilmar Tatto comemorou o que considera uma rearticulação do campo progressista: “A direita e o Centrão deram o discurso que faltava. Agora o PT e a esquerda têm uma linha clara: fazer o andar de cima pagar imposto”. Ele também prometeu intensificar a produção de vídeos semanais com influenciadores.

A campanha, no entanto, recebeu críticas durante o próprio evento. Participantes reclamaram da condução da reunião e da eficácia da comunicação. “Reunir 200 comunicadores para ouvir? Sério?”, comentou um deles no chat. Outro afirmou: “A campanha não está boa. O leigo não entende”.

A Frente Povo Sem Medo, ligada ao deputado Guilherme Boulos (PSOL), convocou uma manifestação para 10 de julho, em São Paulo, com as pautas “taxar os super-ricos” e “fim da escala 6x1”. Para Boulos, as derrotas do governo no Congresso — como o revés sobre o IOF e o veto que pode encarecer a conta de luz — justificam a ofensiva. “Não pode haver disputa política de um lado só”, disse.

Críticas à estratégia

Especialistas em comunicação política veem com cautela os efeitos da nova abordagem. Renato Dorgan, cientista político e CEO do Instituto Travessia, considera que a retórica de “ricos contra pobres” tem pouco apelo. “A vida do pobre não está melhorando, o custo de vida voltou a subir. A realidade se impõe ao discurso.”

Para Felipe Soutello, estrategista da campanha de Simone Tebet em 2022, a proposta dialoga com o histórico do PT, mas a comunicação é ineficaz. “A ideia de cobrar mais de quem ganha mais é universal, mas o discurso de luta de classes soa anacrônico. As pessoas estão mais conectadas à lógica da prosperidade e do empreendedorismo”, afirma.

Soutello também criticou o uso de vídeos com inteligência artificial. “Faltam pessoas reais nos testemunhais. Focar apenas em performance de rede não cria empatia fora da bolha.”