Prefeito de Belém faz balanço dos seis meses de gestão e promete ordenar a cidade ainda em 2025
Igor Normando diz que foco da atual gestão é acabar com a desordem urbana e modernizar os serviços públicos até a COP 30
Em entrevista exclusiva a O LIBERAL, o prefeito Igor Normando afirma que está disposto a tomar medidas impopulares para reorganizar Belém. Ao fazer um balanço dos primeiros seis meses como gestor da capital paraense, ele anunciou ações para restaurar a ordem pública, reformar unidades básicas de saúde, modernizar a arrecadação e entregar obras históricas, como o BRT, até o fim do mandato. A partir de agosto, quem jogar lixo nas ruas fora do horário ou deixar entulho na porta de casa será multado pela Guarda Municipal com apoio do novo Batalhão de Ordem Pública.
Confira a entrevista na íntegra:
O LIBERAL: Prefeito, qual a avaliação geral desses primeiros seis meses de mandato?
Igor Normando: Nós assumimos a prefeitura de Belém com uma série de desafios históricos: aqueles herdados por gestões anteriores e aqueles deixados pela última gestão. Resolvemos tomar medidas duras, mas importantes para que o município pudesse ter saúde, inclusive fiscal, para os próximos anos. Tomamos medidas que, muitas vezes, foram impopulares, mas necessárias para que Belém pudesse se desenvolver.
Paralelo a isso, nós fortalecemos aquilo que acho ser um dos maiores problemas da cidade e que é fundamental enfrentar: a ordem pública. Belém se tornou uma cidade onde todos faziam o que queriam. A cidade não era respeitada pelo cidadão que mora nela. Nós instalamos o [programa] “Belém em Ordem” para garantir civilidade. Isso passa por uma campanha grande de conscientização, educação nas escolas, mas também por punição daqueles que infringem o Código de Postura do município. Já começamos. Prova disso é o trânsito: dos 4 mil veículos abordados, 3 mil estavam irregulares, como motoristas de aplicativo que estavam trabalhando com o veículo ou identidade de um colega, sem ter nem carteira de motorista para operar.
Temos um problema de adulteração de escapamento: uma poluição sonora enorme que causa barulhos horríveis na cidade, atrapalhando idosos, PCDs e pessoas descansando em casa. Temos muito problema de compreensão, mas sabemos da importância.
Nós temos certeza de que a ordem pública, nesse momento, é uma das tarefas mais difíceis, mas mais necessárias para a cidade. Estamos em guerra contra o lixo, que não é de hoje. Em várias gestões, houve problemas com a coleta. Ela é provocada por dois fatores: a empresa não tem feito o trabalho que deve, mesmo ganhando bem e sendo paga em dia; mas a população também precisa se conscientizar de que tem de jogar lixo no lugar correto.
Não adianta passar o caminhão coletor para fazer a limpeza e, uma hora depois, estar tudo sujo de novo porque a população não respeita a cidade. Então nós não vamos mais tolerar esse tipo de ação. A partir de agosto, entra em ação o Batalhão de Ordem Pública, equipado e treinado dentro da Guarda Municipal para reprimir quem não respeita a cidade.
Seja pelo descarte irregular de lixo, pela venda de produtos informais sem regulamentação e padronização pela prefeitura, por construções irregulares, por obras que deixam entulho na frente das casas… faremos uma grande política de ordenamento da cidade.
Também a partir de agosto, lançaremos uma força-tarefa enorme para a coleta de lixo e a zeladoria: tapa-buracos, manutenção de praças, e já começamos uma série de medidas nesse sentido. Este ano é de arrumar a casa e colocar a zeladoria em dia.
Igor Normando, prefeito de Belém, em entrevista exclusiva a O LIBERAL sobre os primeiros seis meses de gestão (Igor Mota / O Liberal)
Ainda há pendências significativas de gestões anteriores?
Sim. Assumimos a prefeitura com mais de R$ 300 milhões em dívidas — não apenas restos a pagar de fornecedores; se contarmos tudo, chegamos a cerca de R$ 500 milhões. Só a empresa de lixo devia R$ 90 milhões; já pagamos R$ 30 milhões e estamos em dia com os pagamentos.
Os servidores municipais têm a ideia de que, sem esses ajustes, teríamos dificuldade para pagar salários no fim do ano. Herdamos R$ 85 milhões de dívida em obras paradas e contrapartidas sem planejamento orçamentário. Pactuamos com a Caixa Econômica para ter condições de concluir essas obras. Para você ter ideia, hoje temos muitos problemas de irregularidades, inclusive em folha de pagamento; estamos fazendo auditoria e avaliação geral para garantir correções urgentes, evitando comprometer o futuro da cidade.
Belém arrecada muito pouco em relação a outras capitais. Se não gastarmos com responsabilidade e qualidade, teremos grandes problemas no futuro. Costumo dizer: fui eleito prefeito de Belém não pensando em reeleição ou política, mas para fazer o que deve ser feito. Sou o prefeito mais jovem da história da cidade, e o que eu fizer hoje vai ecoar por gerações.
Minha geração tem a dívida e a obrigação de fazer bem feito e certo. Nada de puxadinho, maquiagem ou jeitinho. Ou resolvemos o problema de vez, ou continuaremos na mesma em que Belém se encontra há décadas. Nós tomamos a decisão: enfrentar os problemas, fazer o que é correto e ajustar a cidade. Vai haver dor? Vai ser impopular? Sem dúvida. Mas estamos dispostos a pagar esse preço para garantir que, nos próximos anos, Belém se desenvolva e ocupe seu lugar de direito.
A COP 30 vem para nos abrir uma porta enorme, mas, sem a responsabilidade de organizar a cidade para o pós-COP e seu legado, perderemos tudo o que construímos até aqui. Tenho a responsabilidade de colocar a cidade em ordem, a zeladoria em dia e preparar o futuro: saneamento básico para devolver à população o sentimento de pertencimento, garantir novas matrizes econômicas. Belém não pode viver só de serviços; precisa ter industrialização e ser polo logístico da região metropolitana.
Belém tem toda a capacidade de se tornar cidade turística, mas, para isso, precisamos respeitar e organizar a cidade para visitantes e, sobretudo, para moradores. Sei que a pressa por mudança é grande e que a população esperou muito, mas não sou mágico; não fui eleito para resolver tudo da noite para o dia. Tenho sido muito sincero. Precisamos de resultados breves e visíveis. Teremos seis meses para organizar a casa; a partir de agosto, começamos a colocar nosso ritmo de gestão em zeladoria urbana e ordem pública. O próximo ano será de investimentos; este ano, concluiremos obras em andamento; no ano seguinte, iniciaremos novas.
A zeladoria inclui coleta de lixo, tapa-buracos, meio-fio e conservação de logradouros. Depois de concluído esse ciclo, o cuidado com a calçada será do cidadão: quem não mantiver a calçada pagará multa.
E não posso deixar de salientar o transporte: instituímos ônibus com ar-condicionado, Wi-Fi, acessibilidade e gratuidade aos domingos. Lançamos aplicativo para pagamento via Pix; dentro de um mês, teremos a função “onde está meu ônibus”. Isso vai revolucionar a mobilidade urbana, além dos mais de 300 ônibus novos que colocamos nas ruas.
Também usamos tecnologia a nosso favor. Quando o BRT Metropolitano entrar em operação, nossa concepção é integrá-lo ao BRT Belém. A previsão é setembro/outubro; até o fim do ano, devemos concluir as obras da Avenida Augusto Montenegro. Depois, licitaremos a operação, podendo ser a mesma empresa explorando as duas linhas ou o Estado operando o BRT integrado.
Nossa obrigação é entregar a obra, pois ela se arrasta há quase 20 anos. Tenho convicção de que nosso mandato será o que entregará o BRT e o colocará em funcionamento. A meta é iniciar a entrega e operação ainda neste mandato e inclusive, lá na frente, fazendo o BRT das águas.
E entregá-lo também?
A viabilidade do BRT fluvial depende de estudos e obras estruturantes.
Já estamos fazendo o terminal hidroviário em Icoaraci com o governo do Estado: reformamos o terminal da [praça] Princesa Isabel; Mosqueiro já tem terminal; falta um em Ananindeua. A ideia é servir as ilhas e ter linha expressa. Iniciamos o transporte Icoaraci–Cotijuba com embarcações modernas, reduzindo de uma hora para 40 minutos, pelo mesmo valor.
Avançamos em mobilidade mais do que as três ou quatro gestões anteriores em seis meses. É uma grande conquista; ainda há muito a melhorar, mas avançamos muito. Se continuarmos com organização e cumprimento do plano, entregaremos o BRT, melhoraremos a mobilidade tradicional e instalaremos o modal fluvial. Se mantivermos essa energia, não tenho dúvida de que vamos conseguir.
Mas não é só mobilidade: Belém tem muitos desafios. A ideia é enfrentá-los de forma coesa, correta e em diálogo com a população, fazendo o que for importante para dar continuidade às políticas públicas.
O senhor falou sobre arrecadação: é possível aumentá-la ainda este ano?
A Secretaria de Finanças é um dos grandes corações da cidade, pois lá ocorre a arrecadação e a organização para que os tributos pagos pela população se revertam em obras e serviços. Passamos mais de uma semana sem conseguir emitir nota fiscal; tudo era manual, em papel, sem digitalização.
Como cobrar melhor sem sistema? Quem tenta pagar ITBI dá duas ou três voltas sem êxito. Faremos grande investimento em sistemas e atualizaremos a planta imobiliária: hoje não sabemos quais imóveis pertencem à prefeitura, quem deve IPTU, quem está em dívida de ISS. Temos dificuldade de obter informações por falta de tecnologia. Optamos por não fazer assistencialismo de curto prazo; vamos investir na modernização da gestão pública para garantir anos prósperos, social e economicamente.
E quanto às obras da COP 30, qual sua avaliação sobre o andamento delas?
As obras estaduais estão muito adiantadas e vão ser entregues antes da COP. As nossas enfrentaram dificuldades iniciais: o canal do São Joaquim estava 5% concluído quando assumimos; hoje ultrapassamos 50% e aceleramos as obras para garantir entrega antes do evento. No Ver-o-Peso, a área do artesanato, Feira do Açaí, Pedra do Peixe e a Rua da Ladeira já foram entregues.
Não foi fácil ajustar o ritmo, mas vamos entregar. O Mercado de São Brás foi inaugurado sem conclusão total; continuamos em obras e vamos finalizar este mês para que os permissionários entrem. Inauguramos unidades habitacionais na Estrada Nova sem habite-se; houve irregularidades. Não estou aqui para culpar ninguém, mas, embora esses problemas não sejam culpa minha, a obrigação de resolver é minha. Já identificamos os pontos e estamos trabalhando neles; não é da noite para o dia, mas vamos resolver.
Vai ter obra nova para a COP? Decidimos que só faremos obras novas quando o que existe funcionar adequadamente. Assumi a prefeitura e apenas uma unidade de saúde estava bem; as demais estavam precárias: sem computador, ar-condicionado quebrado, infiltrações. Buscaremos reformar as unidades. Conseguimos cerca de 12 reformas profundas no primeiro semestre e vamos inaugurar o primeiro “postão” de saúde em Creci ainda no segundo semestre — proposta de campanha que já está 80% concluída, com horário estendido e especialidades reforçadas.
Qual o prazo para entrega do postão?
Início do segundo semestre.
E quanto à Praça Dom Pedro II, próxima a pontos turísticos. Alguma previsão de reforma?
Fechamos parcerias público-privadas; em cinco meses aprovamos cinco projetos, marca histórica para uma capital. A Assembleia Legislativa adotou a praça para requalificação, com restaurante e parque infantil, mantendo o patrimônio.
Do mesmo modo, o Exército vai adotar a Praça Waldemar Henrique; temos pelo menos sete praças definidas com parceiros. A ideia é reduzir custos de manutenção e focar no que a população precisa: unidades de saúde, escolas, saneamento, calçamento, zeladoria. Tudo que pudermos passar à iniciativa privada ou a entidades do terceiro setor, sem prejudicar o uso público e sem exploração econômica abusiva, faremos.
Gestor de cidade com orçamento limitado precisa ser criativo; é isso que buscamos: criatividade, força de trabalho e superação de erros históricos.
Na área da educação, o que já foi possível fazer nesses primeiros seis meses?
Na educação, Belém paga um dos maiores pisos salariais para professores do país. Fizemos uma força-tarefa para garantir presença em sala de aula — somos o terceiro pior IDEB do Brasil e o pior da região Norte. Implantamos processo pedagógico com métodos bem-sucedidos em outras capitais. Reformamos duas escolas em seis meses; 15 entrarão em reforma, incluindo a Inês Maroja, no Barreiro, com 25 salas e sistema construtivo moderno para entrega em um ano.
No segundo semestre, distribuiremos uniformes, mochila e material escolar para toda a rede — há mais de uma década não se fazia isso. Também melhoraremos a merenda com cardápio assertivo. Acredito que a educação municipal dará um salto no segundo semestre.
No último dia 18, a Universidade Federal Rural da Amazônia apresentou o resultado do Plano Municipal de Redução de Riscos, apontando áreas com risco de erosão nas ilhas de Belém. Existe algum projeto nesse sentido?
Temos parceria com o Ministério das Cidades, com apoio do ministro Jader Filho. As ilhas sofrem erosão; precisaremos de muros de contenção e arrimo. É tarefa difícil, mas buscamos recursos federais.
Como o senhor avalia a adesão da população ao voluntariado na Defesa Civil, considerando que este ano teremos a COP?
Nossa Defesa Civil fez mais em seis meses do que muitas outras gestões: atualmente atua preventivamente, com agenda diária, qualificação e chamamento de voluntários em parceria federal e estadual. Antes, só aparecia em sinistros ou grandes eventos; hoje, está voltada à prevenção.
E o que o senhor tem ouvido de demandas da população nos bairros?
Belém é uma cidade incrível e a população é apaixonada pela cidade, mas o cotidiano precisa melhorar. Por que escolhi ordem pública e zeladoria? Porque, sem civilidade, nenhuma obra adianta: de que adianta um parque se for depredado? De que adianta reformar praça se houver sujeira irregular? Faremos campanha de conscientização e tolerância zero: quem infringir será punido com todo o rigor da lei.
Servidores devem bater ponto e entregar resultado; cidadãos devem zelar pela cidade como zelam por suas casas. Se a casa estiver limpa, todos ganham; se suja, ninguém quer morar. Vale a teoria das janelas quebradas: janela quebrada incentiva a depredação. Ou a gente pensa a cidade realmente para o coletivo, ou então ela vai estar fadada ao insucesso.
Reforço: fui eleito prefeito de Belém para fazer o que é certo, não politicagem ou mídia. Minha prioridade é a cidade, não eleição. Meu compromisso é restaurar a paz, ordem, organização e qualidade de vida para todos.
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