Políticos paraenses reagem ao tarifaço de Trump e avaliam riscos para a economia local
Na última quarta (9), o presidente dos EUA anunciou tarifa de 50% sobre produtos brasileiros
O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto — a mais alta entre os 22 países notificados até o momento — gerou forte repercussão no cenário político paraense. Trump justificou a medida, anunciada na última quarta-feira (9), como resposta ao julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e a supostos "ataques insidiosos" do Brasil às eleições livres e à liberdade de expressão. A possível taxação preocupa parlamentares e líderes locais pelo impacto direto em pilares da economia do estado, como a mineração e o agronegócio. As reações vão da condenação à interferência externa à busca por alternativas diplomáticas, além de críticas à política externa do atual governo federal.
Donald Trump indicou nesta sexta-feira (11/7) que está aberto à possibilidade de dialogar futuramente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as tarifas de 50% aplicadas a produtos brasileiros. Durante uma conversa com jornalistas em Washington, ele afirmou que esse diálogo deve acontecer "em algum momento, mas não agora".
Para o senador Beto Faro (PT), a medida de Trump representa uma violação da soberania e da democracia brasileira. Faro ressaltou que o comprometimento do comércio bilateral com os EUA equivale a 1,7% do PIB, mas reconheceu que o Pará, com as exportações minerais e do agronegócio, será profundamente afetado. "O que o presidente Trump pretendeu mesmo foi violar a nossa soberania e a nova democracia. Realmente me surpreendo que ele possa achar que o poder judiciário será intimidado no processo de julgamento de Jair Bolsonaro", afirmou o senador. Ele também criticou a tentativa de proteger as Big Techs que, segundo ele, foram o esteio da campanha eleitoral de Trump, na expectativa de que o Brasil continue sendo uma "terra sem lei para os prêmios digitais".
Sobre as medidas para reverter a situação, ele informou que protocolou um requerimento no Senado para transformar a próxima sessão plenária em um espaço de debate sobre o tema e demonstrou confiança de que o Parlamento brasileiro manterá uma postura firme diante de ações consideradas desrespeitosas e intimidatórias ao país. O senador também criticou a postura de setores do agronegócio que buscam negociações diretas com os Estados Unidos, considerando a iniciativa individualista e desalinhada com os interesses nacionais. Para Faro, a diversificação de parceiros comerciais, especialmente por meio do Brics, é essencial para o Brasil diante do atual cenário geopolítico.
Para o deputado federal Airton Faleiro (PT), a tarifa é uma retaliação baseada em motivações ideológicas e não em fundamentos econômicos. Diante do cenário, ele propõe uma série de ações concretas para minimizar os impactos sobre setores mais afetados do Pará, como a mineração e o agronegócio. Entre as medidas, está a articulação para que o Itamaraty e o governo federal apresentem uma resposta diplomática firme, envolvendo a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Grupo dos 20 (G20), em defesa da soberania nacional e do comércio justo. Faleiro também pretende promover audiências na Câmara dos Deputados para mapear os impactos da tarifa e construir, em parceria com governadores e parlamentares, propostas emergenciais.
Entre as soluções sugeridas, ele destaca a criação de linhas de crédito com juros reduzidos por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros bancos federais, para garantir capital de giro às empresas exportadoras — ou seja, os recursos que as empresas precisam para manter as atividades do dia a dia. Propõe ainda a ampliação do uso do Seguro de Crédito à Exportação, com recursos do Fundo de Garantia à Exportação, e a inclusão de melhorias logísticas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como investimentos em portos, armazéns e infraestrutura de refrigeração. Por fim, defende a criação de um programa de apoio institucional e jurídico para orientar empresas exportadoras sobre cláusulas de força maior, ajudando a evitar prejuízos em contratos afetados pela nova tarifa imposta pelos Estados Unidos.
Em contrapartida, para o deputado federal Delegado Caveira (PL), a tarifa imposta pelos Estados Unidos é resultado direto do que ele classifica como uma política externa “ideológica e desastrosa” do governo Lula, que teria rompido o alinhamento com potências democráticas em favor de regimes autoritários. Na visão do parlamentar, o Pará será um dos estados mais impactados, já que depende fortemente da exportação de grãos, carnes e minérios. Segundo ele, a medida pode comprometer contratos, reduzir a competitividade dos produtos paraenses e gerar desemprego em larga escala.
Como resposta, Caveira defende a criação urgente de linhas de crédito para os produtores afetados, desoneração fiscal temporária nas exportações prejudicadas e a formação de um fundo de compensação para manter empregos e contratos. Ele afirma que a oposição está articulando uma frente no Congresso para pressionar o governo. Ele defende uma "reação diplomática firme, com diálogo direto com Washington", e exige que o Itamaraty "deixe de priorizar afinidades políticas e defenda os interesses nacionais". Para o deputado, o Brasil precisa diversificar os parceiros comerciais com responsabilidade, sem romper com os aliados históricos do Ocidente. O Pará, segundo ele, pode liderar parcerias com países que respeitam o livre mercado, especialmente na Ásia, Europa e América Latina.
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