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Em Belém, governador do Amapá defende diversificação energética e exploração da Margem Equatorial

Clécio Luís destacou as potencialidades estratégicas do estado e reforçou a importância da união entre os estados amazônicos diante das pressões internacionais

O Liberal

Natural do Pará, Clécio Luís construiu a sua carreira política no Amapá, onde, atualmente, comanda o executivo estadual. Entre os assuntos que mais têm se destacado no seu governo, Clécio Luís defende a exploração da Margem Equatorial e a execução de projetos estratégicos para o desenvolvimento na região Norte.


Em Belém, durante sua participação no Amazon Energy 2025, evento promovido pela Federação das Indústrias do Pará (FIEPA), o governador do Amapá destacou as potencialidades estratégicas do estado, especialmente por sua localização privilegiada, com acesso logístico facilitado e fronteira com a França, por meio da Guiana Francesa, o que o conecta diretamente ao mercado europeu.

Em entrevista à reportagem, enfatizou o protagonismo do Amapá na produção de energia limpa e na diversificação da matriz energética. Aproveitou a ocasião para reforçar a importância da união entre os estados amazônicos diante das pressões internacionais, defendendo a construção de uma agenda comum que concilie a preservação ambiental com o desenvolvimento social da região. Confira a entrevista completa:

O senhor citou a Guiana Francesa como uma ponte estratégica para alcançar novos mercados externos. Como o senhor avalia o potencial de exportação dos produtos nativos da Amazônia?

É um potencial gigantesco, porque nós temos um mercado, tanto o Amapá quanto o Pará, voltados para si mesmos, ou seja, um mercado interno, um mercado brasileiro e o Mercosul. Como nós temos uma fronteira, e a maior fronteira da França com outro país, que é o Oiapoque, há uma ponte, uma ponte de amizade desses dois povos. Tudo o que a Guiana consome vem de Air France todos os dias a custos altíssimos. Então, nós, Pará e Amapá, podemos fornecer todos os tipos de produtos, agora incluindo produtos de origem animal para a Guiana Francesa e, consequentemente, para a Europa. Quando eu olho para a Guiana, que tem um ticket médio alto de salários, vejo a França e vejo a Europa. Então, esse mercado se abre tanto para o Amapá quanto para o Pará.

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Falando um pouco sobre parceria público-privada, na sua avaliação, qual a importância desses investimentos, especialmente na área energética, para transformar esse cenário e promover o desenvolvimento sustentável, principalmente com a sua vinda para Belém e aproximação com as indústrias paraenses?

O setor público não tem condições de fazer os investimentos necessários na proporção para o que nós tratamos aqui. Óleo, gás, mineração, enfim, são atividades econômicas de larga escala. Embora a gente fale da parceria, a parceria deve ser no sentido de os estados, como entes federados do Brasil, os governadores, os prefeitos, devem oferecer nessa parceria segurança política, ou seja, clareza; segurança jurídica, com legislação boa, objetiva; e segurança ambiental, ou seja, regras do que pode e o que não pode, para que a gente continue preservando a Amazônia, mas gerando novos negócios. Negócios que podem ser chamados de negócios verdes, negócios azuis por conta do nosso oceano, negócios sustentáveis, como queiramos chamar. Eles são, na verdade, negócios éticos.

Essa é a parceria, mas quem tem condições hoje, operacionais, objetivas, de fazer investimentos, é o privado. Por isso que é importante ter regras claras, ter posicionamento político claro, que é o que eu vim trazer aqui, ou seja, posicionamento político. O Amapá quer se desenvolver e quer continuar preservado. O Amapá está oferecendo boa legislação, ou seja, segurança jurídica. O Amapá está oferecendo também segurança ambiental na medida em que tem todo o seu território zoneado, podendo dizer com segurança o que pode e o que não pode nessa ou naquela área.

Falando sobre a Margem Equatorial, um assunto que ganhou outros contrastes com os leilões que aconteceram recentemente, como o senhor avalia esse novo cenário? De que forma isso deve impactar não só a geração de energia aqui na Amazônia, mas essa matriz energética como um todo?

Isso gera um novo cenário, uma nova matriz econômica, porque nós temos várias matrizes. Temos mineração, temos grandes exemplos econômicos, mas não tínhamos ainda essa experiência de óleo e gás. A Margem Equatorial, que vai da Costa do Amapá até o Rio Grande do Norte, se apresenta, principalmente, para o Pará e para o Amapá, como essa alternativa de uma nova matriz econômica.

Além de termos uma nova matriz econômica capaz de estimular outras atividades que não são da base do petróleo, isso é muito importante, ou seja, os recursos do petróleo podem servir para financiar outras atividades econômicas, a partir, por exemplo, da sociodiversidade, e transformar isso em bioeconomia. Pode financiar estudos, pesquisa aplicada, universidades, preservação do meio ambiente.

É uma matriz econômica de larga escala que nos interessa muito, e da qual o Brasil não abriu mão ainda. Nós ainda utilizamos todos os dias veículos movidos a combustíveis fósseis, especialmente o petróleo, mas o petróleo não se utiliza só para queima, para combustível. Tudo ou quase tudo que nós temos tem petróleo: na minha roupa, na minha gravata, nesse microfone, nessa câmera que está filmando, e aquilo que não tiver petróleo foi transportado por um veículo movido a combustível fóssil.

Eu sou um dos defensores da transição energética, o mundo precisa realmente transitar dessa matriz apenas de combustíveis fósseis para outras matrizes renováveis, mas isso vai demorar tempo. O próprio petróleo é uma das fontes que pode financiar essas novas fontes. No Amapá, eu faço questão de dizer, que já fizemos a nossa transição energética. Não temos mais energia a partir de combustível fóssil. Toda energia é gerada a partir de hidrelétricas. Agora, a gente está em uma outra fase, elaborando estudos, atlas de potencial solar, potencial eólico, potencial de biomassa, potencial hídrico, para fazer o outro passo. Enquanto o mundo está falando em transição energética, nós já estamos falando em diversificação energética. Então, o petróleo até para isso é importante, para financiar a transição e a diversificação energética.

A partir desse movimento, é possível também colocar a Amazônia e os estados da Amazônia em um local de protagonismo no cenário nacional?

Claro, sabe por quê? Porque nós preservamos a Amazônia. E a mensagem que a gente está passando para o mundo hoje é muito ruim. Qual é a mensagem? É a de que quem devastou, quem desmatou, quem não protegeu, ficou rico. Quem preservou, quem cuidou, no nosso caso, continuou na pobreza. Isso é uma mensagem péssima. Nós queremos virar essa página e dizer o seguinte: Valeu a pena preservar, valeu a pena proteger, valeu a pena não desmatar e criar outras fontes de atividades econômicas, de negócios capazes de sustentar a floresta viva e em pé para sempre, mas gerando economia, atividade econômica, gerando negócios, gerando emprego, gerando dignidade.

Como o senhor falou muito sobre integração entre os estados, gostaria que o senhor falasse qual é a sua visão sobre o que ainda falta fazer em termos de articulação entre os estados do Norte para garantir que a COP30 seja um evento eficaz?

Bom, nós temos um Consórcio da Amazônia, presidido pelo governador Helder Barbalho, e esse consórcio é muito importante. Ele vai ter um papel muito importante não só para juntar os estados, não só para juntar os governadores, prefeitos, mas na construção de consensos em favor de uma Amazônia que se mantenha preservada, mas que possa também produzir riquezas para quem mora debaixo das copas das árvores e que não são vistos. Então, criar esses consensos vai permitir que a gente possa, a partir deles, gerar negócios que possam gerar emprego, renda, economia, dignidade, futuro.