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Auxílio emergencial de R$ 375 é única renda de 830 mil mulheres no Pará

Paraenses tem dificuldade para equilibrar as finanças domésticas por conta da redução no valor do benefício

THIAGO VILARINS - SUCURSAL DE BRASÍLIA (DF)

O sustento da casa com R$ 375 mensais é a realidade de, pelo menos, 830 mil mulheres paraenses chefes de família que tentam sobreviver com o novo auxílio emergencial, que começou a ser pago pelo governo federal em abril. O auxílio emergencial destinado aos mais vulneráveis durante a pandemia foi recriado neste ano por quatro meses, mas poderá ser prorrogado até outubro. Os valores atuais variam de R$ 150 a R$ 375, sendo este último valor, justamente, para as mulheres que comandam sozinhas os seus lares.

No ano passado, as famílias monoparentais recebiam em dobro, e o valor chegou a R$ 1,2 mil por mês, entre abril e agosto. Depois, com a prorrogação, passou para R$ 600 de setembro a dezembro. De acordo com dados repassados a O Liberal pelo Ministério da Cidadania, as chefes de família representam 491.409 da folha de pagamento atual do Pará dos que recebem o auxílio emergencial fora do programa Bolsa Família. Elas representam 25,4% das 1.933.971 famílias contempladas pelo auxílio no Pará.

Entre os 654.198 grupos familiares do Bolsa no Estado que recebem o benefício, quase 52% são comandados por mães solos. Em números, são mais 335 mil paraenses, pelo menos. Com isso, o número de unidades familiares paraenses chefiadas por mulheres pode chegar a 826.358. Nesta mesma base de análise, o total de lares no País com renda única de R$ 375 é de 13,48 milhões, sendo 8,6 milhões deles chefiados por mulheres que recebem somente o auxílio e 5 milhões que participam do Bolsa e recebem o benefício.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses registrou no Pará alta de pouco mais de 8,5% até junho, mas os alimentos e bebidas acumulam valorização no Estado de 15,4% no mesmo período, a maior alta desde 2002, quando subiu 19,47%. Os principais itens da cesta básica subiram muito mais, como óleo de soja (97,42%), arroz (39,68%), carne vermelha (36,09%) e botijão de gás (23,70%).

Ainda para efeito de comparação, o custo da cesta de produtos básicos em Belém no último mês de maio chegou a R$ 515,84, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (Dieese-PA). Ou seja, a cesta básica de alimentos dos paraenses é quase 40% mais cara que o valor da renda destas famílias comandadas por mulheres no Estado.

A economista Hellen Bentes, representante do Conselho Regional de Economia do Pará e do Amapá, avalia que o atual quadro inflacionário torna o auxílio emergencial um benefício "para custeio de subsistência". "O valor desse auxílio não é suficiente, com toda a certeza, para que seja garantido o mínimo possível de de alimentação. É só a gente ver o valor da cesta básica, que é muito superior a isso. Então, não tem como essa conta fechar. Se a cesta básica, que não dá para uma família maior de quatro pessoas, e é o mínimo do mínimo, não é possível garantir, imagine outros custos, como energia, água, qualquer outra coisa que venha além da alimentação, não é possível custear", afirma.

"E a pandemia, de fato, tem piorado muito esse cenário. Com a falta de circulação das pessoas, não há lugar para os vendedores ambulantes, para quem presta aqueles serviços onde existe circulação de pessoas, onde você pode entregar... tudo isso fica prejudicado. Então, não tem como reinventar nesse momento. É óbvio que pessoas empreendedoras vão conseguir sair de alguma forma. Mas no geral, essa realidade não é possível. E fica difícil pensar quando você não tem como sustentar a sua família, quando você não tem como se dar o mínimo necessário para os seus filhos. Isso daí é uma dor para qualquer mãe, para qualquer pai, que não tenha como prover o que é necessário para que se tenha uma vida digna", complementou.

Ainda segundo a economista, é necessário, neste momento, um planejamento financeiro para que as pessoas possam entender o seu orçamento e ficarem mais preparados para essas situações adversas, e, principalmente, o governo rever a sua política assistencialista para uma aplicação de maneira eficiente. "Resta saber, agora, qual será o plano do governo para tirar essas famílias dessa realidade, porque não vamos conseguir, por iniciativa própria. Vai ter que ter intervenção do Governo, seja com reajuste desse valor ou que dê freada na inflação, que é um pouco mais difícil, porque da forma como está. Como está sendo feito, dessa forma, as famílias vão retornar para a extrema pobreza", disse.

Infográfico

Auxílio Emergencial

Das 39,2 milhões de famílias contempladas pelo Auxílio Emergencial 2021 fora do programa Bolsa Família, 8,6 milhões são compostas por mulheres chefes de família, o que representa um desembolso de R$ 6,37 bilhões até o momento.

Desse total, 1.933.971 famílias são do Estado do Pará, sendo 491.409 chefiadas por mulheres. Os repasses somam R$ 908,5 milhões e R$ 367 milhões, respectivamente.  

Entre os 9,77 milhões grupos familiares do Bolsa Família que recebem o benefício, as mães solos são 51,2%. No Pará, são 654.198 no total, sendo 334.949 mulheres chefes de família. 

Com isso, o número de unidades familiares chefiadas por mulheres pode chegar a 13,48 milhões no Brasil e 826.358 no Pará.

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