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Naufrágio na Ilha de Cotijuba: sobrevivente grávida fala sobre perda do marido e indenização

A professora Fernanda Avelar, 31 anos, está grávida de dois meses de Sinval Lopes da Costa, uma das 22 pessoas que morreram no naufrágio

Saul Anjos

A professora Fernanda Avelar, 31 anos, foi uma das pessoas que conseguiram sobreviver do naufrágio na Ilha de Cotijuba, da embarcação “Dona Lourdes II”. Ela está grávida de dois meses e era companheira de Sinval Lopes da Costa, 32 anos, que morreu no acidente. O casal, que estava junto há 16 anos, ia para Belém realizar exames médicos do bebê e comprar um carro. Fernanda conversou com a reportagem na tarde de quinta-feira (22), na companhia do advogado criminalista Humberto Feio Boulhosa e de Lucival Lopes da Costa, de 70 anos, pai de Sinval.


Fernanda relata que o comandante da lancha, Marcos de Souza Oliveira, teria pedido calma aos tripulantes, por que a lancha havia afundado muito rápido. A mulher ainda resgatou uma criança durante o naufrágio. “Saímos do Foz do Rio Camará (Salvaterra) com destino a Belém. Durante a viagem, teve um momento que a lancha deu uma estancada. O motor ficou funcionando, mas a lancha não se mexia, apenas com o balanço da maresia. As pessoas começaram a se desesperar e chorar e, algumas, quiseram pegar os coletes salva-vidas, mas o comandante (Marcos) não deixou. Ele disse que era para nós ficarmos sentados. O Sinval (marido) estava na mesma fileira que a minha dos assentos, mas ele não conseguiu escapar. Fiquei, pelo menos quatro horas, à deriva. Ainda resgatei uma criança que, por pouco não morreu.

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Após duas semanas do acidente, a saudade do marido, com quem compartilhava a vida há 16 anos, é grande. “Ele estava muito feliz por ser pai. Íamos comprar um carro em Belém. Estávamos guardando dinheiro para a casa que reformamos. Perdi o meu melhor amigo. É muito dolorido”. Fernanda chora e retorna a fala. “Interrompeu os nossos planos. Estou vivendo um dia de cada vez. Eu sei que tenho que seguir em frente, mas é difícil. Estávamos juntos há 16 anos, sete meses e sete dias”, contou a docente.

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Indenização por danos morais

A sobrevivente comentou que ainda não recebeu nenhum contato da defesa de Marcos para falar sobre a questão de indenização. Dorivaldo Belém, que é o advogado do comandante da “Dona Lourdes II”, estipulou o valor de R$ 220 mil, ou seja, R$10 mil para cada família como indenização por danos morais para as famílias das vítimas que morreram. 

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Humberto, o advogado que representa Fernanda, disse que tomará os devidos procedimentos. “Um pai de família que morre com um embrião dentro de sua amada, não tem preço. Nada disso paga o prejuízo causado. Além de não procurarem, brincaram com a dor alheia. Vamos cobrar do governo e das instituições para que se tenha uma resposta. No momento propício, vamos pedir uma indenização por essa carnificina”, contou a defesa da sobrevivente. 

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