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Fotógrafo baleado por PM revela: “Ele botou a arma na minha cara, para me matar"

Êxodo Happy de Jesus Santos, de 25 anos, se recupera em casa do tiro que levou na perna direita

Dilson Pimentel

O fotógrafo Êxodo Happy de Jesus Santos, mais conhecido como “Junior Hoffman”, 25 anos, que foi baleado por um policial militar, já recebeu alta hospitalar e está se recuperando na casa dele. E, em entrevista à Redação Integrada, na tarde desta sexta-feira (29), contou as circunstâncias que resultaram no baleamento dele, na tarde de terça-feira (26), no município de Ananindeua.

Ele lembrou que, já baleado, ainda pediu para o militar não matá-lo. “Ele chegou perto de mim e botou a arma na minha cara, para me matar”, contou. O fotógrafo foi salvo pela intervenção das pessoas que presenciaram a ação do militar, o cabo Paulo Fernando Leal.

O baleamento ocorreu entre 16h30 e 17 horas, na travessa WE 38, Cidade Nova 4. Junior Hoffman, que fotografa desde os 17 anos de idade, havia chegado de uma viagem. Em seguida, descansou. E, ao acordar, foi comprar pão.

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Ao passar em frente a uma casa, que fica praticamente na mesma rua da casa e da padaria, viu uma briga. “A casa dela, sala e tudo já é bem para a rua. Não tinha como não perceber aquela discussão e aquela briga. Que eu olho lá para dentro e deu pra ver ele agredindo ela. Pelo o que entendi, ele já queria sair, queria fugir. Vi ele a agredindo fisicamente”, contou.

O militar queria sair com a criança, um bebê, e a mão da criança não estava deixando. “Eles estavam lutando. Ela queria ficar com a criança e ele queria levar. Eu vi e continuei indo em direção à padaria”, afirmou.

Antes de atirar, PM provocou o fotógrafo, contou a vítima

Uns 50 metros à frente, ele escutou a mulher gritar: “Ei, ele quer levar meu filho. Quando eu olho para trás, ela estava falando para mim, porque só estava eu passando naquela hora. Não tinha mais ninguém na rua. Eu olho e ela atracada no braço dele e ele empurrando ela, até que ele conseguiu empurrar de uma forma que ela foi com tudo dentro da casa dela”, contou.

O homem, então, subiu na moto e acelerou o veículo. “Quando eu percebi, ele parou do meu lado, querendo se explicar, que não era o que eu estava pensando, etc. Eu falei: ‘não estou pensando nada. Na verdade, eu tenho certeza absoluta do que tu fez e isso não se faz’”.

Ainda segundo o fotógrafo, o militar se "alterou" e queria confusão. “Eu disse que era errado. Eu apenas defendi ela em palavras. Tem gente que está falando que eu cheguei no meio da briga, separando e batendo nele. Eu apenas defendi a moça em palavras”, contou. Ele acrescentou que conhecia a moça apenas de vista, pois passa por aquele endereço para comprar pão e açaí.

"Sou a pessoa mais calma do mundo", diz fotógrafo

Junior Hoffman disse que o homem ficou resmungando. “Quando eu virei de costas, ele falou: ‘acerta esse teu cabelo nojento, imundo, uma coisa assim que ele falou, porque ele já tinha mais argumento para usar contra mim. Começou a vir com essa injúria racial”, afirmou. “Esse foi o meu ponto fraco, foi o meu ápice. No momento, eu não sabia que ele era policial e que ele tava armado. Ele ainda tava com obebê no peito dele, usando um ‘canguru’ (acessório para carregar a criança junto ao corpo)”.

O fotógrafo disse que, ao ouvir aquelas palavras, ficou indignado.  “Quando ele falou isso, eu não pensei duas vezes. Eu sou a pessoa mais calma do mundo. Mas ele pegou no meu ponto fraco. Ali não pensei duas vezes: quando virei de costas para ir pra cima dele, ele já esperava, porque ele queria confusão”.

O PM jogou a moto dele e começou a mexer na cintura. Junior imaginou era o gesto para tirar a criança de quatro meses do ‘canguru’. “Mas não. Ele tava tirando a arma dele. Quando eu percebi, só tive a reação de correr. Em fração de segundos escutei o primeiro disparo, que atingiu a minha perna (coxa) direita. E eu caí”, contou.

PM fez o disparo com a criança no próprio colo

Caído, o homem apertou o gatilho mais uma vez, mas essa bala pegou em um carro estacionado às proximidades. “Eu não sabia que ele tinha dado dois disparos (vim saber ontem, quinta, feira, 28).  Ele chegou perto de mim e botou a arma na minha cara, para me matar: eu botei a mão e disse: ‘não me mata, por favor’. Até pedi desculpas. Só que, nessa hora, tinha muita gente vendo. Aí, começaram a gritar: ‘não mata ele’. Ele baixou a arma, me deu uma encarada e voltou para a moto dele”.

Junior Hoffman contou que ainda ainda viu “malmente a esposa dele, ou ex-companheira, não sei o que ela é pra ele, tentar pegar a criança de volta nesse momento, mas ela não conseguiu e ele fugir. Ele fez tudo isso com a criança no canguruzinho dele”. E acrescentou: “Assim que pegou o primeiro tiro, só deu tempo de pedir para ele não me matar. Depois, não lembro de muita coisa. Perdi muito sangue e fui ficando fraco, tonto, tava querendo desmaiar e comecei a perder a noção das coisas. Um rapaz me levou para o hospital”. Tudo indica que o militar usou a arma da corporação, uma pistola ponto 40, de alto poder de fogo.

O fotógrafo foi operado na quarta-feira e, a quinta, recebeu alta hospitalar. “Agora, estou me recuperando, graças a Deus. Estou deitando. Não dá para ficar em pé ou sentado, porque a perna fica inchada e dói”. Na próxima segunda-feira, ele irá prestar depoimento na Polícia, que investiga o caso.

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