Personal e PM mortos em Belém: Sargento achou que estava impedindo um assalto, diz advogado
O sargento Luiz prestou depoimento na quarta-feira (21), na Divisão de Homicídios, em São Brás, e foi liberado
A reportagem do Grupo Liberal conversou, nesta quinta-feira (22), com o advogado criminalista Alisson Costa, responsável pela defesa do sargento Luiz, da Polícia Militar do Pará. O militar é o homem que, na noite da última segunda-feira (19), atirou contra o também policial militar Rodrigo Alves Ferreira, durante uma abordagem realizada por Rodrigo ao personal trainer Alberto Wilson dos Santos Quintela, em frente a uma academia na avenida Senador Lemos, no bairro da Sacramenta, em Belém. Ainda não há detalhes sobre o motivo da abordagem feita por Rodrigo ao personal trainer, mas a principal linha de investigação aponta para um crime motivado por ciúmes.
O sargento Luiz prestou depoimento na quarta-feira (21), na Divisão de Homicídios, em São Brás, e foi liberado. Segundo o advogado, seu cliente acreditava estar reagindo a um assalto. Na ação, tanto o policial Rodrigo quanto o personal Alberto morreram. A arma de Luiz foi apreendida e deverá ser periciada.
“Ele [o sargento Luiz] vai todas as noites até a porta da academia buscar sua esposa, que trabalha lá como serviço gerais. Ele percebeu que havia um indivíduo em uma moto. A moto estava sem placa, e o indivíduo [o policial militar Rodrigo] vestia luvas, jaqueta, uma balaclava para cobrir o rosto e o capacete. Então, ele imaginou que haveria um assalto ali. Ele já ficou na frente da academia esperando sua esposa sair, mas também observando o indivíduo”, explicou o advogado criminalista.
Ele acrescentou que o sargento estava do outro lado da rua, observando a movimentação, quando viu o homem da moto abordar o personal trainer com uma arma em punho. “E aí as pessoas começaram a sair, ele não abordou ninguém, mas depois de um instante saiu o personal. O motoqueiro veio e abordou o personal, com uma arma em punho. Então, algumas pessoas na academia gritaram: 'assalto, assalto'”, relatou Alisson Costa.
Ainda segundo o advogado, o sargento agiu diante do que considerou uma ameaça iminente. “E quando o sargento Luiz efetuou alguns disparos, ele não sabe dizer se o policial já havia atirado no personal, porque ali é uma via bastante movimentada, tem muito barulho. Ele viu o policial com a arma em punho, então ele foi até lá e realizou alguns disparos, porque ele imaginava que se tratava de um assalto”, disse.
Imagens de câmeras de segurança mostram o sargento deixando o local caminhando. Segundo o advogado, há uma explicação médica para isso. “Algumas dúvidas ficaram nas pessoas, por causa das imagens que, no caso do sargento Luiz, ele sai andando devagarzinho. Acontece que ele é cardiopata. Ele tem uma cardiopatia, ele fez cirurgia de peito aberto, ele está esperando uma outra cirurgia. Ele não pode correr, não pode entrar em luta corporal. Então, naquele momento que ele disparou e o agressor caiu, ele não tinha como saber que era um PM. Ele achava que era um homem roubando”, detalhou.
Sobre a reação do sargento após os disparos, Alisson Costa acrescentou. “Nesse momento, ele ficou com medo de ir até o carro do personal, saiu andando. E aí ele esperava que as pessoas chamassem, como de fato chamaram, a polícia e a ambulância. E aí ele sai andando bem devagarzinho, porque realmente ele não pode correr”, pontuou.
De acordo com o advogado, Luiz disparou cerca de sete vezes. “Ele não tinha certeza se o agressor ainda estava com arma em punho, consciente. Se reparar nos vídeos, ele atira, e o agressor cai. Ele se esconde atrás de um carro, volta e dá mais ou menos um disparo, porque, naquele momento, o policial tinha arma em punho. Ele caiu consciente, com o peito para cima. E ele tentava pegar a segunda arma. As investigações iniciais mostram que o R. Alves tinha duas armas. Ele tinha um revólver e uma pistola. E ele estava tentando pegar a segunda arma dentro da sua jaqueta”, revelou.
Questionado sobre a apresentação voluntária do sargento, após um período supostamente de flagrante, Alisson explicou. “Na verdade, nem é um flagrante porque, como ele agiu em legítima defesa de terceiro, não há crime, então não há flagrante. O que aconteceu é que eu, advogado dele, estava viajando e só cheguei na quarta-feira (21) e ele preferiu esperar pra que ele se apresentasse acompanhado de advogado. Por isso, ele levou mais de um dia para se apresentar”, garantiu.
Sobre os próximos passos, o advogado informou que a Delegacia de Homicídios deverá ouvir novas testemunhas. “A Delegacia de Homicídios vai ouvir mais pessoas, mais testemunhas, para tentar entender qual era o conflito entre o policial e o personal. O sargento Luiz não os conhecia e agiu, realmente, só na tentativa de impedir um assalto”, afirmou.
Ainda segundo o defensor, o sargento colaborou com todas as medidas solicitadas pela polícia. “Da parte do sargento Luiz, ele já cumpriu o que ele tinha que cumprir. Ele se apresentou voluntariamente, apresentou a arma que ele usou. Apresentou o carregador. A arma é uma arma legal, é uma arma regular, registrada. Então, ele colaborou com tudo que precisa colaborar, para que não seja preciso prisão preventiva. Mas agora, o que vai acontecer é o andamento das investigações e há que ser feita uma perícia na arma dele. Há que ser feita uma perícia nas armas que estavam com o R. Alves. Ele estava com duas armas, uma pistola e um revólver”, concluiu o advogado Alisson Costa.