Mãe de menino que teve dedos decepados em Portugal acusa escola de xenofobia e racismo
Nívia Estevam concedeu entrevista ao Fantástico, que foi ao ar no último domingo (23), e revelou detalhes da agressão contra o menino de 9 anos
A paraense Nívia Estevam revelou detalhes da agressão sofrida pelo seu filho de nove anos, em uma escola na cidade de Cifães em Portugal, em entrevista ao programa Fantástico, exibida no último domingo (23). Nívia acusou que a situação foi motivada por xenofobia e racismo contra o filho. Segundo ela, a escola não tomou as providências necessárias quando foi comunicada sobre o bullying.
O menino de nove anos teve as pontas dos dedos indicador e médio amputadas após ter uma porta fechada neles por outros dois meninos. Nívia relatou que já vinha denunciando para as professoras da escola outras violências. O ano letivo em Portugal iniciou em setembro. A Escola Básica de Fonte Coberta era a única do município para crianças na idade do menino.
"Logo no início, as primeiras coisas que ele se queixou, foi que tinha um amiguinho que dizia que ele não sabia falar português, e que era para ele aprender a falar português direito. E depois ele começou a relatar que sofria puxões de cabelo e chutes. Ele relatava isso para a professora e ela falava 'olha [...] não seja mentiroso, você tem que ser um menino bom'. Até o dia 5/11, eu não tinha nenhuma prova física que estava sendo agredido, até ele chegar com o pescoço roxo em casa. Bati a foto imediatamente e mandei para a professora. Não iria tolerar nenhuma agressão contra o meu filho", detalha.
Após a agressão, a família que mora em Portugal desde 2018 precisou mudar de residência com medo de ameaças. Quando tentou fazer a ocorrência na delegacia, Nívia também foi recebida de maneira grossa pelo delegado. O policial interrompeu o depoimento da brasileira e negou que houvesse xenofobia ou racismo em Portugal. "Ele bateu na mesa, chegou bem perto de mim, e falou 'não vou aceitar que você fale isso aqui. Aqui em Portugal não existe nem racismo, nem xenofobia'", relembra.
A família está sendo acompanhada por um conjunto de 20 advogados que devem processar a escola e pedir indenização. A mãe afirma que desde o início, as professoras da escola minimizaram o problema. Nívia somente foi ter dimensão da gravidade quando estava chegando no hospital.
"Eu recebi uma ligação por volta das 10h30 a 10h40 da professora, dizendo aconteceu um acidente com [...]. Ele estava brincando com outras crianças e ocorreu um acidente. E eu perguntei, 'foi grave?' E ela disse 'não, não, não foi tão grave'", relatou. A mãe chegou apenas cinco minutos depois na escola. O menino estava no colo de uma funcionária com a mão enfaixada. A criança e a mãe esperaram 40 minutos por uma ambulância que levou para um hospital há mais de 100 km de distância.
Quando estava chegando no hospital, o paramédico da ambulância deu uma luva de borracha com o pedaço do dedo do menino. "Quando a gente ia chegando no hospital, o senhor da ambulância me deu a luva, onde estava o pedaço do dedo do meu filho e disse 'olha mãe, tem que levar isso aqui porque talvez eles consigam colocar no lugar'. Foi quando eu fui saber que eles estava sem as pontas dos dedos. Eu só soube cinco minutos antes de chegar no hospital", conta.
A professora respondeu por mensagem que a situação poderia ter acontecido com qualquer aluno. "Foi um acidente que podia ter acontecido com qualquer menino e ninguém teve a intenção de magoar o [...], estavam a brincar e correu mal...", disse a professora em mensagem para a mãe.
A coordenadora da Escola Básica de Fonte Coberta respondeu em nota ao Fantástico que não daria declarações. Ela informou em nota que "todas as informações oficiais sobre o incidente serão divulgados apenas através de comunicados institucionais, quando o inquérito interno estiver concluído".
IRREVERSÍVEL - O menino foi operado por três horas e o quadro foi considerado irreversível. As pontas dos dedos indicador e médio foram amputadas. "Foi um vazio gigantesco. Ele pergunta muito, porque fizeram isso comigo, mãe?". Nívea Estevan é paraense, neta de portugueses. A família mora em Portugal desde 2018. O filho e o padrasto são brasileiros.
Por causa da violência, a família está morando nas casas do sogros. O marido de Nívia e padrasto da criança João Vítor Estevam conta que a mudança foi dolorosa para a família. "Era muito bom para o [...], porque tem muito mais espaço. Ele estava muito feliz na nossa casa com a gente, mas de uma hora para a outra foi ladeira abaixo total", disse João.
Para a embaixada brasileira em Portugal, o bullying foi motivado pro racismo e xenofobia. "A escola estava ciente disso. Eu pensei que iam me ajudar, me instruir", pensava Nívia. "A gente espera que ele seja uma criança doce e amável, e seja um bom adulto no futuro e possa superar tudo isso", declara esperançosa a mãe.
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