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Entenda como funcionava a suposta seita que fez vítima em Belém

Segundo a Polícia Civil, um casal que se apresentava como líder do grupo religioso é investigado por violência psicológica e maus-tratos

O Liberal

Um casal foi preso, nesta sexta-feira (4), no bairro do Guamá, em Belém, suspeito de envolvimento na morte de Flávia Cunha Costa, de 43 anos. Segundo a Polícia Civil, os investigados se apresentavam como líderes de um grupo religioso e teriam abandonado a vítima em estado grave no Pronto Socorro do Guamá, no dia 18 de junho deste ano, onde ela morreu no dia seguinte. A família aponta que Flávia foi vítima de violência psicológica, maus-tratos e exploração financeira durante 11 anos, enquanto morava com os investigados e fazia parte do suposto grupo religioso.

De acordo com a PC, as investigações devem apurar se o grupo religioso teria práticas como controle psicológico, domínio das finanças e isolamento de membros. O inquérito foi aberto após denúncias, mas vítimas teriam surgido e repassado mais detalhes sobre o funcionamento da suposta ‘seita’.

Controle psicológico

As investigações da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) revelaram que os líderes usavam narrativas religiosas para manipular os seguidores. Pessoas em situação de fragilidade emocional seriam convencidas a cortar laços com familiares e amigos, sob o argumento de que estariam sob influência do “demônio”. Os cultos ocorriam dentro de um salão anexo à residência no bairro do Guamá.

Os relatos de vítimas apontam que o discurso pregava que tudo que não estivesse alinhado ao grupo era “coisa do mal”. Até o trabalho dos membros era desvalorizado, segundo os relatos apurados. Além disso, ainda havia uma orientação para que as pessoas abandonassem suas ocupações para “servir a Deus” exclusivamente dentro da comunidade criada pelos líderes.

Isolamento

De acordo com as apurações policiais, um dos mecanismos adotados era o afastamento completo das vítimas de seus círculos sociais. Os relatos das testemunhas apontam que os líderes instruíam os membros a romperem contato com familiares, amigos e colegas de trabalho. Em alguns casos, as vítimas passaram anos sem falar com os pais e irmãos.

Além disso, ainda conforme a investigação policial, havia um bloqueio ao uso de bens materiais e redes sociais, sob o pretexto de que esses elementos eram influências negativas. As vítimas relataram à Polícia Civil que o isolamento contribuía para que os líderes mantivessem controle total sobre a rotina e o comportamento dos seguidores.

Exploração financeira

As vítimas também relatam que eram levadas a entregar todos os seus bens à liderança do grupo. Economias pessoais, valores guardados com parentes e até bens como carros eram repassados ao casal. Os relatos de ex-membros apontam que, em alguns casos, ainda ocorreu a cobrança de “aluguéis” dentro da própria casa dos supostos líderes.

Em um dos casos investigados, uma das seguidoras teria sustentado todo o ambiente em que o grupo vivia, sem que nenhum dos outros moradores trabalhasse. As informações da Polícia Civil e famíliares de vítimas são que o dinheiro era usado para manter os supostos líderes.

Trabalhos domésticos

As investigações da PC também indicam que as vítimas realizavam tarefas domésticas, como limpeza, lavagem de roupas e preparo das refeições, sem qualquer remuneração. Alimentos de qualidade eram destinados aos líderes, enquanto os demais se alimentavam de restos.

Há ainda relatos de que a alimentação era escassa e, em alguns momentos, as vítimas chegaram a passar fome, dependendo de doações externas para conseguir se manter. Mesmo assim, continuavam sendo coagidas a seguir com as obrigações dentro do grupo, sob pena de estarem “desobedecendo a Deus”.

Cultos em residência 

A Polícia Civil apurou a existência de várias “igrejas” registradas em nome do casal, embora os cultos ocorressem dentro da residência onde todos moravam. As autoridades agora buscam identificar outras vítimas que possam ter passado pelas mesmas situações. A delegada responsável pelas investigações, Bruna Paolucci, reforça a importância de denúncias para coibir esse tipo de abuso, que pode estar disfarçado sob práticas religiosas.