Clonagem de celular cresce 11% no Pará; veja como identificar o crime e se proteger
A prática criminosa, conhecida como SIM Swap, permite que golpistas assumam o número da vítima e tenham acesso a informações pessoais e contas digitais
Em dez meses de 2025, o número de denúncias de clonagem de celular no Pará já supera em 11% todos os registros feitos ao longo de 2024. Dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) apontam que, de janeiro a outubro deste ano, foram contabilizadas 2.151 ocorrências em todo o estado. Já em 2024, o total foi de 1.928 casos. A prática criminosa, conhecida como SIM Swap, permite que golpistas assumam o número da vítima e tenham acesso a informações pessoais e contas digitais. José Fonteles, especialista em segurança digital, explica como identificar o crime e se proteger.
A clonagem de celular ocorre quando criminosos conseguem transferir o número de telefone da vítima para outro chip, passando a receber ligações, mensagens e códigos de verificação enviados por SMS. Com isso, os golpistas podem acessar redes sociais, e-mails, aplicativos bancários e até plataformas do governo, causando prejuízos financeiros e transtornos às vítimas. Segundo a Segup, em 2023 foram registradas 1.642 ocorrências de clonagem de celular no estado do Pará. Já em relação às prisões pelo crime, o sistema da secretaria contabiliza uma prisão em 2024 e outra em 2025, em todo o estado.
Proteção
Para explicar como o crime funciona e como a população pode se proteger, o especialista em segurança digital José Fonteles alerta que o SIM Swap começa quando o suspeito consegue se passar pelo titular da linha. “É basicamente quando o criminoso consegue transferir o número de celular da pessoa para outro chip. A partir disso, ele passa a receber ligações, mensagens e todo tipo de contato que antes chegaria para o real dono do contato”, explica.
Fonteles destaca que um dos primeiros sinais de alerta é a perda repentina do sinal. “O celular fica sem serviço do nada, a pessoa para de receber ligações e mensagens. Isso acontece porque o número foi transferido para outro chip”, afirma. Segundo ele, outro indício comum são notificações de tentativas de acesso a contas pessoais. “A pessoa começa a receber alertas de que alguém tentou acessar a conta do e-mail, da rede social, do gov.br. Isso acontece porque o número de celular geralmente está vinculado a essas contas”, completa.
Como identificar o golpe?
De acordo com o especialista, a sensação mais clara durante o golpe é a perda de administração dos aplicativos do aparelho. “Ela percebe que não gerencia mais os acessos. O número não funciona direito, não recebe códigos de recuperação e começa a perder o controle das próprias contas”, diz. José Fonteles explica ainda que, nesse momento, os criminosos já estão tentando explorar todas as possibilidades de acesso disponíveis.
Fonteles orienta que a vítima verifique imediatamente se há dispositivos suspeitos conectados às contas. “No WhatsApp existe a opção ‘dispositivos conectados’. Lá aparece onde e quando a conta foi acessada. Se tiver algo estranho, é um alerta. O Instagram também tem a opção de atividade de login, assim como o Google e outras plataformas”, explica. Segundo ele, praticamente todos os serviços digitais hoje permitem esse tipo de verificação.
O que fazer ao ser vítima do golpe?
Caso o golpe esteja em andamento, a principal orientação do especialista é agir rápido. “O primeiro passo é entrar em contato com a operadora de telefonia. Se possível, ir pessoalmente a uma loja de atendimento para solicitar o bloqueio imediato da linha”, afirma José Fonteles. Em seguida, o especialista recomenda a mudança de senhas de acesso. “Trocar as senhas do e-mail, do WhatsApp e das redes sociais, retirar o número de celular como método de recuperação e cadastrar outro telefone de confiança”, orienta.
O especialista ressalta que, mesmo com a clonagem do chip, o aparelho da vítima continua com ela. “Os aplicativos ainda estão no celular da pessoa. Se ela agir com calma e rapidez, consegue bloquear os acessos antes que o criminoso cause prejuízos maiores”, diz. Fonteles alerta ainda para a importância de senhas fortes e autenticação em dois fatores. “Evitar repetir senhas e ativar a verificação em duas etapas faz muita diferença. Mesmo que o telefone seja clonado, a autenticação por e-mail pode impedir o acesso”, destaca o especialista.
José Fonteles explica que os dados usados pelos criminosos geralmente vêm de divulgação indevida de informações ou exposição excessiva. “Pode ser vazamento de dados, redes sociais abertas demais, formulários, cliques em links suspeitos. Infelizmente, nossos dados ainda são muito acessíveis”, afirma. Para ele, manter as informações de segurança sempre atualizadas é essencial para reduzir os riscos.
Clonagem de chips
Para prevenir fraudes por SIM Swap, a Anatel implementou medidas como o segundo fator de autenticação na portabilidade numérica. Quando há solicitação de portabilidade, o titular da linha recebe uma mensagem de texto para confirmar a operação. Sem a confirmação, o pedido é automaticamente cancelado.
A agência também atua junto às operadoras para fortalecer os processos de identificação, com melhorias na verificação de identidade, treinamento de funcionários e adoção de métodos de autenticação mais seguros.
Combate
A Anatel também opera o Programa Celular Legal, coordenado pelo Grupo Técnico de Suporte à Segurança Pública (GT-Seg), que combate dispositivos irregulares, incluindo aparelhos roubados, falsificados e adulterados. O programa funciona por meio de dois sistemas complementares:
CEMI (Cadastro de Estações Móveis Impedidas), que trata especificamente de dispositivos roubados ou furtados, impedindo seu uso nas redes móveis brasileiras.
SIGA (Sistema Integrado de Gestão de Aparelhos), que combate aparelhos falsificados e adulterados.
Ambos os sistemas são operados pelas prestadoras de telecomunicações, sob coordenação da ABR-Telecom e diretrizes estabelecidas pelo GT-Seg. O IMEI, Identificação Internacional de Equipamento Móvel, funciona como o “CPF do celular”. Desde 2015, a base nacional de terminais roubados está conectada à base mundial gerida pela GSMA. Isso permite que aparelhos roubados no Brasil sejam bloqueados em outros países participantes e vice-versa.
Como saber se o celular é furtado ou roubado?
Para evitar a compra de um aparelho irregular, o consumidor deve obter o IMEI do dispositivo digitando *#06# no teclado do celular, consultar o número no site da Anatel, em www.anatel.gov.br/celularlegal, e verificar a presença do selo de certificação da Anatel no aparelho.
A consulta permite identificar se o dispositivo está regular, bloqueado por roubo ou furto ou se apresenta alguma irregularidade.
Como bloquear celulares roubados ou furtados?
A vítima pode solicitar o bloqueio do IMEI diretamente com a operadora de telecomunicações, nas delegacias da Polícia Civil dos estados participantes do programa ou pelo aplicativo Celular Seguro, desenvolvido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública em parceria com a Anatel e as prestadoras.
O aplicativo permite, além do bloqueio do IMEI, suspender a linha telefônica e aplicativos bancários e de compras vinculados ao programa. Em 2025, foi lançado o Modo Recuperação, que permite incluir o aparelho em uma lista de monitoramento. Quando o celular se conecta novamente à rede, a Polícia Civil é notificada automaticamente.
Desde 2005, o programa já bloqueou 16,7 milhões de aparelhos no Brasil. Somente em 2024, foram quase 700 mil bloqueios. Até junho de 2025, o número chegou a 340 mil terminais bloqueados por roubo ou furto.
Denúncia
A Secretaria de Estado de Justiça (Seju), por meio da Diretoria de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon Pará), informa que a clonagem de celular e as fraudes decorrentes são crimes previstos no Código Penal e tratados pela Polícia Civil.
Segundo a Polícia Civil do Pará, os casos de estelionato por meios tecnológicos são apurados pelas equipes da Diretoria Estadual de Combate a Crimes Cibernéticos (DECCC). O registro formal da ocorrência pode embasar a abertura de processo civil para ressarcimento dos prejuízos. As vítimas podem registrar denúncia em qualquer delegacia ou pela Delegacia Virtual, no endereço https://www.delegaciavirtual.pa.gov.br
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