MENU

BUSCA

Período chuvoso oferece risco a animais silvestres

Fora do habitat natural, espécies da região amazônica resgatadas podem adoecer ou se acidentar durante tempestades

João Paulo Jussara

Desde dezembro, a frequência de chuvas se intensificou em Belém, e de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet/PA), a previsão é de que o clima chuvoso permaneça na capital até meados de maio. Nesta época do ano, instituições de preservação, como o Museu Paraense Emílio Goeldi, que acolhe anualmente mais de mil animais silvestres resgatados, precisam adotar certos cuidados para que eles não adoeçam ou se acidentem durante as tempestades.

O médico veterinário que atua no museu, Messias Costa, explica que, em ambientes naturais, os animais ficam mais fortes, resistentes, e com uma imunidade alta, já que estão fisicamente preparados para viver naquele habitat, apesar de viverem cerca de um terço menos do que quando criados em cativeiro. Por isso, os cuidados devem ser redobrados em época de chuva forte, pois certos animais podem apresentar baixa imunidade e contrair doenças respiratórias.

Segundo o especialista, os animais que são mais propensos a doenças respiratórias na época do inverno são os primatas e as preguiças. "As preguiças têm particularidades interessantes, porque elas não são capazes de tremer para produzir o próprio calor, de modo que 90% das preguiças que morrem, a causa é doença respiratória, edema pulmonar agudo", explica.

Os primatas também são muito suscetíveis a doenças respiratórias. Algumas, inclusive, comuns aos seres humanos, como a gripe, por exemplo. E muitos dos primatas que vivem no museu possuem uma particularidade: são idosos. A maioria tem mais de 30 anos, são mais frágeis, e podem ficar gravemente doentes caso não sejam tomados certos cuidados.

FRAGILIDADE - É por conta dessa fragilidade que, todos os dias, esses animais precisam ter sua dieta complementada com bastante vitamina C, que ajuda a melhorar a imunidade. Este é um dos momentos preferidos do dia para "Raimundão", um macaco aranha da testa branca (Ateles Marginatus) de 35 anos de idade. Todas as tardes, quando os funcionários do museu se aproximam do viveiro para alimentar os macacos com seringas cheias de suco de laranja, ele pula, dança, quase como se estivesse comemorando.

Já as preguiças, por conta de sua peculiaridade de não conseguirem tremer quando sentem frio, são levadas para uma câmara isolada durante o inverno, onde há uma fonte de aquecimento e algumas árvores para que elas se sintam mais confortáveis. "Aqui é um local isolado termicamente, e tem essa fonte de calor, que são as luzes. Quando chove, elas paralisam, são muito vulneráveis, de modo que o risco é muito alto se elas ficarem soltas. Só no verão a gente vai soltá-las no parque", conta Messias Costa. Além destas duas espécies, outras também recebem cuidados extras para se protegerem da chuva, como as cobras, que vivem em aquários equipados com placas de aquecimento, já que os répteis se aquecem diretamente da temperatura da água. Os filhotes, sejam eles de qualquer espécie, também são tratados de maneira diferente. Os mais frágeis recebem cuidados em salas isoladas, para depois serem soltos no museu.

Messias explica que, mesmo com as fortes tempestades que podem cair em Belém, dificilmente algum animal sofre algum acidente, como cair de uma árvore por causa do vento forte. Isso ocorre porque o museu é localizado entre vários edifícios, que bloqueiam a intensidade das ventanias. Ele ressalta que a chuva é um fenômeno que faz parte da natureza dos animais, e que é indispensável. "A chuva está impressa em todo ser vivo, porque ela compõe a dinâmica climática do planeta, de modo que muitos animais sabem que o grande problema não é a chuva, mas sim ter opção de se proteger", conclui.

O Liberal