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Unifesspa não oferta curso de psicologia em função de cortes no orçamento para 2023

Os bloqueios financeiros realizados pelo Ministério da Educação (MEC) nos orçamentos de universidades e institutos federais inviabilizam cada vez mais o funcionamento dessas instituições e as consequências começam a ser sentidas também na oferta de cursos

Tay Marquioro

Estudante do terceiro ano do ensino médio, o jovem Luan Pinheiro Serpa tem o sonho de cursar Psicologia. Morador de Parauapebas, ele escolheu a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) em Marabá para ingressar no curso que deseja. “Eu optei pela Unifesspa por ser uma faculdade bem conceituada e me disponibilizaria um bônus porque sou morador da região”, explica Luan. No entanto, diante do anúncio de que a instituição não ofertará vagas para a graduação em Psicologia no ano que vem, o candidato vai precisar mudar seus planos. “Fiquei muito chateado quando recebi essa informação. Basicamente, estou sendo obrigado a procurar outras universidades fora da minha região, que talvez não tenham a mesma qualidade que a Unifesspa”, conclui.

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A graduação em Psicologia tem duração de cinco anos e, em média, tem previstas de seis a oito disciplinas por semestre. No entanto, esse cronograma já tem sido duramente afetado e quem já é aluno do curso também vem sentindo na pele as dificuldades impostas pelas restrições orçamentárias pelas quais passa a Unifesspa. A turma que ingressou em 2022 teve ofertadas apenas duas disciplinas das que eram previstas para o período, o que inevitavelmente vai influenciar no futuro da graduação.

“Por mais que a gente oferte nos próximos períodos, isso significa uma carga horária muito maior para o aluno que, ao invés de cursar 400 horas por semestre, vai ter que cursar 600 horas porque não houve oferta das disciplinas dos períodos iniciais. A psicologia está com um quadro muito reduzido de docentes e a gente não tem como abrir novo concurso para contratação de novos professores. Então os professores que nós temos estão sobrecarregados. Esse é um problema para o qual não há solução sem orçamento. Infelizmente, estamos de mãos atadas”, explica Lygia.

Nos demais cursos de graduação, a falta de insumos para as aulas de laboratório também vem sendo prejudicadas de maneira sensível. Essas disciplinas funcionam como um complemento prático do que é ministrado em sala de aula e para algumas turmas já são raridade. “Alguns cursos de graduação, seja bacharelado e até licenciaturas, precisam de recursos para manter os laboratórios de ensino funcionando e aí esses cortes também impactam na obtenção de insumos para laboratório. Por exemplo, em algumas disciplinas de Química, não há como ensinar adequadamente sem que haja insumos de laboratório. E, quando a universidade não consegue adquirir os insumos necessários para a disciplina, não há oferta (da disciplina) e, consequentemente, a formação desses alunos da graduação acaba sendo muito prejudicada”, afirma. “A gente perde na qualidade de ensino e a gente perde consequentemente com a qualidade do profissional que está saindo para o mercado. Então, apesar dos nossos professores tentarem suprir de outras maneiras essas necessidades, a gente sabe que a qualidade nunca vai ser a mesma”.

Crise sem precedentes

A Unifesspa foi criada em 2013 e iniciou suas atividades com 600 estudantes. Hoje, a comunidade acadêmica passa dos 7 mil alunos e a instituição acumula quase R$ 2 milhões em perdas orçamentárias. Como consequência, até a tarifa de energia elétrica deixou de ser paga em setembro. “Esse é um dos piores momentos que a Unifesspa já passou na sua história. Desde a sua implantação, nós não tínhamos passado por uma situação como essa, de ter que suspender pagamentos de serviços por conta da falta de recursos. E isto se agravou por conta desses cortes que têm sido feitos desde o mês de junho de 2022”, disse o reitor da instituição, professor Francisco Ribeiro da Costa, em entrevista concedida em novembro passado.

A cada novo bloqueio orçamentário anunciado pelo MEC, alunos, professores e técnicos precisam lidar com mais escassez também de recursos operacionais para seguir com as atividades. A continuidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão estão à beira do completo comprometimento e os compromissos com pagamentos de contratos de empresas terceirizadas estão ameaçados.

“Para se ter ideia, nós temos uma série de equipamentos de laboratório que estão parados precisando de manutenção, mas não temos esse recurso para executar esses serviços ou mandar os equipamentos para o conserto. Nós já não estamos pagando a energia, já suspendemos a viagem de professores a congressos científicos e, se não recebermos o aporte de recursos necessários para o funcionamento, vamos ter que deixar de pagar os funcionários da limpeza, os funcionários da manutenção e da vigilância”, lamentou o reitor.

Pará