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Trotes prejudicam atendimentos do Samu em Marabá

Só no ano de 2022, a coordenação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) recebeu 50 mil chamados. Destes, 9.700 eram falsas comunicações de emergência

Tay Marquioro
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O que muita gente ainda trata como brincadeira, para a rede pública de saúde de vários municípios do sudeste do Estado, está sendo motivo de muita dor de cabeça. Só no ano de 2022, a coordenação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) recebeu 50 mil chamados. Destes, 9.700 eram falsas comunicações de emergência. Isso corresponde a uma média de mais de 26 trotes recebidos por dia pela central telefônica do 192.

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“O trote é realmente a nossa grande ferida. Porque embora a gente trabalhe muito a conscientização sobre a importância do Samu, inclusive tentando educar as pessoas para que não passem trotes, fazendo sensibilização mesmo nas escolas, nas comunidades, ainda assim a gente vê que continua acontecendo, sabe?”, lamenta a enfermeira Walternice Vieira.

A enfermeira coordena a Central Regional de Regulação de Urgências de Carajás, que tem base em Marabá, mas recebe chamados de outros 17 municípios da região. Trocando em miúdos, significa que a equipe de 85 profissionais do serviço se reveza em plantões para estar disponível 24 horas por dia para atender qualquer demanda de urgência em saúde de uma população de aproximadamente 935 mil pessoas que pode vir a precisar de socorro.

O que também chama atenção neste impressionante número de trotes é que esses falsos chamados superam os casos que realmente necessitaram de atendimento de uma ambulância. No ano passado, o quantitativo de chamados reais, que precisaram do deslocamento da equipe do Samu, foi de 8.500 ligações. “Já houve um caso em que a gente realmente chegou a encaminhar uma UTI móvel para um trote, que comunicou um falso infarto, enquanto tinha um acidente no meio da via, node a vítima precisava do atendimento de urgência. Quando constatamos que se tratava de um trote e a unidade pôde retornar ao local do acidente, já era tarde mais e a vítima veio a óbito”, lembra a coordenadora. “Então não tem outra definição, o trote é uma ferida aberta para nós socorristas porque a gente sabe que pode estar indo para um atendimento que não existe e deixar de socorrer a quem realmente precisa”.

image Walternice Vieira: com os trotes, acabamos deixando de socorrer quem precisa (Tay Marquioro/ O Liberal)

Além do atendimento prestado in loco, o Samu também realiza a chamada escuta médica que pode auxiliar até mesmo pelo telefone os cuidados a serem tomados em uma situação de menor gravidade em casa. A busca pelo serviço tem crescido de maneira tal que esta já se tornou a modalidade de atendimento mais frequentemente realizada pelo Samu. “Ao contrário do que muita gente pensa, esse é o carro chefe dos nossos atendimentos, é a orientação da população pelo simples contato telefônico”, detalha a enfermeira. “Um exemplo de contato muito recorrente que nós recebemos aqui são de mães que estão em casa com um filho que está sentindo febre ou algum outro desconforto e muitas vezes até tem o remédio, mas não sabe qual dosagem administrar. Então essa orientação, a gente acaba dando por aqui. Porque temos um médico 24 horas na central para ouvir e instruir”. Dentro do universo de chamados recebidos pelo Samu, este tipo de assistência foi realizado 31.800 vezes no ano de 2022.

Em Marabá, o Samu foi criado em 2005. Já a Central Regional de Regulação de Urgências de Carajás está operando de 2013. A equipe que atua no serviço é multidisciplinar e conta com profissionais oriundos da área da saúde, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, mas também pessoas provenientes de outras áreas, como o auxiliar de regulação médica, o radioperador e o condutor socorrista. “Mas este, por exemplo, é um profissional que acaba sendo apto a realizar alguns procedimentos não invasivos nas ambulâncias. São pessoas treinadas, eles passam por uma capacitação antes de ir à campo”, esclarece Walternice.

Trote x estresse

Receber uma falsa comunicação de emergência em saúde não só pode ocasionar o desperdício de dinheiro público como também submeter os profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência a situações de profundo estresse. Ao relembrar situações que já a fizeram perder tempo averiguando uma emergência que não existia, Walternice conta que chegou a se deslocar com a equipe para um bar na Marabá Pioneira. “Era um chamado que comunicava uma agressão por arma branca. Chegando ao local, eu já estranhei de cara porque não tinha ninguém ao redor ou próximo da vítima. O homem estava no chão, aparentemente desacordado e ensanguentado. Quando iniciamos o atendimento, percebemos que, na verdade, ele estava bêbado e dormia naquele local e que o sangue, na realidade, era catchup que os amigos tinham jogado nele”, conta. “Quando abordamos os amigos para dizer que aquela era uma atitude irresponsável, ouvimos que o trabalho era atender quando fôssemos chamados e que nós tínhamos que estar ali”.

Já a auxiliar de regulação médica Aline de Souza, que trabalha diretamente com o recebimento das chamadas, conta que tem algumas estratégias para identificar um possível trote. “Claro que a gente já tem uma certa experiência com essas chamadas, então sempre indagamos, perguntando detalhes. Às vezes, até o som ambiente é um indicativo. Porque numa ocorrência de acidente de trânsito, por exemplo, não tem como o ambiente ser totalmente silencioso”, afirma. No entanto, nem toda a expertise evita situações de desgaste no atendimento aos chamados recebidos na Central. “Na grande maioria, são crianças com historinhas fictícias, a gente percebe que elas estão brincando com o telefone. Quando o trote é feito por adultos, geralmente eles nos assediam, falam palavrões, já me chamaram para encontros, até em casamento já me pediram. É bem desagradável”, conclui.

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