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Sespa ainda não confirma nova cepa, mas especialista acredita que vírus já pode estar circulando

Infectologista Helena Brígido explica sobre a variação do vírus

Cleide Magalhães

Mesmo que ainda não haja casos confirmados oficialmente da nova cepa do coronavírus do Amazonas (onde ela já circula e foi identificada) no estado do Pará", para especialista não resta dúvida de que a nova cepa do vírus já deve estar transitando pelo Pará.

“Sem dúvidas já deve estar circulando pela facilidade de transmissão, viagens ao Amazonas e pelo aumento de casos no Pará. A média móvel de casos nos últimos sete dias foi mais que o dobro da variação da média móvel nacional no mesmo período. O maior pico ocorreu em 14 de janeiro com média móvel de 451 casos, sendo o segundo maior pico desde o início da pandemia da covid-19”, afirma a infectologista Helena Brígido, vice-presidente da Sociedade Paraense de Infectologia (SPI).

A infectologista Helena Brígido, que também atua como docente na Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que uma nova cepa surge de acordo com as adaptações que o microrganismo faz diante de várias populações para sobrevivência do vírus, para permanecer vivo e continuar infectando pessoas. “Não há um quantitativo de novas cepas divulgado oficialmente que circulam no Brasil, porém elas estão presentes em vários estados”.

Em relação à nova cepa que circula no Amazonas, ela esclarece que é a variante B.1.1.7, que tem 14 mutações diferentes incluindo uma mutação na proteína “S” (spike, em inglês, ou espigão, em português).

“A proteína ‘S’ faculta a entrada no vírus nas células humanas aumentando a transmissibilidade entre 10% a 60%. A cepa que circula no Amazonas possui também maior transmissibilidade da doença, isto é, várias pessoas podem ser infectadas ao mesmo tempo em menor período”, enfatiza a infectologista.

Ainda segundo ela, a manifestação clínica é igual às cepas conhecidas com quadros assintomáticos, leves moderados e graves/críticos. “Não há diferença de sinais e sintomas em relação ao coronavírus e pode atingir diversas faixas etárias da população”, afirma.

Mesmo que haja maior transmissibilidade pela variante do coronavírus, a médica ressalta que aqueles cuidados triviais surtem resultado e podem evitar a infecção da covid-19. “É preciso manter os mesmos cuidados de prevenção sempre: uso de máscaras, distanciamento social e uso de álcool a 70%”.

Eficácia das vacinas diante da nova cepa

Por enquanto, como uso emergencial, a vacinação no Brasil utiliza a Coronavac, do laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina de Oxford, AstraZeneca/Universidade de Oxford em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Elas foram autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, domingo (17/01).  

Ao ser perguntada se essas vacinas serão eficazes, caso haja disseminação dessa nova cepa pelo Brasil ou mesmo pelo Pará, Helena Brígido afirma que a ciência e a sociedade saberão a resposta somente mais tarde.

“A certeza de que as vacinas têm ação protetora contra essa cepa iremos saber após as suas doses e com exames para conhecimento da produção de anticorpos”.

Caso a variante do coronavírus se espalhe, a infectologista afirma que poderá haver um maior número de casos e colapso do sistema, “por não ter tanto leito para o quantitativo de infectados''. Assim, poderemos ter casos graves e óbitos”, alerta a médica.

Isso significa dizer que é necessário avançar para garantir, o quanto antes, a chamada “imunidade de rebanho”, ou seja, que a vacinação atinja pelo menos 70% da população. “A meta de vacinação deve ser atingida o mais rápido possível. Para isso, é urgente a compra de mais vacinas”, frisa a infectologista Helena Brígido. 

Por fim, a infectologista recomenda que é importante as pessoas evitarem viagens para qualquer lugar do Brasil, principalmente ao Amazonas, evitar aglomerações, usar máscaras, sair de casa no estritamente necessário, higienização das mãos e a vacinação em massa.

Cepa já circula em oito países

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a cepa da covid-19 P.1, localizada inicialmente no Brasil, já se encontra em ao menos oito países, entre eles Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Japão. A informação consta do Boletim Epidemiológico Semanal da entidade, o qual aponta que são necessários mais estudos para avaliar se essa variante traz mudanças na transmissibilidade, na severidade da doença ou para a imunização dos pacientes.

A OMS nota que, a partir de investigações preliminares em Manaus (AM), houve um aumento na proporção de casos da cepa, conhecida como P.1, de 52,5% em dezembro do ano passado para 85,4% do total de casos na cidade em janeiro deste ano. Os números geram temores sobre seu possível potencial maior de transmissão ou de propensão a reinfecções, adverte a entidade.

Ainda segundo a Agência estado, estudos com a linhagem manauara indicaram a presença de mutações com potencial de agravar o cenário da pandemia. A primeira delas é a N501Y, que também aparece nas cepas do Reino Unido e da África do Sul. Essa alteração genética mexe justamente na tal da espícula, tornando o vírus ainda mais infeccioso. Outras duas mutações presentes na P.1 são a E484K e a K417T.

Pelo que se sabe, até o momento, elas “atualizam” o coronavírus e permitem que ele drible o sistema imune. Isso pode acontecer em indivíduos que já tiveram a covid-19 antes. “Alguns estudos indicam que essas mutações podem ajudar o vírus a escapar dos anticorpos neutralizantes, da imunidade natural obtida após a infecção por outras variantes ou pela vacinação”, explica o virologista Felipe Naveca, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/FioCruz Amazônia), em Manaus.

Essa possibilidade precisa ser melhor estudada pelos cientistas antes de ser confirmada oficialmente. Não se sabe por enquanto se a nova linhagem é mais agressiva ou está relacionada a quadros mais graves de covid-19. Mas o fato de ela atingir mais pessoas já representa um risco de lotação e até colapso dos sistemas de saúde, o que certamente tem impacto na mortalidade. (Com informações da revista “Época”).

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