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Santarém atende mais de 1,8 mil pessoas em situação de rua em oito anos

O espaço desenvolve ações voltadas para o acolhimento dessa população que é altamente vulnerável

Andria Almeida

Um levantamento do centro especializado em atendimento à população de rua, Centro Pop Don Lino Vombommel, no município de Santarém, apontou que em pouco mais de nos 8 anos, no período de janeiro de 2014 a maio de 2022, houve um total de 1. 881 atendimentos. Dessa quantidade, cerca de 90% não são nascidos em Santarém e, atualmente, a maioria são de origem venezuelana. O espaço oferece refeições de café da manhã e almoço, além de quartos para descanso, biblioteca, banheiros para higiene pessoal e lugar para lavagem de roupa. Todos os usuários são acompanhados por uma equipe psicossocial.

Um usuário do espaço, que pediu para não ser identificado, é venezuelano e veio para o Brasil no ano de 2019. Ele conta que tem dois filhos e que tenta a sorte no Brasil, diante da situação econômica de seu país. Mas a tentativa até o momento não deu certo, pois precisou virar morador de rua. “Na situação que está meu país não dá para trabalhar e nem para viver, tudo muito caro. Não tinha sentido continuar lá, não tinha como comprar um pão, manter à família”, contou. 

Ele relata que tem formação técnica em construção e perfuração de poços petrolíferos, mas chegou a trabalhar em outras áreas no Brasil. Há dois meses morando nas ruas de Santarém, o usuário relata já ter passado por outros estados brasileiros. Apesar das dificuldades da vida na rua, o homem não pretende voltar para a Venezuela. “Pensei que vindo para cá e trabalhando, poderia ajudar minha família. Não tenho como voltar para lá [Venezuela], minha família falou que a situação lá está pior”, enfatizou. 

As únicas refeições que ela faz são disponibilizadas pelo Centro Pop, e na hora da dormida ela relata que tenta escolher locais que pareçam seguros, como a frente da prefeitura e outros órgãos. “Meu sonho é conseguir um trabalho e sair da rua, mas quero continuar no Brasil”, relatou a jovem com lágrimas nos olhos.

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Dados sobre acolhimento

O último levantamento do centro, realizado ano de 2021, apontou que das pessoas que foram acolhidas no local, 124 voltaram a estudar, 274 foram inseridas no mercado de trabalho e 173 saíram da situação de rua. Outras 379 passaram a ter acesso a saúde com emissão do Cartão SUS, 5302 atendimentos de saúde foram realizados, 219 foram inscritas no CADúnico, 21 no Benefício de Prestação Continuada, 12 no Minha Casa, Minha Vida e 173 pessoas não estão mais em situação de rua e retornaram à família.

Alcivane Caldeira, que é coordenadora do espaço, afirma que o local recebe uma média de 16 pessoas por dia. “Temos uma demanda muito maior de atendimentos, mas cadastrados são 1881 pessoas. Hoje, 90% das pessoas acolhidas não são de Santarém. Tivemos um aumento significativo na procura pelo centro nos últimos dois anos”, enfatizou.

Sociólogo analisa a questão dos moradores de rua

O sociólogo, Raimundo Valdomiro, que atua como professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), destaca que a situação da população de rua na maioria das vezes é analisada de forma superficial. Para o especialista as questões que levam as pessoas para a vida na rua vão além do alcoolismo, violência doméstica, ou da pobreza “De fato muitos grupos enfrentam essas questões. Mas quando a gente analisa essa questão do ponto de vista macroeconômico, nós podemos observar que existem outras causas que são mais profundas do que essas que aparentam ser as causas principais”, relatou.

Ele explica que entre as causas do ponto de vista macroeconômico, estão os processos de condições de trabalho e sobrevivência precárias que a sociedade brasileira e internacional tem passado.

“É importante a gente considerar que esse processo crescente de precarização das relações de trabalho, implica diretamente nas condições de trabalho e de vida dessas populações”, enfatizou.

Perfil da população de rua

O sociólogo explica que a partir do ano de 2019 houve o surgimento de um novo perfil dessa população de rua.“Diferente da população de rua do século xx que eram formadas majoritariamente por homens, praticamente 80%. Agora, nós temos a presença de muitas mulheres e crianças nas ruas”, relatou.

 Ele enfatiza que os  elementos responsáveis pelo aumento desse público nas ruas é a  crise social e sanitária, que o mundo enfrentou a partir do ano de 2019, associada à crise econômica.

Para amenizar o cenário, o especialista diz que é preciso fortalecer a rede de proteção social criando políticas sociais. “Para resolver a questão é fundamental que nós tenhamos políticas de estado que estejam voltadas para a construção de moradias, investimento em saúde, saneamento, atendimento das necessidades das maiorias das populações brasileiras”, finalizou o especialista.

Sobre a Unidade

Centro POP é uma unidade pública e estatal que está inserida no âmbito da Proteção Social Especial de Média Complexidade do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e é administrada pela Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtras).

O centro Pop funciona de segunda a sexta-feira no horário das 8h às 14h.

Serviço

Centro POP Dom Lino Vombommel
Funcionamento: segunda a sexta-feira, no horário de 8h às 14h 
Endereço: Tv. Moraes Sarmento, 816
Telefone: (93) 99104-5906

 

Pará