Sairé: Começa a busca por mastros
A procissão fluvial é uma parte fundamental da maior festividade cultural do Pará
Em Alter do Chão, distrito de Santarém, oeste do Pará, a tradicional busca dos mastros do Sairé começou neste sábado (10). Uma procissão fluvial é realizada envolve a comunidade local com os principais personagens, que compõem todo o mito do ritual religioso da maior manifestação cultural do estado.
Durante a procissão, os participantes saem em busca dos mastros, rumo ao Lago Verde, onde os personagens da Juíza e do Juiz buscam dois troncos de árvores na floresta da praia Miritiapina.
O capitão do procissão religiosa, Célio Carlos Camargo, de 73 anos, destaca que o Sairé simboliza fé e esperança. “É uma crença nossa, de acreditar que dias melhores virão. Há muitos anos nós fazemos o ritual. Vamos buscar os mastros mata adentro e depois a subida dos mastros na praça no dia 15 de setembro, onde o Juiz e a Juíza disputam quem levanta primeiro. Isso é importante para nós”, disse ele.
"Para nós é uma alegria retornar após dois anos de pandemia. Estamos nos reencontrando com nossos amigos e com a nossa fé, que é muito grande. Minha missão é ser a guardiã do Sairé e carregar o símbolo da festa, o mastro, que será levantado no dia 15 de setembro", disse Saraipora, uma das figuras mais importantes e icônicas da festividade.
Qual o certo? Sairé ou Çairé?
A escrita com “Ç” vem da origem Tupi, e com o passar dos anos foi usado com 'S' por adaptação da língua portuguesa. Do ponto de vista gramatical, não existe Sairé com “Ç” e não é só a gramática que não se dá bem com a adaptação. A história do Sairé também traz uma explicação para a origem das duas escritas.
Segundo o pesquisador Sidney Canto, o botânico João Barbosa Rodrigues achava que o nheengatu falado no Pará estava errado. Ele considerava como certo o tupi, falado pelos indígenas do sul do país.
"O que fez ele? Tirou o 'S' da grafia nheengatu, falado pelos nossos antepassados e, como diz o caboclo, 'tacou-lhe' o 'Ç'. Sim, não tem nada a ver com os nossos antepassados indígenas, o 'Ç' tem origem no desejo de um botânico em achar que nós, amazônidas, estávamos errados em nossa cultura e ele estava certo”, explicou o pesquisador.