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Ritual da Menina Moça reafirma resistência dos povos indígenas Tembé e Gavião no Pará

Uma semana de festa, com danças, cantorias e o moqueado celebram o início da vida adulta

Valéria Nascimento
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Uma festa sagrada e secular do povo Tembé-Tenetehar, ou apenas Tembé. É assim que se pode compreender o ritual da Menina Moça, um momento ritualístico que comemora a passagem da puberdade para a vida adulta. No Pará, de 11 a 17, deste mês, os indígenas reafirmaram a cultura de resistência e comemoraram o rito de passagem das meninas. Este ano, pela primeira vez, os Gavião-Parkatêjê celebraram junto com os Tembé, numa clara demonstração de união.

Liderança entre o povo Tembé-Tenetehar, Wender Tembé explica que a festa pode acontecer uma vez por ano e varia, de aldeia para aldeia. Este ano os Tembé e os Gavião decidiram fazer uma festa conjunta.

“Foi a primeira vez que aconteceu na minha aldeia e foi inédito porque é a primeira vez que uma criança Gavião-Parkatêjê veio fazer a festa dela na aldeia dos Tembé-Tenetehar. São culturas totalmente diferentes, com língua, histórias e modo de viver diferentes. Foram dois povos que se uniram agora para fazer uma única festa e isso é gratificante”, afirmou o Tembé.

Os Gavião-Parkatêjê são da região sudeste do Pará, com aldeia na reserva indígena Mãe Maria, na altura do município de Marabá. Os Tembé-Tenetehar estão aldeados no município de Santa Luzia do Pará, perto do município de Capitão Poço. Eles ficam a cerca de 200 Km da capital paraense, Belém.

image Neste ano, além o povo Tembé fez a celebração em conjunto com o povo Gavião-Parkatêjê (Kamila Canhedo / Especial para O Liberal)

Festa tem momentos específicos

Tradicionalmente, a festa dura uma semana, com início numa segunda-feira e fim às 17h, do domingo seguinte. Wender contou que o ritual começa com a primeira menarca da menina. Ela é pintada pelas mulheres mais velhas da família com jenipapo. Para os Tembé, o jenipapo tem função preventiva e ajuda na fertilidade. A menina é cuidada de uma forma especial, e tem até uma refeição preparada para ela, o mingau feito de caças.

“A festa da Menina é sagrada e o wira’u-haw também, que é a festa do moqueado, preparado com caças que não podem faltar, o catitu e a guariba não podem faltar no moqueado, que é para fazer o remédio dela”, explicou Wender.

Ele explicou que o mingau é feito durante um dia e uma noite, referindo-se à uma prática que além de festiva está associada à prevenção e à cura. O que evidencia a importância do ritual para a organização social e cultural deste povo.

Na edição de 2022, a festa da Menina Moça se mostrou com uma longa interação cultural entre indígenas e não indígenas. É curioso ver jovens indígenas concentrados nas cantorias e coreografias, mas também fazendo fotos e vídeos, com telefones celulares modernos, um exemplo do dinamismo de uma prática tradicional.

O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, participou junto aos Tembé e Gavião, acompanhado de outras autoridades públicas, representantes do poder público e legislativo.

Para Wender Tembé, a continuidade do ritual fortalece a cultura do povo dele, em um cenário em que a união dos indígenas é fundamental para resistir às preocupações com as hidrelétricas, o agronegócio, o garimpo, as invasões dos territórios e o preconceito com os indígenas. Os Tembé-Tenetehara pertencem ao tronco linguístico Tupi-Guarani, a autodenominação Tenetehara significa “gente”, “indígena verdadeiro”.

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