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Ribeirinhos de Portel são protegidos com vacinação antirrábica

Resultados são positivos na ação da Sespa contra a raiva transmitida por morcegos hematófagos

O Liberal

Há dois anos e em 67 localidades ribeirinhas no Rio Pacajá, município de Portel, no Arquipélago do Marajó, é desenvolvido o Projeto para Detecção e Titulação de Anticorpos Neutralizantes (AcN) do Vírus da Raiva, a cargo da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), e os primeiros resultados positivos acabam de ser conquistados.

A Sespa informa que o protocolo estabelecido para a realização da vacinação contra a raiva transmitida pelo morcego hematófago apresentou resultados superiores ao esperado, alcançando proporção de 61,4% da população vacinada com o desenvolvimento de anticorpos considerados protetores um ano após a vacinação.

O projeto visa a possibilitar a diminuição no esquema de profilaxia antirrábica, passando de quatro doses na pré-exposição (PrEP) para apenas duas doses. O Programa Nacional de Imunizações estuda a possibilidade de incluir essa vacina no Calendário Básico de Vacinação para a população ribeirinha.

A área de Portel foi escolhida pela similaridade ecológica e de características da população local com a região do Rio Laguna, no município de Melgaço (também no Marajó), onde ocorreu, em 2018, o último surto de raiva humana transmitida por morcegos hematófagos no Pará. A ação vem sendo realizada desde 2019 pela Sespa,  Secretarias Municipais de Saúde de Portel e Melgaço, Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Instituto Pasteur.

 

São aplicadas duas doses de 0,1 mL de vacina antirrábica humana em indivíduos a partir dos três anos de idade. São também coletadas amostras de sangue de moradores para análise. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a profilaxia PrEP também para residentes em áreas endêmicas para raiva.

Resultados

A Sespa informa que, na primeira etapa, realizada em setembro de 2019, foram vacinados 2.721 pessoas, sendo 1.842 com duas doses aplicadas e 879 com apenas uma dose. E foram coletadas amostras de sangue de 192 moradores, das quais 16 foram descartadas por não se enquadrarem nos critérios técnicos.

Das 176 aproveitadas, 171 apresentaram valores de titulação contra a raiva inferiores a 0,1UI/mL, enquanto cinco amostras apresentaram valores iguais ou superiores a 0,1 UI/mL. Desses cinco indivíduos, apenas uma criança e um adolescente responderam que já haviam sido agredidos por morcegos hematófagos.

A segunda etapa do projeto, em outubro de 2020, serviu para verificar o incremento imunológico de anticorpos contra raiva um ano após a vacinação, pois de acordo com a OMS, para que um indivíduo seja considerado imunizado, seus títulos de anticorpos neutralizantes para o vírus da raiva devem ser iguais ou superiores a 0,5 UI/mL.

Nesse retorno, a equipe conseguiu trabalhar com 92 amostras, sendo 70 de pessoas que receberam duas doses de vacina e 22 daquelas que receberam apenas uma dose.

Dos 70 com duas doses, 43 (61,4%) apresentaram títulos iguais ou superiores a 0,5 UI/mL, o que é considerado um resultado positivo, e 27 (38,6%) não responderam de maneira satisfatória. Já entre os 22 indivíduos que tomaram uma dose, nove (40,9%) responderam com títulos iguais ou superiores a 0,5 UI/mL, enquanto 13 (59,1%) não responderam de maneira satisfatória.

Os indivíduos que receberam duas doses da vacina apresentaram maiores títulos de anticorpos em relação aos que receberam apenas uma dose da vacina. E as pessoas do gênero feminino e da faixa etária das crianças (zero a dez anos) obtiveram melhores respostas que indivíduos do gênero masculino e das demais faixas etárias. Em contrapartida, indivíduos que receberam uma dose, idosos e do gênero masculino apresentaram os piores resultados.

O estudo concluiu que a adoção de protocolo de PrEP teve efeito imunológico, garantindo a proteção vacinal da população estudada.

A terceira etapa do projeto, concluída no último sábado (9), tem a finalidade de verificar o comportamento imunológico dois anos depois da vacinação, principalmente para observar se há ou não necessidade de aplicação de doses extras no protocolo de imunização contra raiva para populações em risco. O projeto conseguiu vacinar quase três mil ribeirinhos numa área de risco, onde 30% da população têm histórico de agressão por morcego.

Pará