Dormir menos que 6 horas por dia já é considerado privação de sono; entenda
Ficar sem repouso devido atinge até o sistema imunológico, algo que durante uma pandemia não convém de jeito nenhum
Conferir as competições das Olimpíadas de Tóquio 2020 tem levado muitos brasileiros, em particular, paraenses, a ficar acordado até mais tarde da noite, acordar de madrugada e também levantar cedo (antes de ir ao trabalho). Tudo por conta do fuso horário Brasil-Japão. Ocorre que ficar sem dormir direito, ou seja, as conhecidas oito horas de sono por noite, tem implicações graves na vida dos seres, chegando ao ponto de atingir o sistema imunológico, algo decisivo nesta pandemia da covid-19, e até mesmo a saúde mental. Por isso, cuidar bem do sono é uma iniciativa básica para cidadãos e cidadãs, como alerta Maria Clauda Soares Oliveira, otorrinolaringologista e médica do sono, presidente da Associação Brasileira do Sono – regional Pará.
A médica pontua que a privação de sono gera dificuldade de atenção, concentração, aprendizado, raciocínio lógico, resolução de problemas e de expressar de emoções, além de irritabilidade, alterações de humor, problemas de memória, cefaleia, aumento da sensibilidade dolorosa, sonolência excessiva diurna, aumenta risco de acidentes de trânsito e de trabalho. "Diminui a resposta imunológica e também, a formação de anticorpos mediante a vacina, fator de extrema importância nos tempos atuais. A privação de sono gera também problemas cardiometabólicos, como aumento do açúcar no sangue, obesidade, disfunção tireoideana, arritmia e aterosclerose", ressalta Maria Claudia.
A literatura médica tem trazido a associação da privação crônica de sono com desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer. "Os estudos mais recentes têm mostrado que a privação de sono pode afetar o nosso código genético, alterando a atividade, leitura e estrutura física dos genes, impactando diretamente a nossa longevidade. Nesse sentido, a falta de sono resulta em maiores índices de morbidade e mortalidade, ocasionando maior busca por assistência médica, abstenção ao trabalho e menor produtividade", acrescenta.
Maria Cláudia chama a atenção para o fato de que os dados disponíveis na literatura e a prática clínica demonstram os diversos efeitos negativos da privação de sono para a saúde da população e também para a economia global, o que precisa ser por gestores públicos.
Conheça mais funções do sono para o organismo
A medica destaca como função do sono no organismo a imunidade. "Limpar as substâncias nocivas acumuladas no cérebro, decorrentes do trabalho de nossas células, o que chamamos de faxina do cérebro; renovar e conservar energia; aprendizagem e memória; crescimento e maturação do cérebro; fundamental para o equilíbrio metabólico, hormonal e mental; regulação de genes. O sono não é apenas descanso, mas sim, um momento do dia em que atividades exclusivas são executadas e que não poderão ser recuperadas, uma vez perdidas, ficaremos em deficit", enfatiza.
Quem muda os hábitos de dormir, mesmo que por um período curto, experimentará os efeitos agudos da privação de sono: cansaço, sonolência, dificuldade de concentração, lentidão de raciocínio, prejuízo de reflexos, impulsividade, alterações de pressão arterial, açúcar no sangue e humor.
"A sonolência prejudica o desempenho cognitivo, porém traz consigo um enorme risco quando associada à direção, aumentando em 6 vezes o risco de acidentes de trânsito. Álcool e sono são duas condições perigosas para direção, mas o sono tem um agravante, é subjetivo, não há como fiscalizar, ademais não é abordado na mesma proporção pela mídia e nos programas de educação em trânsito", assinala a médica.
Para grande parte da população adulta, dormir oito horas de sono é o recomendável; porém, existem indivíduos que necessitam de menos horas de sono (pequenos dormidores) e outros de mais horas (grandes dormidores). "Embora a necessidade de sono seja calculada individualmente, as evidências científicas apontam que dormir menos de 6h por noite representa privação de sono. Ressalto que a quantidade de sono é apenas um dos aspectos que envolvem o sono saudável, esse sono precisa ter qualidade e respeitar seu cronotipo (matutino, vespertino ou intermediário)", observa.
Sono e saúde mental estão intimamente ligados. Por outro lado, pesquisas evidenciam uma ligação causal entre a privação de sono e sintomas como paranoia, delírios, alucinações, impulsividade e outros, Torna-se evidente que é necessário se estar atento às mudanças de padrão de sono para prevenir a instalação ou o agravamento de transtornos psiquiátricos, como destaca Maria Claudia.