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Pesquisas da Ufopa tentam preservar línguas Wai Wai e Nheengatu; veja palavras de origem indígena

“O nosso projeto surgiu da necessidade que nós encontramos, enquanto professores e professoras, de conseguir trabalhar com os estudantes indígenas bilíngues Wai Wai textos em sala de aula”, disse a coordenadora do projeto, Camila Pereira Jácome

Dilson Pimentel
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A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) lançou dois aplicativos que representam um esforço de preservação de linguagens indígenas, as quais, inclusive, fazem parte da língua portuguesa no BrasilUma dessas ferramentas é um aplicativo com dicionário Wai Wai. Fruto de uma parceria entre indígenas estudantes da Ufopa, da etnia Wai Wai, professores e colaboradores do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS), Instituto de Saúde Coletiva (Isco) e do Campus Oriximiná, o dicionário torna possível a tradução da língua Wai Wai para o português.

O dicionário consiste de um aplicativo para celulares com Android e de um site, ambos desenvolvidos pela equipe do projeto "Wai Wai Tapota: tradução, conhecimento e interculturalidade". A coordenadora do projeto, Camila Pereira Jácome, disse que o aplicativo foi pensado por professoras e professores que já têm pesquisa com os Wai Wai, em diversas áreas do conhecimento, como Arqueologia, Antropologia, Saúde e Biologia.

“O nosso projeto surgiu da necessidade que nós encontramos, enquanto professores e professoras, de conseguir trabalhar com os estudantes indígenas bilíngues Wai Wai textos em sala de aula. A dificuldade deles com a língua, a barreira linguística que eles sofrem por não terem o português como primeira língua reflete muito na situação deles dentro da universidade, causa reprovação, demora na formatura”, afirmou.

Então o primeiro objetivo foi construir uma ferramenta prática para que esses estudantes indígenas bilíngues Wai Wai pudessem usar para justamente ajudar nesse processo do percurso universitário. “O segundo ponto é que nós todos já tínhamos projetos de pesquisa com os Wai Wai no território indígena e nós tínhamos acesso a palavras, dicionários, gramáticas feitas, no século 20, por missionários evangélicos.

Mas os próprios Wai Wai não tinham acesso a isso. O projeto também é uma forma de democratizar esse acesso a essa lista de palavras e verbos e que nunca chegou às mãos desses estudantes de universidade e muito menos dos estudantes que estão nas escolas seriadas, dentro das aldeias, afirmou.

"A língua é viva. Vai modificando de acordo com as novas gerações”, diz professora

O objetivo principal, portanto, é contribuir para a formação no ensino fundamental, médio e superior através de facilitar o acesso ao conhecimento que vem lido em textos em português. Camila Pereira Jácome também disse que a língua está em constante movimento.

A língua é viva. Vai modificando de acordo com as novas gerações. E nós percebemos que esses estudantes do fundamental, médio e universitário estavam incorporando novas palavras em seus vocabulários e essas palavras não estavam nessas listas antigas. O dicionário, por ser uma plataforma colaborativa, aberta a esses conhecedores da língua, pode ser constantemente atualizado com novas palavras”, afirmou.

Essa tecnologia foi executada a partir de um processo colaborativo entre os professores e estudantes de graduação e pós-graduação do projeto e a empresa Júnior da Ufopa, que fica no campus de Oriximiná e é coordenado pela professora Flávia Monteiro.

“Os estudantes produziram essa tecnologia, que é um website em que você se cadastra e, como usuário, você pode baixar o aplicativo no celular e também pode cadastrar palavras. Essas palavras cadastradas elas vão passar por um processo de avaliação pelos administradores para saber se elas estão corretas e se é importante que elas entrem no dicionário”, explicou.

O projeto contou com recursos do Programa Integrado de Ensino, Extensão e Pesquisa (PEEX) e articulou docentes, técnicos e estudantes do ICS, do Isco, dos cursos de Ciências Biológicas e Sistemas de Informação do Campus Oriximiná e do programa de Pós-Graduação em Biociências.

image Equipe que participou da elaboração do projeto (Divulgação/Ufopa)

 

Estudante da Ufopa criou aplicativo que auxilia no ensino de uma das línguas indígenas ameaçadas de extinção

Em 2020, Suellen Tobler, estudante de antropologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), começou a se interessar em aprender novas línguas. Numa de suas visitas a Santarém, no Pará, teve a oportunidade de passar uma semana na casa da professora de Nheengatu, Dailza Araujo, da escola indígena Suraraitá Tupinambá, da Aldeia São Francisco, baixo rio Tapajós.

Em 2021, teve a oportunidade de viabilizar o desenvolvimento por meio do edital de Cultura Digital, da Lei Aldir Blanc, ao inscrever seu projeto e ser contemplada. Ela criou o Nheengatu app, aplicativo que auxilia no ensino-aprendizagem de uma das línguas indígenas ameaçadas de extinção.

O projeto, ao aliar tecnologia e conhecimento, colabora para a preservação da língua e também para a sua propagação.
Suellen, além de cursar bacharelado em Antropologia pela UFOPA, trabalha no segmento de tecnologia da informação há mais de 10 anos, é formada em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (2009), e também atua em projetos de pesquisa de extensão de outra universidade. Descendente de guaranis, ela conhece a região do Amazonas e Pará, inclusive já ministrou oficinas em escolas municipais e aldeias e comunidades ribeirinhas.

Algumas palavras de origem indígena que fazem parte do Português do Brasil

Buriti – Do Tupi-Guarani: mbur = alimento; iti = árvore alta; = árvore alta de alimento ou de vida.

Butantã – Do Tupi-Guarani: bu (ibi) = terra; tatã (atã, tantã) = muito duro.

Capoeira – do Tupi-Guarani: co-poera = roça velha.

Carioca – do Tupi-Guarani: kari`= branco; oka = casa. Casa do branco.

Copacabana - de origem quechua. Significa “olhando o lago”. A palavra original é kupa kawana.

Igarapé – do Tupi-Guarani: ir-r´apé = caminho d’água.

Jacaré: Do Tupi-Guarani: jaeça-caré = o que olha de banda.

Maracanã – do Tupi-Guarani: paracau-aná - pagagaios juntos

Mingau – do Tupi-Guarani: mi-caú = feito de papas.

Mocotó – do Tupi-Guarani: mo-coto = faz que jogue.

Paçoca – do Tupi-Guarani: paçoca = coisa pilada.

Pamonha – do Tupi-Guarani: apá-mimõia = envolvido e cozido.

Pipoca – do Tupi-Guarani: pi(ra)- pele; poca-rebentar; a pele rebentada.

Tacacá – do Tupi-Guarani: tacacá – goma, mucilagem. Sopa tradicional da culinária amazônica, mais especificamente paraense.

Fonte: EBC

 

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