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Solidariedade: paraenses que residem Suriname se unem para enfrentar crise

Algumas atividades no país estão suspensas e agravam problemas econômicos

Byanka Arruda

Paraenses que residem no Suriname viram nas últimas os casos do novo coronavírus explodirem na localidade e estão tendo que se desdobrar para se manter e garantir o sustento da família, na maior crise sanitária e financeira do país, e do mundo nos últimos anos. O pequeno país, situado na costa nordeste da América do Sul, possui pouco mais de meio milhão de habitantes, muitos deles brasileiros e em sua maioria paraenses. Com a economia já quebrada há vários anos, segundo relatos de moradores, o território agora está com as atividades comerciais completamente paralisadas devido ao avanço do novo coronavírus. As atividades de garimpo, que sustentam o país, também estão comprometidas.

No início de março, com o alerta da pandemia do novo coronavírus, o país conseguiu, com isolamento, distanciamento e bloqueio total, por alguns dias, manter baixos os registros da doença. Em algumas semanas, o país pôde retomar, gradualmente, alguns serviços e atividades essenciais, mas escolas, restaurantes, bares, casas noturnas, cassinos, dentre outros estabelecimentos, permaneceram fechados. Há cerca de três semanas, no entanto, novos casos começaram a aparecer, vindos, segundo a população, de turistas e imigrantes clandestinos, que entraram no país por via marítima. Agora, o país enfrenta um surto da covid-19 e os paraenses que moram no local e estão sem trabalho por conta da quarentena relatam que, além do medo de adoecer, temem não ter mais como pagar aluguel e alimentação, por exemplo.

Vendedora em um supermercado no Suriname e costureira desde a infância, Dina Silva, de 52 anos, que mora no país há mais de três décadas, perdeu o emprego devido ao fechamento do local onde trabalhava, que não suportou a crise. Com um filho adolescente de 17 anos para criar, ela começou a confeccionar máscaras, tiaras, boinas e chapéus de tecido para vender e assim garantir uma renda durante a recessão. As máscaras, no entanto, são vendidas por apenas 1 dólar.

"Tudo teve que fechar, não totalmente, mas a maioria das coisas. Muitas pessoas ficaram sem os seus trabalhos por causa disso. Continuamos em quarentena, poucas coisas abrem, supermercados, mas com horários bem restritos. O que está sendo dificultoso é o trabalho, muitos paraenses estão sem trabalhar já faz três meses. A questão financeira para nós, brasileiros que moramos no Suriname, está sendo muito complicada. A maioria de nós paga aluguel aqui. E agora já estamos há três meses parados. Eu mesma vivia do meu trabalho, que era num supermercado, de onde eu pagava meu aluguel e me mantinha com meu filho. E agora a gente está há três meses sem trabalho. Ainda bem que eu tenho a minha profissão de costureira. Eu voltei a costurar. Com essa procura por máscaras eu tenho vendido bastante e estou me virando com as minhas costuras. Graças a Deus, está dando para comprar as coisas de comida, pagar água, luz, mas não dá para manter o aluguel, fica bem difícil", lamentou.

Por conta do fechamento das fronteiras, o país sofre também com o desabastecimento de determinados produtos, como medicamentos, essenciais durante a pandemia. "Estamos com falta de remédio. Os remédios que chegam do Brasil vêm de barco, mas os barcos não estão podendo vir. Você procura um remédio na farmácia, uma vitamina, um remédio para febre, para dor de cabeça, você não encontra mais", afirmou a costureira.

image Dina Silva precisou se reinventar para enfrentar a crise em outro país, distante da família

Com um filho morando em Ananindeua, no Pará, a costureira se preocupa ainda com a situação no Brasil, que registra mais de 1 milhão de casos do coronavírus, segundo o último boletim divulgado pelo consórcio de veículos de imprensa brasileira. No Pará, já são mais de 80 mil casos confirmados, de acordo com os dados mais recentes da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa). "Além da nossa preocupação disso tudo se tornar mais sério aqui, ainda tem o sofrimento pelos nossos parentes aí no Brasil, no meu caso no Pará. Esse vírus está forte aí, fazendo muitas vítimas. Amigos meus que moram no Pará já contraíram o vírus. E é assim, nós ficamos entre a cruz e a espada... Mas, se Deus quiser, todos nós sairemos vitoriosos, com fé em Deus", rogou.


SOLIDARIEDADE PARAENSE

Entristecido pela situação de calamidade instalada no país, o esteticista paraense Diego Mourão, de 27 anos, que reside no Suriname há 16, se juntou com um grupo de amigos também paraenses para arrecadar alimentos e distribuir no hospital de Suriname que está passando por necessidades durante a pandemia do novo coronavírus. São cerca de 160 paraenses que estão se mobilizando todos os dias para amenizar o sofrimento dos pacientes e dos profissionais de saúde que atuam no hospital. Eles criaram uma organização não governamental (Ong) e vão ao hospital três vezes por semana levar água e alimentação. "Diante disso tudo, a nossa iniciativa foi criar uma comunidade brasileira, uma Ong, e abraçamos a causa. Estamos ajudando o hospital, onde estão internados os pacientes do novo coronavírus. Nosso foco é ajudar todos, não fazer distinção de ninguém, ajudar não apenas brasileiros no Suriname, mas seres humanos que estão precisando. Nossa ajuda, sempre que a gente fala com um doador, a gente explica que não quer ajudar só os doentes, a gente quer ajudar também os funcionários do hospital, porque é uma correria, é uma agonia. A gente sabe que é um momento caótico, então a gente quer ajudar", comentou. "A comunidade brasileira no Suriname não é tão unidade. O brasileiro aqui sofre muito preconceito de alguns Surinamenses, a gente é mal visto. Então a gente quis mostrar como o povo brasileiro é solidário mesmo quando não é tão bem acolhido. A gente decidiu abraçar essa causa, ajudar a todos. Todo mundo topou, começou a se ajudar e está dando certo, graças a Deus", completou.

image Diante da crise, Diego Mourão decidiu arregaçar as mangas e juntou amigos para ajudar 

 

 

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