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Pacientes renais vivem aflitos em tempos do novo coronavírus

A tensão aumenta já que 85% deles são também cardíacos e diabéticos

Cleide Magalhães

Mesmo que o novo coronavírus, a Síndrome Respiratória Aguda Grave - Sars-Cov-2, que ocasiona a doença covid-19, ainda seja pouco conhecido pela ciência, pesquisadores já sabem que os portadores de problemas renais crônicos são considerados grupo de risco e o aparecimento de lesões agudas no órgão pode aumentar o risco de morte pela doença. Nos Estados Unidos, por exemplo, a procedência de pacientes renais atingidos pela infecção está cima de 15%.

Das 69 mortes ocorridas no Pará, até 12h desta sexta-feira (24), um caso envolveu uma paciente renal crônica. Foi a morte de uma adolescente, de 14 anos, moradora de Santarém, oeste do Pará, segundo informações da Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Estado do Pará (ARCT-PA). 

Hoje existem cerca de 3,32 mil pacientes com insuficiência renal aguda ou crônica graves que fazem hemodiálise, em 33 clínicas distribuídas em 11 municípios do Pará, e há 800 pessoas transplantadas no Estado. Deles, sem saber precisar o quantitativo, alguns já estão contaminados pelo vírus, como também informa a ARCT-PA.  A tensão aumenta, pois 85% dos pacientes são também cardíacos e diabéticos. É o que destaca a Associação dos Centros de Nefrologia do Estado do Pará (Paranefro).  

Há 18 anos, a dona de casa Maria Cleane Alves Carvalho, 49 anos, é paciente renal crônica e se submete à hemodiálise três vezes na semana, no Hospital Regional Abelardo Santos, do Governo do Estado, em Icoaraci, em Belém. Ela conta que hoje a maior situação de risco que sente viver diante da pandemia é apanhar ônibus lotado.  

"Pegar o ônibus cheio é muito ruim, porque tenho baixa resistência. Mesmo me protegendo como devo e posso, fico com medo de pegar o novo coronavírus, porque o paciente fica muito exposto. Pelo menos nessa situação de pandemia, a gente tinha que ter um ônibus pra nos apanhar para a hemodiálise. Acho que os profissionais de saúde também devem estar bem protegidos, pois isso também nos protege", afirma a paciente, que também tem problema cardíaco.  

Esse contexto da pandemia gera aflição não somente para os usuários, mas também às entidades que atuam junto aos pacientes renais, como a ARCT-PA e a Paranefro. Ambas citam que as principais dificuldades giram ao entorno dos problemas que têm envolvido o mundo, o Brasil, o Pará e Belém, como a falta de leitos de internação; de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) aos profissionais de saúde; a diminuição do quantitativo de profissionais de saúde, afastados devido casos confirmados ou suspeitos da doença; falta de testes para o novo coronavírus e o isolamento e/ou distanciamento social. 

Belina Soares, diretora e fundadora da ARCT-PA, frisa que a entidade vê a situação como complexa, está preocupada e, neste momento, a maior aflição é a dificuldade de leito para internação. "Temos vários pacientes já internados, isolados, tivemos um óbito, em Santarém, confirmado. Claro que a paciente tinha outras morbidades, já que todo paciente renal tem várias morbidades. Então, é por isso que é um grupo muito vulnerável à covid-19. Estamos com vários pacientes em todas as clínicas com suspeitas, confirmados e internados. Não sei precisar os números ainda. Nos preocupamos com a retaguarda de leitos e enfrentamos muitas dificuldades de internar esses pacientes. É um paciente que agrava rápido pelas morbidades e precisa de prioridade", destaca.    

Ela cita outros problemas, como a dificuldade de acesso ao antibiótico de combate à covid-19. "O medicamento praticamente sumiu das farmácias e prejudica os pacientes renais e toda a população. E, assim , a doença vai se agravando. Além disso, a falta de EPIs aos profissionais de saúde e a ausência de muitos deles nos espaços de saúde, porque eles também estão adoecendo", afirma Soares.

85% dos pacientes renais são também cardíacos e diabéticos

Diante da pandemia, Eduardo Daher, presidente da Associação dos Centros de Nefrologia do Estado do Pará (Paranefro), destaca que todos estão tensos, uma vez que 85% dos pacientes renais são também cardíacos e diabéticos, e são diversos os problemas ocasionados pela situação do vírus. "Eles são ainda mais fragilizados à covid-19 e ainda não sabemos com o que estamos lidando. Enfrentamos dificuldades com os preços elevados dos insumos. Pior que isso é a falta de insumos e de EPIs no mundo e somos atingidos pela indisponibilidade dos materiais também". 

Outro problema é que os colaboradores da saúde das clínicas estão com sintomas e têm que ser afastados do atendimento nas clínicas. "Com a falta de profissionais, está um pouco mais demorado, mas estamos atendendo. Há a falta de testes pro novo vírus e o mais barato custa R$ 300,00", afirma o presidente da  Paranefro,  que conta com 13 clínicas associadas no Pará, das quais 11 atendem também pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Para ajudar a diminuir tantos problemas e evitar a propagação do novo coronavírus nas clínicas, Daher explica que algumas medidas foram tomadas. "Apesar de ser difícil, porém, necessário, não permitimos a permanência de acompanhante do paciente enquanto este está em hemodiálise. Pode vir deixá-lo e depois apanhá-lo. Buscamos manter o distanciamento social nas clinicas, contratamos costureiras e, este mês, já produziram 7,4 mil máscaras caseiras e estamos distribuindo aos pacientes e acompanhantes, não permitimos a entrada sem máscara. São ações muito necessárias e, para nos ajudar a melhorar esse quadro, pedimos que eles procurem se proteger com todos os outros cuidados, como o isolamento social", enfatiza o presidente da Paranefro.  

Cuidados 

Além de todos os cuidados triviais que os pacientes e familiares de renais crônicos precisam ter, a Belina Soares, diretora e fundadora da ARCT-PA, reitera que sigam as orientações dadas pelas clínicas, como evitar ir mais que um acompanhantes junto ao paciente para as clínicas, a fim de diminuir as aglomerações; evitar apanhar transporte público e/ou vans lotados e os que não estejam higienizados nem abertos. Além de manter o distanciamento social, de um metro e meio; ficar em isolamento social, na medida do possível,  e o uso de máscara caseira constantemente tento pelo paciente como acompanhante. 

Campanha 

Para ajudar a garantir com que os pacientes renais e transplantados e seus acompanhantes usem sempre máscaras, a Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Estado do Pará lançou uma campanha para arrecadar recursos financeiros que possibilitem a aquisição de máscaras e álcool em gel para proteção individual dos pacientes renais crônicos e transplantados que constituem grupo de risco dos mais vulneráveis à covid-19. Mais informações pelo telefone/WhatsApp: 91 - 98180 7060. Ou acesse.

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