MENU

BUSCA

Nice Krõwatj: ‘Os indígenas não estão dormindo. Fazem plantão com medo do que pode acontecer'

Leia o relato na íntegra de Nice Krõwatj, indígena que tem familiares morando em regiões ameaçadas

Tainá Cavalcante

Seus pés estão em Belém, mas sua história e raízes são afastadas da capital paraense. Nice Krõwatj é indígena e afirma que todos os povos, mesmo àqueles que não estão próximos das regiões de queimadas, já não dormem mais. O medo, em virtude de ameaças que chegam a todo instante, faz com que eles façam vigília nos territórios.

"Muitos parentes estão me ligando, acham que o fogo vai chegar lá. Está tendo uma ameaça real de fazendeiros. Eles dizem que vão tacar fogo. A preocupação é grande, porque o povo indígena é atingido de uma forma que nos deixa tristes. O meu pai está mal com tudo isso, meu irmão até precisou ir para lá cuidar dele. Eles estão ficando doentes de corpo, alma, espírito, porque é um golpe muito grande ver a floresta ardendo, pegando fogo" lamenta.

Segundo Krõwatj, os indígenas não conseguem compreender a falta de atitude diante da situação. "É uma coisa que abala a todos. Falei com a Tuíra Kayapó [liderança indígena] pelo telefone e ela chorou muito, pergunta o motivo de não estarem fazendo nada, o motivo de não apagarem o fogo e a gente fica sem saber o que dizer" relata, acrescentando que "muitos indígenas estão se sentindo assim, sem rumo, sem saber o que fazer, para onde apelar".

Os familiares de Nice são da região do Baixo Tocantins, mas, segundo ela, uma extensa área está sendo ameaçada. "Os de Novo Repartimento, da área de Santarém, todos estão recebendo ameaças. Eles têm medo de acordar e estar tudo pegando fogo. As aldeias Kayapó, por exemplo, que ficam na área de Redenção, que é a terra indígena Las casas, tem um terreno muito propício a pegar fogo, porque foi uma terra recuperada pelos povos em 2011 e lá tinha muito pasto, estão se pegar fogo ali, vai pegar em tudo" comenta, ao explicar que, em virtude do medo latente, "eles não têm dormido lá. Estão fazendo plantão, ficam olhando o território com medo do que pode acontecer".

Em virtude da alarmante situação, protestos estão sendo organizados em todo o país para este sábado (24). Em Belém, o ato será na Praça da República, a partir das 8h.

Pará