MENU

BUSCA

Óleo de cozinha usado é transformado em sabão para preservar meio ambiente no Marajó

Projeto do município de São Sebastião da Boa Vista conseguiu prevenir descarte de óleo, conscientizar ambientalmente e gerar renda para comunidade

Vito Gemaque

Uma iniciativa simples, de baixo orçamento e com impactos imensuráveis no município de São Sebastião da Boa Vista, no arquipélago do Marajó, demonstra como ações bem executadas para o meio ambiente podem resolver diversos problemas de maneira conjunta. A partir do projeto Sabão Ecológico, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de São Sebastião, o óleo de cozinha utilizado por ambulantes, lanchonetes e restaurantes não é mais jogado na natureza, mas reutilizado para se transformar em sabão em barra ou líquido, utilizado pela população.

Criado há cinco meses, o projeto tem gerado resultados visíveis, como a limpeza de uma praia do município, a reciclagem de 200 litros de óleo por semana, a conscientização ambiental da população e a geração de renda para mulheres de diferentes comunidades. Os sabões podem ser utilizados para lavar roupas e louças.

Origem do problema

De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Marcos Andrade, o projeto surgiu após o órgão municipal perceber que a praia às margens da cidade estava ficando suja de óleo, impedindo o banho e o lazer da população. Ao investigar a origem do problema, a secretaria identificou que o óleo vinha dos ambulantes e comerciantes, que descartavam o resíduo diretamente nos ralos dos estabelecimentos ou na natureza.

VEJA MAIS

Materiais alternativos têm potencial de lucro e novos negócios
Pesquisas aplicadas no dia a dia dão retorno econômico, como o sabão artesanal feito a partir do óleo de cozinha

Em Salinas, restaurante na praia reaproveita óleo de cozinha para produzir sabão
Empreendedores cuidam do meio ambiente e, consequentemente, do lazer sustentável dos banhistas

"O pessoal que vende batata frita, coxinha e pastel estava descartando o óleo no rio. Isso estava prejudicando todo mundo, porque tem uma praia na frente da cidade que estava ficando só óleo. As crianças não podiam mais brincar ou tomar banho na praia. A gente fez um trabalho nisso, juntei com o pessoal da secretaria responsável pela gestão ambiental. Decidimos fazer um sabão ecológico com óleo reutilizado. O sabão é distribuído para a comunidade. Lançamos esse desafio para a comunidade: quem entregasse o óleo, nós entregaríamos o sabão já feito", explica Andrade.

A adesão da comunidade

O procedimento deu muito certo. Atualmente, quem antes descartava o óleo sem nenhum tratamento na natureza agora chama a prefeitura para recolher o material e depois recebe o sabão. A secretaria já cadastrou 25 comerciantes e ambulantes parceiros do projeto Sabão Ecológico.

O projeto se popularizou para além dos comerciantes. A população de São Sebastião da Boa Vista começou a se interessar em aprender a produzir o sabão. Escolas e comunidades procuraram a secretaria para entender o processo de fabricação. Já foram realizados cinco minicursos para estudantes da rede pública e mulheres de comunidades do município. Outros sete pedidos aguardam agendamento da Secretaria de Meio Ambiente.

"Nossa avaliação é de muito sucesso. Quando resolvemos fazer, não sabíamos como ia abranger o município, nem se teria aquele impacto. Hoje, todo mundo está ligando para doar o óleo. Antes nós armazenávamos em garrafas de dois litros, agora a proporção aumentou tanto que tivemos que comprar um tonel para armazenar o óleo. Aqui em São Sebastião da Boa Vista, o pessoal não joga mais óleo no rio", comemora Andrade.

Geração de renda e autonomia

Em parceria com a Secretaria de Assistência Social, algumas integrantes do grupo de mulheres As Marias aprenderam a produzir o sabão e já começaram a comercializá-lo em suas comunidades. A prefeitura também realizou uma oficina de embalagem para que os sabões fossem bem apresentados e utilizassem material natural. Agora, os kits de sabão são entregues com uma embalagem feita de mitiri — material natural conhecido na Amazônia.

A disseminação da fabricação permitiu também que comunidades mais afastadas produzissem seu próprio sabão, evitando gastar dinheiro para se locomover até um comércio. O objetivo agora é conseguir parcerias com outros municípios para que a ação chegue a outras populações.

"Estou tentando passar esse projeto para outras cidades do Marajó. As pessoas acham que jogando óleo no rio ele some, mas não é assim. Se Deus quiser, vamos conseguir levar para outras cidades", espera Andrade.

Pará