Ofertas de empréstimos espalhadas por Belém podem ser 'boi de piranha'
Nos últimos meses, banners se espalharam pelas ruas mais movimentadas da capital com ofertas de empréstimo rápido, fácil e com juros 'baixos'
Nos últimos meses, eles se espalharam pelas ruas mais movimentadas de Belém. Banners com ofertas de empréstimo rápido, fácil e com juros baixos, com um número de telefone estampado. A maior parte dos anúncios oferece empréstimos de mil reais para pagamento em 12 vezes de R$ 112,80, convite quase irrecusável para milhares de paraenses que estão no vermelho. No entanto, nem tudo que parece pode ser vantajoso.
Em contato com uma das empresas que ofertam esse tipo de empréstimo, a redação do Grupo Liberal apurou que o empréstimo é realizado da seguinte forma: o interessado precisa ter um cartão de crédito com limite suficiente para efetuar o pagamento da totalidade e mais os juros. Se uma pessoa pedir mil reais emprestados, precisa ter pelo menos R$ 1.354 de limite disponível.
A estratégia para obter dinheiro à vista a partir de um cartão de crédito é bastante utilizada por comerciantes e empresários em busca de fluxo de caixa, mas agora parece ter se espalhado para a população em geral
Taxa de juros e descontada
“Alguns empresários quando estão sem dinheiro fazem isso, é uma prática conhecida. Eles passam o cartão parcelado de 12 vezes, recebem o dinheiro na hora, descontando a taxa de juros. O que deve estar acontecendo é isso. A empresa do cartão envia tudo de uma vez e cobra uma taxa de antecipação que gira em torno de 11% a 12%. Se você passar, por exemplo, mil reais, vai receber em torno de R$ 800”, diz Valfredo de Farias, economista e sócio da Ebex Consultoria.
O Banco Central informou que, em geral, “atividades de intermediação financeira (concessão de empréstimos, por exemplo) devem ser feitas por meio do Sistema Financeiro Nacional, com autorização da entidade competente, conforme o caso”. “Se uma atividade não apresenta CNPJ, ela não tem como obter autorização alguma do Banco Central”, ressaltou a insituição.
A reportagem do Grupo Liberal entrou em contato com uma das empresas que oferecem esse tipo de crédito. Por telefone, um funcionário informou que o interessado deve agendar um dia para ir pessoalmente encontrar um representante da empresa. No encontro, que geralmente é marcado em um dos shoppings da capital, o cliente dá o seu cartão, o funcionário passa a quantia requerida na transação e faz o Pix em seguida para o cliente. Questionada sobre a existência de um CNPJ, a funcionária que atendeu a ligação desligou a chamada.
“Isso provavelmente é o chamado ‘boi de piranha’, quando fazem uma promoção muito barata para levar o cliente para loja, e quando ele chega constata que não é isso, é outra coisa. Ninguém é tão bom para usar só a taxa do cartão, estão ganhando algo antes da contratação ou então devem oferecer outra coisa além do que dizem no cartaz”, opina Valfredo.